Time Brasil-USP leva medalha de ouro em competição de biotecnologia

O grupo desenvolveu um microorganismo geneticamente modificado para degradação de borracha de pneus.

O time Brasil-USP, formado por alunos de graduação e pós-graduação do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, conquistou medalha de ouro no International Genetically Engineered Machine (iGEM 2015), uma competição internacional que aconteceu entre os dias 24 e 28 de setembro, em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos.

Foto: Divulgação/IFSC
Foto: Divulgação/IFSC

A disputa, que neste ano reuniu aproximadamente 260 times de universidades de todos os continentes, tem como objetivo estimular o desenvolvimento de pesquisas em biologia sintética: área que tem grande potencial no Brasil e que consiste na aplicação de conhecimentos de biotecnologia e engenharia.

Como projeto para participar da competição, o time da USP trabalhou no desenvolvimento de um microrganismo geneticamente modificado para a degradação da borracha de pneus. O objetivo é reduzir o tempo de degradação – que naturalmente leva de 500 a 1000 anos – e trazer novas finalidades sustentáveis para esse material descartado, a partir dos produtos da degradação gerados dentro de biorreatores contendo os microrganismos.

A quantidade atual de descarte desse tipo de borracha já supera a capacidade de reciclagem, reutilização e até mesmo de armazenamento apropriado de pneus, propiciando, inclusive, o crescimento de mosquitos vetores que disseminam doenças (dengue, malária, entre outras).

Neste estudo, os jovens pesquisadores uniram duas enzimas (Rubber oxygenase – RoxA e Latex clearing protein – Lcp) capazes de degradar a borracha. Agora os estudantes buscam expressá-las, inicialmente, em Escherichia coli e então otimizar o processo para larga escala. A partir desse processo será possível obter produtos, como ODTD, que podem ser utilizados na obtenção de combustível para aviação.

De acordo com Laís Ribovski, estudante de doutorado do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (GNano) do IFSC e membro do citado time, essa molécula ainda é pouco conhecida e difícil de ser obtida comercialmente. “Entramos em contato com alguns professores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, em especial com o professor Antonio Burtoloso, e foi a partir daí que decidimos trabalhar com essa molécula, com o intuito de utilizá-la na obtenção de combustível”, explica ela.

Empreendedorismo

Embora essa pesquisa tenha se iniciado com a participação do time na competição internacional, os pesquisadores querem continuar esse trabalho visando a aplicação em larga escala. Através de pesquisas de campo, eles identificaram o potencial de mercado e agora estudam a possibilidade de empreender com uma startup de base tecnológica.

Após ter sido contatado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), o time comparou a metodologia da pesquisa em questão com os métodos utilizados atualmente na degradação dos pneus: “Hoje, a queima é a forma mais utilizada para dar fim aos pneus. Então apresentamos o nosso projeto à ANIP que, desde então, mostrou interesse na nossa técnica”, afirma Camila Bramorski, graduanda do IFSC que também integra o time brasileiro.

Mesmo objetivando o setor de empreendedorismo, parte dos membros do time que ainda estão na graduação pretende dar continuidade à vida acadêmica. “Para nós, que estamos na graduação, a pós-graduação é um passo importante, mesmo que optemos pela área industrial”, diz Paula Lins, graduanda do IFSC que também faz parte do time uspiano.

Medalha de ouro

Após meses de estudo e trabalho árduo dentro e fora do laboratório, foi com sentimento de dever cumprido que o time da USP, ao lado de alguns outros grupos, recebeu a medalha de ouro no iGEM 2015.

Conquistar essa medalha não foi uma tarefa fácil. Para Laís Ribovski, por exemplo, o tempo foi um dos principais obstáculos para os pesquisadores, já que tiveram poucos meses para desenvolver o estudo, cujo alto nível de dificuldade é notável. “Tivemos muito pouco tempo para não apenas planejar mas também executar vários experimentos, incluindo estudos de degradação que são processos lentos”, afirma a pesquisadora.

Laís diz que um dos principais objetivos do time é mostrar, em especial aos alunos da Universidade, que o Brasil tem o know-how necessário para desenvolver trabalhos de alta qualidade na área de biologia sintética, bem como para participar de competições internacionais, tal como o iGEM.

Por isso, os estudantes de graduação e pós-graduação da USP que tiverem interesse em fazer parte do time Brasil-USP, podem entrar em contato com o grupo, através da página do time no Facebook. Confira também o site da equipe, que, além do IFSC, conta com o apoio dos seguintes grupos de pesquisa e instituições: Braskem, Life Technologies, Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), SBAC Advogados, Agência USP de Inovação, Pró- Reitoria de Graduação da USP, Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, Genau Idiomas, BMA Ambiental, New England Biolabs (NEB), Exxtend, Metrohm, Biomol, Integrated DNA Technologies (IDT), Mathworks, Grupo de Biofísica Molecular “Sérgio Mascarenhas” (IFSC), Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (IFSC), Laboratório de Cristalografia de Proteínas e Biologia Estrutural (IFSC) e Laboratório de Química Medicinal e Computacional (IFSC).

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