Inquieto e livre pensar: título de Emérito a Teixeira Coelho celebra carreira dedicada à cultura

Encontro homenageou trajetória de Teixeira Coelho, que recebe título de professor emérito da ECA.

Encontro homenageou trajetória de Teixeira Coelho, que recebe título de Professor Emérito da ECA

O extenso trabalho intelectual, especialmente na área de política cultural, do professor José Teixeira Coelho Netto, foi o tema central de um encontro que reuniu, no dia 23 de setembro, colegas e pesquisadores influenciados pela obra do professor titular do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

A cerimônia inaugura na unidade um novo formato para a concessão do título de Professor Emérito: não apenas uma entrega formal, mas uma reflexão e resgate de suas contribuições mais importantes, que levaram ao recebimento da honraria. “A professora Margarida Kunsch nos lançou este desafio, que fizéssemos uma homenagem à altura do homenageado e de sua vasta obra, um evento que tivesse um caráter de discussão acadêmica”, explica a professora Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira, que além de colega de Departamento e coordenadora do evento, também foi orientanda do professor na pós-graduação.

Teixeira Coelho iniciou em 1973 sua carreira na ECA e é reconhecido internacionalmente por sua atuação, não apenas acadêmica, mas na gestão no campo das artes, comunicação, cultura e leitura. “Este é um momento muito especial, pois faltava ainda essa manifestação institucional, o reconhecimento da Universidade pelo grande trabalho realizado em prol das políticas públicas culturais”, afirmou a professora Kunsch.

A docente da ECA compôs a mesa de abertura ao lado do vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, e dos professores Eduardo Monteiro, vice-diretor da ECA, e Luiz Augusto Milanesi, chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA. Milanesi destacou que esse é o primeiro professor titulado emérito pelo Departamento e que a decisão, mesmo envolvendo um conselho tão diverso, foi simples. “Tínhamos certeza do que estávamos fazendo, foi inquestionável”.

Intelectual completo

Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP
Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP

Reunidos na antiga Sala do Conselho Universitário da USP, o encontro que antecedeu a sessão solene de titulação do agora Professor Emérito deu ênfase à pluralidade de seu trabalho. “Ele produziu livros e artigos especializados, mas também participou debates na imprensa. Não foi um acadêmico de escritório, mas atuou na gestão cultural de forma direta”, contou Gerardo Caetano, professor Universidad de la República e um dos mais importantes historiadores do Uruguai.

Teixeira Coelho atuou como curador-coordenador do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, além de curador de exposições nas duas instituições. Atualmente é curador da Bienal de Curitiba, colaborador da Cátedra Unesco de Política Cultural da Universidad de Girona, na Espanha, e consultor do Observatório de Política Cultural do Instituto Itaú Cultural.

“Ele é um intelectual que assume a gestão cultural. A maioria desenvolve as ideias e as críticas, mas não enfrenta a realidade brasileira, que necessita de intelectuais públicos que assumam o papel de liderança que ele assumiu em várias ocasiões”, enfatizou Martin Grossmann, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que apoiou a realização do evento.

Na USP, Teixeira Coelho encarou o desafio de mostrar que políticas culturais poderiam ser uma disciplina científica. E um dos recursos que encontrou para responder a essa questão foi a constituição de um léxico, que resultou no Dicionário Crítico de Política Cultural – Cultura e Imaginário, uma de suas obras mais lembradas, e que se tornou referência na área, apresentando e discutindo globalização, gosto, diversidade cultural, entre outros temas fundamentais para compreender a política cultural hoje.

Provocador

Teixeira Coelho acompanhou o evento não como plateia, mas ao lado de seus colegas, comentando e complementando as falas dos convidados. Lembrou que já esteve nos vários “degraus” da vida acadêmica, passando por diversas bancas, mas que essa, como diferencial, não envolvia ter que se defender de “ataques”, brincou.

Sobre seu trabalho na USP, lembrou que a demanda por formar pessoas que fizessem a mediação entre arte e público veio da própria sociedade. “Nossa decisão de começar esses estudos aqui nem foi tão autônoma, pois era uma coisa que nos cobravam”, afirmou. Segundo o professor, cabia à Universidade capacitar pessoas que preparassem o público para desfrutar arte. E complementou: “para o desenvolvimento de um país não basta dispor de condições materiais e estruturais, é preciso, além disso, de condições culturais. A cultura é central e a economia gira ao redor dela, não o contrário”.

Em sua fala, Coelho aceitou a alcunha de provocador, e afirmou que tudo começou com um antigo livro seu, O Intelectual Brasileiro: Dogmatismos e Outras Confusões, em que explica sua crença de que o papel do intelectual é dizer não. “É uma questão de princípios. Nosso papel é ser multiplicador de nãos”. O historiador Gerardo Caetano conta que nas conversas com Teixeira, o professor sempre provoca os colegas não apenas a terem ideias novas, mas a abandonarem as antigas. “Ele é um crítico por definição, um intelectual genuíno, que faz perguntas incômodas”.

Scroll to top