Grupo da ECA insere a dança teatral em espetáculos cênicos

Grupo desenvolve pesquisa em Tanztheater, estilo de dança alemã que surge na década de 1930 a partir de uma necessidade de se humanizar essa forma de arte.

Meire Kusumoto / Laboratório Agência de Comunicação da ECA

O Laboratório de Pesquisa e Estudos em Tanztheater (LAPETT), do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, procura introduzir a dança teatral, através de pesquisas teóricas e também em espetáculos cênicos. Liderado pela professora Sayonara Pereira, o grupo desenvolve pesquisa em Tanztheater, estilo de dança alemã que surge na década de 1930 a partir de uma necessidade de se humanizar essa forma de arte. “Deixamos de lado a figura do cisne, da pessoa que morria de tanto dançar, e começamos a falar dos nossos sentimentos usando gestos do cotidiano”, explica Sayonara.

De acordo com a professora, a filosofia do Tanztheater alemão tem uma característica interessante: “É algo mais tribal, ensinado de corpo a corpo como se fosse uma família que transmitisse o conhecimento para seus descendentes”. Na ECA, a docente faz dos alunos que participam do LAPETT seus descendentes, passando o que vivenciou e aprendeu após morar 19 anos na Alemanha.

O grupo, criado em março de 2011, busca oferecer ferramentas da dança teatral aos estudantes de Artes Cênicas, “lapidando” características que eles já possuem e ampliando o leque do que eles podem fazer dentro de um espetáculo. No primeiro semestre, o laboratório iniciou sua atuação com atividades de pesquisa, tomando por base vídeos da escola alemã e artigos produzidos por Sayonara, e outros autores. Após o estudo, os alunos praticavam o que tinham observado em exercícios coreográficos coordenados pela professora. Já no segundo semestre, ficou claro para os participantes o desejo de utilizar os experimentos em um espetáculo.

Momento(s) de Silêncio

Para a montagem da peça, a docente pediu que os estudantes trouxessem uma foto de algo importante para eles e uma frase que tivesse marcado suas vidas. “Foi incrível, as pessoas foram contando pequenos ‘tesouros’, abrindo portas e janelas de suas almas. A cada nova história, vivenciamos momentos de silêncio”. O espetáculo, que recebeu esse nome, estreou em dezembro, no Teatro da USP (Tusp), como uma abertura de processo, ou seja, um trabalho ainda em produção, que não está concluído.

Apesar de não ter sido apresentado como um produto pronto, Momento(s) de Silêncio não deve sofrer grandes alterações. De forma poética e emocional, o público recebeu o que estava silenciado em cada um dos atores-dançarinos durante os 38 minutos de duração do espetáculo. A distribuição de solos e coro foi feita de modo a possibilitar o destaque de detalhes específicos e particularidades de cada participante.

Segundo Sayonara, a abertura de processo foi importante por exigir o estabelecimento de metas para o grupo e para liberar a energia contida nos alunos. “Na nossa área, a pesquisa não é feita com pessoas presas em laboratórios, experimentando com produtos e reagentes. Com a dança teatral, o sangue ferve, coisas acontecem dentro daqueles seres humanos”. Para a docente e os integrantes da obra, era o momento certo de entregar o que tinham criado ao público e esperar as reações, ver o que ia tocar e dizer aos espectadores.
Na trilha sonora, eclética, figuraram músicas étnicas, contemporâneas, e também brasileiras. Já na cenografia, a simplicidade de objetos de cena e figurinos destacou os atores-dançarinos, que se apresentaram com vestimentas pretas em um fundo branco.

Próximos passos

A intenção do LAPETT para 2012 é finalizar o espetáculo, que não deve ganhar além de 20 minutos em sua duração. Depois, entrar em circuitos de festivais universitários de dança e teatro, levando as experiências do grupo para o Brasil. “Vamos começar a ‘existir’ pelo país afora, mostrando que o corpo dos atores-dançarinos pode falar muito em peças de dança teatral. Geralmente, o teatro é associado a palavras e nós estamos ali, atuando e dançando”, afirma a professora. “Necessitamos da palavra, mas até que ponto?”.

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