Cana de alta digestibilidade da fibra ajuda dieta bovina, releva pesquisa da FMVZ

Cana-de-açúcar gera aumento de peso em período de inverno.

Valéria Dias / Agência USP de Notícias

A adição de cana-de-açúcar na dieta de bovinos pode ser uma boa alternativa para os produtores alimentarem os animais no inverno. Em estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga, animais que receberam, durante 105 dias, dieta composta por concentrado mais volumoso exclusivo de cana de alta digestibilidade, apresentaram inúmeros benefícios como maior ganho de peso total e diário, e melhor acabamento e rendimento de carcaça.

A pesquisa foi realizada pelo médico veterinário Bruno de Souza Mesquita em sua dissertação de mestrado no Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ, sob a orientação do professor Luis Felipe de Prada e Silva. “Os bovinos precisam ganhar peso durante todo o ano, porém, no inverno, há escassez de pastagens o que atrapalha o desempenho animal. A safra da cana coincide com esse período, o que a torna excelente opção para a manutenção do desempenho animal durante o período seco”, aponta.

O veterinário explica que já existem algumas variedades de cana específicas para a nutrição animal, sendo que a principal delas, a IAC86-2480, foi a utilizada no estudo. “Um dos problemas gerais da cana é a sua baixa digestibilidade da fibra. Ela é digerida de forma mais lenta e fica mais tempo retida no rúmen, ocupando espaços que poderiam ser preenchidos por alimentos mais digestíveis. Isso causa um efeito de enchimento físico no animal e o mesmo tem a sensação de saciedade e acaba comendo menos”, diz.

Os testes foram realizados com 48 bovinos de corte nelores, não castrados, em confinamento. Antes de fornecer a dieta, foram pesquisadas 9 variedades de cana-de-açúcar e realizados testes em laboratório para avaliar as 2 variedades com maior e menor digestibilidade da fibra. As 4 variedades selecionadas foram cultivadas no campus de Pirassununga.
Os animais foram divididos em 4 grupos de 12. No primeiro, receberam dieta com 80% de concentrado mais 20% de cana de alta digestibilidade; no segundo, 60% de concentrado mais 40% de cana de alta digestibilidade; no terceiro, 80% de concentrado mais 20% de cana de baixa digestibilidade; e no quarto grupo, 60% de concentrado mais 40% de cana de baixa digestibilidade. A idade média dos bovinos foi de 20 meses.

Os animais foram avaliados diariamente quanto à análise de consumo (cálculo da diferença entre a quantidade de comida oferecida e a que sobrou no cocho). A cada 14 dias, passaram por pesagem e, ao final do experimento, foram submetidos a ultrassonografia para avaliar a qualidade da carcaça.

Resultados

“Geralmente os frigoríficos pedem um mínimo de 3 milímetros (mm) de gordura de acabamento de carcaça, pois protege durante o processo de resfriamento industrial, evita o escurecimento da carne e perda da maciez, além de ajudar na qualidade futura no preparo de cortes nobres”, diz. Em todos os grupos a camada de gordura ficou acima de 3 mm, sendo de 4,6 mm no grupo alimentado com cana de alta digestibilidade.

Já o rendimento da carcaça, que na média nacional é de 52%, nos grupos alimentados com cana de alta digestibilidade foi de 52,4% e de 51,7% no grupo alimentado com a cana de baixa digestibilidade. Entende-se por carcaça o bovino abatido, sem sangue, cabeça, couro, vísceras e patas. O rendimento da carcaça é a razão entre o peso da carcaça e o peso vivo pré-abate. “Se o animal pesa 500 quilos (kg) antes do abate, e após a retirada desses itens, sua carcaça é pesada e apresenta, por exemplo, 300 kg, então se divide 300 por 500 e temos 0,6 ou 60% de rendimento. Quanto maior esse índice, melhor é o rendimento da carcaça”, explica.

O ganho de peso diário médio ficou em 1,6 kg no grupo de alta digestibilidade, chegando a 1,7 kg no grupo alimentado com 80% de concentrado. “A média nacional geral de animais terminados a pasto fica ente 0,1 kg e 0,3 kg, podendo chegar a valores negativos. Para animais terminados em confinamento é de 1,4 kg por dia.”

Outra vantagem foi quanto a receita obtida com a venda dos bovinos excluindo-se o custo da alimentação. Nos grupos alimentados com cana de alta digestibilidade esse valor foi de R$124,6 reais por animal, atingindo R$133,1 no grupo alimentado com a cana de alta digestibilidade e 80% de concentrado. Nos outros dois grupos a média foi de R$111,3.

“Se um produtor termina 100, 500 ou 1000 bovinos por ano, ele elevará sua receita em R$1.300, R$6.500 ou R$13.000, respectivamente. Todos esses resultados se tornam ainda mais interessantes se levarmos em consideração que é o efeito da qualidade da fibra da cana que está produzindo tais resultados”, destaca.

Para Mesquita, é importante que os pecuaristas percebam que toda cana-de-açúcar não é igual e que algumas são direcionadas para a alimentação animal. “Outras pesquisas devem ser realizadas tendo em vista o melhoramento genético e desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar voltadas à alimentação de bovinos”, conclui.

Mais informações: email brs.mesquita@gmail.com, com Bruno Mesquita

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