Comecei no IF-USP em março de 1974, em turno completo, dando aulas na Poli, em contato direto com o então diretor prof. José Goldemberg, no antigo Departamento de Física Geral e Experimental (FGExp). Recebia por verba Finep e verifiquei agora no RH-USP que eu só existo lá depois de contratada em período integral! Como contar então minha história de 50 anos no IF-USP? Difícil fazer isso em 1000 palavras, opto por escolher o que faz sentido para mim e espero que também para os leitores.
Em janeiro de 1974, pedi demissão do Instituto de Energia Atômica (Reator, atual IPEN), onde estava desde minha iniciação científica em Física Nuclear de Terras Raras, com bolsa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no meu último ano na Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (FFCL-USP – Maria Antonia, atual FFLCH), onde ingressei em 1959, com 17 anos, e me formei Bacharel e Licenciada em 1962.
Fui contratada no Reator logo após a colação de grau, para dar continuidade ao projeto com terras raras, e enviada a seguir para estágio no Royal Institute of Technology em Stockholm (abril 64 / julho 65) participando de pesquisa em líquidos hidrogenados de interesse para Física de Reatores. De volta ao Reator, fiz Mestrado na Poli, defendido em junho de 1969, na área de Ciencia e Tecnologia Nuclear (depois integrada ao IPEN).
A Reforma Universitária mudou do sistema europeu para o sistema americano, em paralelo com meu casamento, em 1968, ano em que meu chefe no Reator, prof. Marcello Damy de Souza Santos, se aposentou da USP e foi iniciar a Física da Unicamp. Mudei a orientação formal (sem tema) dele para o prof. José Goldemberg, que tinha sido professor na Física, mas que estava como Titular na Poli e ia uma vez por semana no Reator. Defini então meu projeto de doutorado, em físico-química molecular, com estudo das transições de fase de um cristal plástico orgânico, usando a metodologia sueca de analise do espalhamento quase-elástico, mas adicionando uma nova abordagem do espalhamento inelástico, envolvendo mecânica quântica de rotações moleculares.
Assisti à distancia a formação do IF-USP no inicio de 1970, Goldemberg tornou-se seu primeiro diretor, e como tal definiu minha banca de doutorado, em novembro de 1972, eu grávida, e minha filha Karin nasceu em dezembro, 5 dias depois da defesa de tese no IF-USP. Ao longo de 1973, conscientizei a impossibilidade de conciliar o horário rígido do Reator com maternidade, optei por abandonar a estabilidade profissional contratual, priorizando minha vida pessoal.
Goldemberg soube que eu tinha me demitido do Reator, sem definição de futuro, incumbiu Cecilia Pimentel, sua assistente, vinda com ele da Poli, a me convidar para ir para o IF-USP e começarmos juntas um novo projeto. Eu conhecia Cecilia pessoalmente, ela fazia doutorado com o prof. Caticha Ellis, que tinha ido embora do Reator para Unicamp junto com Damy. Como especialista em nêutrons, ajudei Cecilia que irradiava cristais com nêutrons do Reator. Ela pretendia iniciar um Laboratório de Cristalografia, usando Raios X, em continuidade ao seu doutorado.
Aceitei o convite, desde que fosse compatível com minha vida pessoal, em Turno Completo, dando aulas na Poli (onde Cecilia tinha experiencia e eu não) em março de 1974. Goldemberg me disse: “invente um projeto de pesquisa para você”. Comecei a ir no Instituto de Química da USP, lá assisti um seminário dado por um professor visitante do Canadá, prof. Leonard W. Reeves, que trabalhava com Cristais Líquidos Liotrópicos, misturas complexas de água / detergente / aditivos. Percebi que havia potencial para um projeto de pesquisa inovador em Cristais Líquidos Liotrópicos e Membranas Biológicas, sob minha responsabilidade. O projeto foi entregue ao prof. Goldemberg em agosto de 1974, e assim iniciei meus 50 anos de IF-USP.
“Pesquisa Em Áreas Interdisciplinares: Pontes entre Ciências da Natureza e Humanidades”. Esse foi o título de meu projeto de pesquisa como professor senior, nos biênios 2020/2022 e 2022/2024, no Departamento de Física Aplicada (FAP) do Instituto de Física da USP.
A melhor forma de acessar minha contribuição oficial é no site do IF-USP. Nesse site, existem três links: CV Lattes (publicações e orientações até 2016), ORCID (atualizada) e web page da FAP, com muita informação, inclusive links para minha pagina pessoal com trabalhos sobre Evolução Humana (que iniciei em 1975) e para o que consta na Research Gate. Tive varias áreas de pesquisa, inicialmente em Reatores Nucleares, usando nêutrons em estudos de Física Nuclear, Líquidos Hidrogenados e Cristais Plásticos, depois raios-X e outras técnicas, no estudo de Cristais Líquidos, Sistemas Amorfos, Sistemas Micelares e Membranas Biomiméticas. Tive bolsa de pesquisa CNPq nível I de 1/1980 a 10/2003.
Participação em eventos, atividades didáticas e institucionais, constaram dos memoriais que fiz na evolução da carreira no IF-USP: concurso de efetivação em 1976, Livre Docente em 1982, Adjunto em 1985 e Titular em 1991 (primeira mulher no IF-USP). Presidente da Sociedade Brasileira de Cristalografia em 91/93, após criação do Laboratório de Cristalografia (LCr), proposta em projeto de 1974.
Aposentadoria voluntaria em 1995, após criação da FAP em 1993, permanecendo como professor senior. No site da FAP, constam meu histórico do LCr, texto conjunto do prof. Ivan Nascimento e meu sobre a criação da FAP, e workshop em minha homenagem em outubro 2011. Consto também individualmente no site Memórias do IF-USP. Pesquisas multidisciplinares foram estendidas a partir de 2005 em projetos de ensino e extensão e também História da Ciência, de interesse para nosso País.
Ressalto livro publicado em 2013, resultado de projeto de cursos de Atualização para Professores que elaborei em 2005, detalhado neste site. Capítulos de minha autoria desse livro são acessíveis em pdf na web page da FAP, já mencionada acima. Ressalto também artigo publicado a convite do editor do Jornal da USP em 2017, sobre o processo de validação do conhecimento científico, a partir do qual eu tomei a decisão de começar a participar ativamente de eventos no Instituto de Estudos Avançados da USP, onde existo em vários em grupos de pesquisa diferentes: