Núcleo do ICB monitora uso de radioisótopos nos laboratórios

Núcleo do ICB visa garantir a segurança de pesquisadores que utilizam radioisótopos em seus laboratórios.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Professor Beny Spira, do Departamento de Microbiologia do ICB

Muitas descobertas da biologia aconteceram utilizando radioisótopos. A medicina, também, foi muito beneficiada por estes átomos especiais, que revolucionaram a área de exames. É o que conta o professor Beny Spira, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Com o tempo, novas tecnologias surgiram para fazer frente ao uso de radioisótopos em pesquisas na área, como as alternativas enzimáticas. Entretanto, os compostos radioativos ainda fazem parte da rotina dos laboratórios.

No ICB, o professor Spira é o responsável pelo Núcleo de Radioproteção, que tem como uma de suas principais funções gerenciar os rejeitos radioativos produzidos pelo Instituto e realizar o monitoramento da segurança nos laboratórios. Além disso, o Núcleo organiza, anualmente, um curso de 40 horas, ministrado por físicos especializados em radioproteção. Dois deles são funcionários do Centro Especializado em Saúde e Medicina do Trabalho, o CESMT. O curso, tradicional no Instituto, é necessário àqueles que desejam manipular e adquirir radioisótopos, e representa um meio para pleitear a obtenção de licença junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Cuidados especiais

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Geiger, aparelho que detecta o nível de radiação no ambiente

Para lidar com os rejeitos radioativos, o ICB construiu um pequeno prédio onde são armazenados elementos e objetos. O professor comenta que, após um trabalho com os compostos, há todo um conjunto de materiais contaminados, como filtros, papéis e instrumentos. Esses objetos não podem ser deixados no laboratório em função do risco que representam, daí a importância da correta armazenagem até que eles possam ser devolvidos ao ambiente sem causar danos.

Segundo Spira, os radioisótopos são instáveis – em alguns casos, eles podem se desintegrar pela metade em apenas alguns segundos. É por isso que existe o conceito de meia-vida, ou seja, o tempo necessário para que metade de uma amostra se reduza à metade. “O famoso Carbono 14 possui uma meia-vida de 5 mil anos. Então, a cada 5 mil anos, a atividade do Carbono 14 cai pela metade. Isso quer dizer que metade desses átomos se desintegram em uma coisa que não é mais radioativa”, exemplifica Spira.

No laboratório, o professor trabalha com o Fósforo 32, um radioisótopo do Fósforo 31 (que é estável e não é radioativo). O Fósforo 32 possui meia-vida de 14 dias e, diante de um rejeito radioativo contaminado com esse isótopo, esse é levado para armazenagem, ficando isolado por alguns meses, tempo suficiente para que não seja mais radioativo, já que a meia-vida segue um decaimento exponencial.

O monitoramento da segurança no laboratório depende de qual radioisótopo é utilizado. Caso seja, por exemplo, o Fósforo 32, que possui uma energia relativamente alta para uso em laboratório, é possível determinar sua presença com um aparelho detector de radioatividade, o Geiger. O pesquisador deve, ainda, proteger-se atrás de um anteparo para não se expor à radiação. Os cuidados também devem ser seguidos no caso de radioisótopos menos energéticos. “Se, por um lado, o dano que porventura possam causar são menores, por outro, são mais difíceis de serem monitorados, como é o caso do Carbono 14”, explica o professor.

O uso dos radioisótopos

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para ilustrar de modo didático o uso de radioisótopos no laboratório, Spira explica uma pesquisa já concluída. Nela, se avaliava o potencial de plantas medicinais no tratamento da leucemia. Assim, após o cultivo das células leucêmicas, estas eram expostas aos extratos das plantas. Para saber se a célula estava ou não sendo afetada pela substância testada, ou seja, se elas estavam morrendo diante do tratamento, moléculas marcadas com Trício (um isótopo radioativo do Hidrogênio) foram expostas a essas células, que incorporaram o Trício. Caso essas células estivessem vivas, haveria a incorporação no DNA e sua replicação, sendo possível, assim, identificar a eficácia da substância.

Muitos laboratórios, entretanto, decidiram não mais trabalhar com radioisótopos. Os motivos são os mais diversos: a burocracia para obtê-los, o alto custo, o risco de exposição – ainda que pequeno – e as novas tecnologia disponíveis, como a marcação celular por enzimas emissoras de luz ou causadoras de reações visíveis. “Radioisótopos em pesquisa estão caindo em desuso. Não é uma coisa que vai cair totalmente, porque sempre vai ter utilidade. Há as alternativas, como tudo, as tecnologias mudam.”, finaliza o professor.

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