Da Assessoria de Comunicação do IFSC
Uma parceria entre três grupos de pesquisa nacionais e uma universidade norte-americana está resultando no lançamento do denominado Centro de Caracterização de Espécies Minerais (CCEM), que ficará sediado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, sendo o primeiro do gênero no País.
O projeto resulta de uma colaboração entre o Instituto de Geociências (IGc) da USP, o Grupo de Cristalografia do IFSC, o Grupo de Espectroscopia RAMAN, do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), e o Departamento de Geociências da Universidade do Arizona (Estados Unidos), instituição considerada um dos mais importantes centros de caracterização de espécies minerais do mundo.
Segundo o professor Javier Ellena, do IFSC, o grande incentivador e responsável pela colaboração entre os grupos brasileiros com a Universidade do Arizona é Marcelo de Andrade, que realizou seu pós-doutorado com supervisão de Robert T. Downs, nessa universidade, por cerca de dois anos, no âmbito do Programa Ciência sem Fronteiras, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O grupo de Mineralogia e Cristalografia de Downs dedica-se a caracterizar espécies minerais de diversas partes do mundo. Um bom exemplo é o novo projeto que os pesquisadores estão desenvolvendo para o sistema de difração do “Curiosity”, robô da Agência Espacial Norte Americana (NASA) que serve como instrumento às pesquisas realizadas em Marte.
Os pesquisadores contam que o equipamento de Espectroscopia Raman foi aprovado por meio do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU), ligado ao Programa Jovem Pesquisador, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A ideia é que, além de amostras de minerais, o equipamento possa ser utilizado também em outras áreas, como a farmacêutica e a biológica, por exemplo. “Nós conseguimos um equipamento versátil e robusto, para que os pesquisadores tenham facilidade em utilizar a ferramenta nas diferentes áreas”, afirma Ellena.
Segundo o professor Alejandro Pedro Ayala, que coordena a equipe do grupo de Espectroscopia RAMAN da UFC, além da área de mineralogia, esse equipamento pode contribuir para outras áreas importantes, tais como a farmacêutica e a de ciências dos materiais, entre diversas outras. “Existem grupos no Brasil que fazem identificação de células cancerosas e caracterização de medicamentos por intermédio da Espectroscopia RAMAN. Na área de mineralogia, o equipamento pode auxiliar na identificação dos minerais que compõem a rocha, com uma leitura diferenciada”, exemplifica Marcelo de Andrade.
O equipamento de espectroscopia permite que um pesquisador veja cada composto químico inserido numa rocha, em cores diferentes. “Dentro de uma rocha de mineração, existem diversos compostos. Fazendo uma medida ponto-a-ponto com o espectro, é possível observar cada porcentagem dos compostos, que ficam representados por cores diferentes”, acrescenta Andrade.
Exploração de recursos minerais
Dessa forma, é possível fazer uma leitura dinâmica da rocha ou outro objeto analisado pelo equipamento. De acordo com Ellena, o intuito principal do Centro é obter dados das composições químicas de forma mais profunda. “Do ponto de vista estratégico e econômico, este projeto tem uma valia extremamente grande, pois muitas dessas pesquisas são importantes para a elaboração de estratégias de exploração de recursos minerais .”
Atualmente, existem aproximadamente 5 mil espécies minerais registradas pela Associação Mineralógica Internacional (IMA). De acordo com estes dados, existem apenas 60 novas espécies minerais caracterizadas no Brasil. Para Andrade, esse é um dado preocupante, uma vez que o País possui grande investimento na área de mineração. “Dessas 60 espécies brasileiras, o nosso grupo é o responsável pela identificação e caracterização de 7 delas, só nos últimos anos”.
O novo Centro de Caracterização será uma referência em termos nacionais. Javier Ellena conta que a ideia do projeto é inédita, porque o trabalho abrangerá diversas áreas: “Nosso grupo é pioneiro na área de Cristalografia; o professor Daniel Atencio, do Departamento de Mineralogia e Geotectônica da USP, é referência em pesquisas minerais; e o grupo liderado pelo professor Ayala é um dos mais antigos do País que trabalha com a espectroscopia RAMAN. Então, conseguimos juntar esses três laboratórios, com o apoio do grupo de Mineralogia e Cristalografia da Universidade de Arizona.”
Para os pesquisadores brasileiros, a colaboração entre os três laboratórios com o grupo norte-americano é fundamental para que possam ter o know-how de como unir esses grupos que atuam em diferentes vertentes de pesquisa. Para o professor Ayala, o Brasil tem uma tradição forte na área de Espectroscopia RAMAN, uma técnica que foi descoberta em 1928, porque, posteriormente, na década de 1960, o brasileiro Sérgio Porto foi o primeiro a utilizar um laser com o intuito de fazer uma espectroscopia, experimento que revolucionou a área — o grupo do docente Ayala, por exemplo, já trabalha com espectroscopia há trinta anos.
Mais informações: (16) 3373-9770