Nascida em Santa Cruz de La Sierra, 22/01/1951, finalizou o colégio primário e secundário, em 12 anos. Em 1968, viu no jornal da cidade, a convocatória para estudantes bolivianos que desejavam estudar no Brasil, soube dos requisitos necessários para poder estudar no Brasil, desejava estudar Medicina em uma cidade grande, tinha conhecimento que a cidade de São Paulo tinha as melhores faculdades de Medicina do Brasil. Dias depois, recebeu um telegrama do consulado brasileiro para se apresentar no Rio de Janeiro, no Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, haviam estudantes da Bolívia, de vários países da América do Sul, em diversas áreas: economia, administração, engenharia, lhe comunicaram que estava destinada a estudar na USP de São Paulo.
Após a reunião com o diretor do Itamaraty, ele fez uma recomendação a todos os estudantes: não participem de política. Quanto à língua portuguesa, eu tinha conhecimento do português, por já ter morado um tempo em uma cidade fronteira com o Brasil e lia livros e revistas semanais em português.
Início das aulas na USP, instalei-me em uma pensão próxima à Faculdade de Medicina da USP, junto com a colega paraguaia Estela Maris Diez Peres, também do intercâmbio internacional, Brasil-Paraguai. Iniciada as aulas, já nos primeiros dias, tive a grande surpresa de quatro colegas de turmas de vários anos à frente me cederam seus livros, dois dos colegas eram da minha terra, Santa Cruz de La Sierra, estavam na residência médica, Anestesiologia e o esposo Otorrinolaringologia, os outros dois colegas eram uma turma posterior à minha. Quando terminei o ano, devolvi os livros a eles.
Sou muito grata a eles, nobre coração, jamais os esquecerei, também estou selecionando livros para doar quem precise. Em setembro de 1968, recebi o comunicado de ter conseguido a vaga, junto com a colega paraguaia, e duas paulistas no Crusp, a alegria durou poucos meses, pois, em 17 de dezembro de 1968, ocorreu a invasão ao Crusp. Um dia que não esquecerei, foi traumático, pior ainda, eu estava em época de provas, acordamos de madrugada com o barulho dos tanques, tropas do Exército e agentes da força pública invadiram o Crusp e também o barulho dos cavalos.
Nesse dia, o refeitório não abriu, depois de muitas horas, nos levaram à zona norte, nos ônibus da CMTC, soube depois se tratar do presidio Tiradentes, onde permanecemos até a noite com sede e fome. Por volta das 8 da noite, nos levaram ao Crusp, preocupada estava porque não tinha outro lugar para eu dormir, quando entramos ao apartamento o susto e o desgosto foi grande, os quatro colchões estavam rasgados em toda sua extensão. Após a invasão ao Crusp, resolvemos sair de lá e procurar uma pensão para morar, mas achamos um apartamento e o alugamos entre qutro colegas.
No tempo que morava no Crusp, fui procurada por um diretor do SBPC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com a proposta de fazer a versão de livros editados em português e fazer a versão em espanhol, aceitei e foi bom, pois representava uma ajuda econômica para mim, eram livros para países de fala espanhola. No mesmo período, dei aulas de espanhol para a filha de sete anos do cônsul da Iugoslávia. Foi muito bom, mais uma ajuda econômica para mim, a família estava voltando ao seu país de origem e lá era obrigatório o aprendizado do espanhol. Com o que recebi, versões e aulas de espanhol, foi suficiente para pagar o apartamento alugado e os gastos em refeição.
Os anos de estudo na USP foram excelentes, o aprendizado, o abundante material para realizar os estudos, os excelentes professores que tinham prazer em nos ensinar, não só nos primeiros anos, como no internato e posteriormente na residência médica. Quando já tinha sido escolhida especialidade médica a ser seguida, escolhi duas especialidades, Ginecologia e Obstetrícia, meses depois, em um plantão de fim de semana de Obstetrícia em outro município, o anestesista não havia chegado em horário ao plantão, chega uma gestante em trabalho de parto de termo (de 9 meses) completos, mas com quadro de hemorragia uterina por descolamento prematuro de placenta, suspeita de placenta prévia.
O quadro piorava a cada minuto, sem anestesista, e a paciente precisava ser anestesiada e ser submetida a cesárea com urgência, avisei-a obstetras que eu faria a raquianestesia da paciente com sucesso, assim foi possível salvar a mãe e a criança ajudada pela obstetra, os ensinamentos dados pelo anestesista foram assimilados por ter tido um excelente professor, adrenalina a mil. Após o nascimento do recém-nascido e seus cuidados imediatos, a obstetra me auxiliou no fechamento da cesárea, nisso chega o anestesista do plantão.
Acabada a residência médica em duas especialidades, fiz o concurso do Inamps e passei, tive uma ótima classificação. Só tenho a agradecer à Medicina USP por haver dado as fortes bases para exercer a Medicina ao longo da vida.
O meu esposo Fernando Sergio Prado Pereira formou-se em Direito pela USP, chegando a ser desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. A filha mais velha, Tania Fernanda Prado Pereira, estudou Direito pela USP e foi eleita presidente do Sindicatos dos Funcionários Federais. A segunda filha, Paula Fernanda Prado Pereira, estudou na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, atualmente reside na França lecionando Propaganda e Marketing na Universidade de Paris, Sorbonne. Ana Maria Yavari Mendez em solteira, porém no ano de 1978, após o casamento civil, o nome atualizado ficou Ana Maria Prado Pereira.