Nanoencapsulação é eficiente na produção de soro antiofídico

Estudos realizados por professora do IQ inovaram ao encapsular o veneno de animas em lipossomas estáveis.

Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias

Cientistas brasileiros e do exterior conseguiram realizar com sucesso a nanoencapsulação de venenos de serpentes em lipossomas para serem aplicados em animais. Trata-se de um trabalho inédito no mundo e que implicará numa economia significativa no processo de produção de soros antiofídicos.

Os estudos foram realizados em vários laboratórios colaboradores e nos laboratórios do Instituto Butantan pelo grupo da professora Maria Helena Bueno da Costa, que é doutora pelo Instituto de Química (IQ) da USP. Os resultados foram recentemente publicados no jornal Current Drug Delivery, em sua edição de novembro de 2012, no artigo A Rational Design for the Nanoencapsulation of Poisonous Animal Venoms in Liposomes Prepared with Natural Phospholipids.

Em procedimentos normais o soro é obtido com a injeção do veneno da serpente em cavalos. Ao receber uma injeção, o animal produz um anticorpo que é purificado pelo Instituto Butantan. É o fragmento deste anticorpo que é administrado no homem. “Os fragmentos é que serão capazes de neutralizar a ação maléfica do veneno”, explica a pesquisadora. “É a chamada imunização passiva”, descreve Maria Helena.

Segundo ela, a inovação do processo está em se colocar (encapsular) o veneno nos lipossomas estáveis, que são feitos a partir de lipídeos naturais. “Os lipossomas funcionam como se fossem pequenas caixas que irão transportar o veneno. A novidade é que o lipossoma comporta o veneno de forma concentrada. Isso irá diminuir a dose que é aplicada no animal, porém, com o mesmo efeito”, garante a pesquisadora. A diminuição da dose também acarretará em menos animais utilizados e, portanto, na redução do custo de produção do soro.

Filmes de lipídeo

Os experimentos realizados no Instituto Butantan foram feitos com camundongos e também em cavalos. O sistema já está devidamente patenteado e pronto para ser utilizado. Para se desenvolver o processo, foi produzido um filme de lipídeo. “Neste filme inserimos um inibidor do veneno para não destruir os lipídeos”, conta a cientista. Ela lembra que o veneno também foi modificado quimicamente para que tivesse diminuída a sua atividade fosfolipásica (destruidora dos lipídeos, componentes do lipossoma).

De acordo com a professora, trata-se de um estudo multidisciplinar que envolveu cientistas da área de química, física e bioquímica, entre outras. Os testes foram feitos utilizando veneno de jararaca e de cascavel. Maria Helena reforça que o material está pronto para ser utilizado. “O que resta agora é um estudo de escalonamento da produção para que se coloque o método em prática”, afirma a docente, que atualmente é uma voluntária da Cruz Vermelha Francesa, em Toulouse.

Além da professora Maria Helena, participaram do desenvolvimento deste estudo Osvaldo A Sant’Anna e Wagner Quintilio (Instituto Butantan), Reto Albert Schwendener (Paul Scherrer Institute e Institute of Molecular Cancer Research, University of Zurich, Switzerland) e Pedro Soares de Araujo (Instituto de Química da USP), e Gregory Gregoriadis (London University).

As pesquisas tiveram o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Butantan, Paul Scherrer Institut (Suiça) e London University (Inglaterra).

Mais informações: email bdacosta@usp.br

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