Método desenvolvido no IQ simplica identificação de vestígios de chumbo

A química Maiara Salles desenvolveu pesquisa no IQ sobre identificação de resíduos de chumbo.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Uma técnica desenvolvida no Instituto de Química (IQ) da USP simplifica a identificação de resíduos de chumbo originários de disparos de armas de fogo. A química Maiara Salles adotou um método de análise eletroquímica que analisa os vestígios do metal em amostras e também fornece a quantidade existente por meio da utilização de um eletrodo. Esta quantificação não é possível com a microscopia eletrônica de varredura em laboratório, que é a técnica mais usada hoje em investigações criminais.

“Para realizar a microscopia, uma fita adesiva é colocada na mão do suposto atirador e depois as partículas que aderiram a fita são observadas em um microscópio eletrônico de grande potência, identificando possíveis resíduos de chumbo e outros elementos”, diz a química. “Além do aparelho ter um custo muito elevado, ele apenas faz a identificação do chumbo, sem quantificá-lo”.

Na pesquisa, foi desenvolvido um método de análise eletroquímica que utilza um aparelho mais simples que o microscópio, o potenciostato, que mede e aplica potência e corrente elétrica. “A coleta é feita com um pedaço de algodão passado e molhado com solução de EDTA (complexante, substância usada para facilitar a retirada dos resíduos)”, conta Maiara. “O algodão é esfregado na mão do suspeito, removendo os resíduos e sendo colocado em um frasco para análise em laboratório”.

O chumbo é extraído da amostra com uma solução ácida e é analisado utilizando um microeletrodo de ouro ligado ao potenciostato. “A medição é feita pela diferença de potencial, sendo que a corrente elétrica produzida é proporcional a concentração de chumbo existente”, explica a pesquisadora. O trabalho teve orientação do professor Mauro Bertotti, do IQ.

Validação

Os resultados obtidos na pesquisa foram comparados com os obtidos por outra técnica usada para medir a quantidade de elementos químicos, a espectroscopia de absorção atômica. “Como os resultados foram comparáveis, o método de análise eletroquímica foi validado”, afirma Maiara. “É preciso lembrar que a microscopia eletrônica não fornece os níveis de chumbo, apenas indica sua presença”.

De acordo com a química, a análise eletroquímica poderá ser feita no próprio local em que teria sido utilizada a arma de fogo. “Embora o potenciostato seja um equipamento de laboratório já existe uma versão portátil, que poderia ser carregada em uma maleta de mão”, aponta. “O que é preciso são novas pesquisas para aperfeiçoar a técnica e adaptá-la para a utilização móvel.”

O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Parte da pesquisa que resultou na tese de doutorado de Maiara foi realizada na Itália.

Um dos aspectos que serão verificados em pesquisas futuras é o tempo em que permanece válida a coleta de amostra, ou seja, o período em que ainda poderão ser identificados os vestígios de chumbo originários de arma de fogo. “Se houver interesse, o desenvolvimento da técnica pode ter prossseguimento para se criar uma aparelhagem específica para a prática forense”, conclui a pesquisadora.

Mais informações: email maiara.salles@usp.br

 

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