Com foco em museus, encontro discute políticas para divulgar ciência

Com participação de convidados do Brasil e do exterior, seminário promovido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária debateu políticas de difusão da ciência.

Em 2006, 4% dos brasileiros frequentavam museus de ciência e tecnologia, porcentual que chegou, no ano passado, a 12%. Cresceu também o número de instituições desse tipo no Brasil: o País conta hoje com 268 centros e museus de ciência, de acordo com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “O brasileiro tem uma relação muito positiva com ciência e tecnologia. E a gente tem que aproveitar isso”, avalia Douglas Falcão, diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCTI.

Nesse contexto, proporcionar um espaço para a troca de experiências entre profissionais de variados perfis sobre a concepção e gestão de centros e museus de ciência foi um dos objetivos do evento Ciência à Vista – 1º Seminário Internacional de Políticas Universitárias de Difusão Científica. Promovido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, o encontro reuniu cerca de 150 especialistas e pesquisadores das áreas de educação em museus e divulgação científica nos dias 10 e 11 de julho, no Parque de Ciência e Tecnologia da USP (Parque Cientec).

Para a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, “este encontro é fundamental para dar maior densidade às ações da Universidade no campo da difusão científica e da educação em ciências, em especial no momento em que estão sendo reformulados os espaços de promoção da cultura científica no âmbito da Universidade de São Paulo, como a Estação Ciência, o Parque Cientec e o Museu de Ciências”.

“Esse evento foi concebido para auxiliar na organização das funções, vocações e complementaridades de cada um desses três espaços”, explica o coordenador-geral do evento, João Marcos de Almeida Lopes, pró-reitor adjunto de Cultura e vice-diretor da Estação Ciência.

Espaços e vocações

O evento no Parque Cientec: mais de 150 participantes   Foto: Verônica Cristo
O evento no Parque Cientec: mais de 150 participantes
Foto: Verônica Cristo

“O museu é um lugar, a meu ver, particularmente poderoso, não só porque é um espaço de transmissão de conhecimento e aprendizado, mas, antes de tudo, porque é um catalisador de cidadania científica”, defende Yurij Castelfranchi, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A missão da divulgação das ciências está no DNA dessas instituições”, atesta Falcão, do MCTI.

Os espaços de difusão científica têm passado por profundas transformações nas últimas décadas. “Espaços de reflexão e convivência por excelência, os museus se abrem agora aos mais variados e inusitados temas”, disse o arquiteto Marcelo Ferraz, do escritório Brasil Arquitetura, responsável por projetos de mais de 20 museus e centros culturais em todo o País. “Os museus de ciências deixaram de ser lugares de exibição de exposições para se tornarem espaços de engajamento dos seus visitantes”, analisa Jo Quinton-Tulloch, diretora do National Media Museum, localizado em Bradford, na Inglaterra.

Como transformar a ciência em algo atraente, especialmente para as novas gerações, foi um tema presente em vários momentos da programação. “Preferimos ser um lugar onde dois jovens de 17 anos têm o seu primeiro encontro do que ter vários grupos de alunos sendo arrastados pelos seus professores”, declara Sarah Durcan, diretora da Science Gallery, com sede em Dublin, na Irlanda. Para a coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Não Formal e Divulgação da Ciência (Geenf) da USP, Martha Marandino, essa concepção dos museus vai além dos espaços e exposições, pois deve necessariamente passar pelo papel dos educadores. “A meu ver, dar vez e voz aos educadores é dar vez e voz ao público”, disse. Segundo a pesquisadora, “é importante que os setores educativos tenham um papel relevante nas instituições. E nem sempre isso acontece”.

Um dos desafios dos museus de ciências é explicar conceitos e teorias científicas que não podem ser observados diretamente. Para isso, Jorge Wagensberg, professor de Física da Universidade de Barcelona, na Espanha, defende o uso de analogias e metáforas. “Em uma exposição, para demonstrar a diversidade na floresta tropical, fizemos a seguinte comparação: a diversidade é tão grande que, para cada time de futebol do mundo, você pode encontrar uma borboleta com as mesmas cores desse time”, explica. Museólogo, Wagensberg esteve por 12 anos à frente do Museo de la Ciencia – CosmoCaixa, localizado em Barcelona.

Ernest Hamburger: homenagem ao professor emocionou o público presente  Foto: Verônica Cristo
Ernest Hamburger: homenagem ao professor emocionou o público presente
Foto: Verônica Cristo

Francisco Luna, presidente do conselho do Museu do Futebol e do Museu da Língua Portuguesa, ressaltou os desafios para o financiamento e gestão dos museus no Brasil. Para ele, o modelo das organizações sociais, muito usado atualmente, confere mais flexibilidade, mas não garante a vinda de recursos. Luna observa que hoje em dia os museus ainda dependem, em grande parte, do aporte de dinheiro público e é necessário saber identificar os possíveis parceiros do setor privado para conseguir complementar esses recursos.

Diante do interesse que o seminário despertou, o coordenador do evento planeja desdobramentos, como a disponibilização de todo o conteúdo por meio de gravação em vídeo e a edição de uma publicação sobre o tema. “Tivemos uma procura muito superior às vagas oferecidas. No entanto, em breve todos poderão ter acesso às palestras e discussões no site da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.”

Ao final do evento, o professor titular do Instituto de Física da USP Ernst Hamburger foi surpreendido com uma homenagem. Um dos pioneiros da divulgação científica no Brasil, Hamburger foi diretor da Estação Ciência entre 1994 e 2003. “Toda a referência que eu tenho hoje de centros e museus de ciência, todo o trabalho de divulgação científica e, principalmente, de popularização da ciência, foi esse homem que me ensinou”, disse a educadora Cecília Toloza, que atuou na Estação Ciência por 15 anos.

Michel Sitnik e Verônica Cristo / Especial para o Jornal da USP

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