Iniciativa da FCF quer estimular cultura de segurança em laboratórios

Diagnóstico em laboratórios de ensino e pequisa da Faculdade visam propor melhor gerenciamento de riscos químicos.

Toda substância química apresenta reações específicas, dependendo das condições em que se encontra. Um ácido, por exemplo, pode ter um potencial corrosivo muito forte dependendo da concentração, e muitos solventes são inflamáveis, ou seja, têm características que favorecem a ocorrência de combustão. Assim, em laboratórios como os da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, cujas atividades de ensino e pesquisa utilizam uma grande variedade de substâncias químicas, a questão segurança se impõe.

Atual presidente e participante de muitos anos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da FCF, a professora Cristina Northfleet de Albuquerque percebeu que essa era uma questão que precisava ser melhor trabalhada junto à comunidade acadêmica. Além de técnicos, alunos de graduação e pós-graduação, os próprios professores estão sujeitos a acidentes – um levantamento coordenado pela professora observou que justamente as pessoas mais experientes são as que acabam protagonizando situações de risco.

A ideia inicial de Cristina, que ministra a disciplina de Biossegurança na graduação, foi primeiro olhar para a própria realidade. Junto a um aluno do curso de Farmácia, ela realizou um levantamento da situação de todos os laboratórios do Edifício Semi-Industrial do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da FCF, onde desenvolve suas atividades. Foi aplicado um questionário a cerca de 50 pessoas, que responderam, anonimamente, perguntas relacionadas a conceitos de biossegurança e sua aplicação na prática.

Após este primeiro levantamento, outro bloco da Faculdade passou pelo mesmo processo e a intenção é expandir para toda a FCF. “Queremos um perfil da Unidade. Tem pessoas trabalhando com análises clínicas, alimentos, microbiologia… são muitas facetas. O objetivo é identificar os pontos fortes, para manter e melhorar, e os pontos fracos, para então propor treinamentos, reciclagem, criação de procedimentos”, afirma.

Normas e padrões

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Equipamentos utilizados quando há derramamento de substâncias

Como cada produto químico apresenta particularidades em relação aos riscos, existe a Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISQP), documento normalizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que informa todas as características relacionadas a proteção, segurança, saúde e meio ambiente. “Todo local onde se trabalha com substâncias químicas deve ter as fichas, para que as pessoas saibam antes mesmo de pegar um reagente no armário as informações sobre o que vai manipular, quais os equipamentos adequados e a periculosidade”, explica Cristina.

Mas muitas outras medidas, além do uso correto das fichas, podem contribuir para melhorar a segurança nos laboratórios. O levantamento feito pela professora mostra que as iniciativas, em geral, são individuais: cada laboratório tem um procedimento, um tipo de sinalização, uma metodologia, que poderiam ser padronizados, respeitando as especificidades de cada atividade. E a análise dos acidentes mais comuns acaba revelando quais são elas. Alguns locais têm muitos acidentes com vidrarias, outros costumam apresentar problemas no armazenamento. “Vai depender do local, da quantidade de pessoas, do treinamento, da atividade”, explica.

Uma medida que já está em andamento nos laboratórios é a criação dos Procedimentos Operacionais Padrão, conhecidos como POPs. A ideia é que cada equipamento tenha, próximo a ele, o passo a passo para sua utilização, para que nenhuma etapa seja esquecida, o que é comum mesmo com profissionais que os utilizam com frequência.

Biossegurança em jogo

[copy id=’attachment_90747′ size=’full’ alt=’portal20150415_5′ align=’left’ width=’400′]portal20150415_5[/copy]Para a professora, é necessário criar uma cultura de segurança, que estimule essa atitude em todas as atividades, não apenas dentro do laboratório. Para isso, acredita em novas formas de ensino, que incentivem a participação e interesse das pessoas. Em 2013, junto a alunos do curso de Design de Games da Fatec Carapicuíba, Cristina criou um jogo digital para ajudar a fixação dos conteúdos de biossegurança.

No game, o jogador tem um desafio, por exemplo, o derramamento de um solvente no laboratório. Ele precisa coletar os equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, neutralizar a substância e usar corretamente os materiais para absorção dentro do tempo estipulado. O local é muito parecido com os laboratórios universitários, mas organizado em forma de labirinto. Inicialmente batizado de Chemical Risk, o jogo pode ser expandido focando os riscos de outros tipos de laboratórios ou locais de trabalho.

Nas aulas de biossegurança, a professora também já propôs atividades como a simulação de um tribunal para julgar casos de acidentes em laboratório, em que os grupos de alunos reúnem diversos dados, desde vídeos, legislação e informações técnicas, na acusação ou defesa de um determinado caso. “Nas minhas experiências na Cipa percebi que fazer a pessoa buscar a informação é muito mais dinâmico e produtivo. Os resultados são muito melhores”, afirma.

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