Grupo da Poli alerta sobre importância do estudo do solo na construção civil

Pesquisas buscam metodologia que atenda aos aspectos de segurança sem prejuízos econômicos nem ao cronograma das obras.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Grupo realiza estudos de campo e no laboratório

No subsolo, em geral, existe água em um determinado nível de profundidade – no qual muita gente, inclusive, perfura poços. Acima desse nível, a água consegue subir por capilaridade, podendo chegar até a atingir edificações, infiltrando-se pelas paredes e gerando uma série de problemas. Há casos, porém, em que o solo pode estar com os poros não completamente preenchidos, o que constitui o chamado solo não saturado.

Este é o alvo do grupo de estudos liderado pelo professor Fernando Marinho no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica (Poli) da USP. As linhas de pesquisa do núcleo, que pertence ao Departamento de Estruturas Geotécnicas, se dividem em três aspectos. A primeira delas busca definir as condições do terreno, investigando-o, definindo o tipo de material que pode ser encontrado nele, e o estado desse material. Fernando Marinho conta que acompanha como a água se infiltra no solo e como ela evapora, pois a movimentação do líquido tem uma grande importância na interpretação. “Assim, quando surgem problemas associados a taludes [superfícies inclinadas que limitam um maciço de terra ou de rocha], ou a perda de água e infiltração, por exemplo, temos dados para responder”, explica.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Outra linha estuda o material no próprio laboratório, onde são desenvolvidos estudos específicos em que se determinam os parâmetros do material em determinadas circunstâncias.

Por fim, a terceira área de pesquisa caracteriza-se por utilizar esses dados para fazer análises numéricas, interpretando o comportamentos dos solos não saturados em diversas condições, seja em relação à estabilidade do solo, seja em relação ao fluxo de água dentro dele. Nessa área, os problemas no campo são simulados com o auxílio de um software, implementando aí os parâmetros adquiridos no laboratório, além das variáveis climáticas obtidas com o estudo de campo. Desse modo, as três linhas abordadas se complementam, contribuindo para a o resultado final dos estudos.

Aterros

Um dos projetos em andamento no grupo lida com fatores relacionados à cobertura de aterro de resíduos, em que a camada de cobertura possui um papel importante no comportamento de todo o aterro. No projeto, também é dada atenção à presença e ao fluxo de gás no subsolo de meios não saturados, pois “em São Paulo está havendo muitos problemas, já que muitas edificações estão sendo construídas em locais que têm gás e outras já estão construídas”, comenta o professor.

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O professor Fernando Marinho

Outro projeto em atividade trata do comportamento dos solos compactados, que tem sofrido uma grande procura por conta das obras que exigem a construção de aterros, especialmente considerando condições de muita chuva, quando esses solos mantêm-se próximos à saturação. Na compactação do material nas obras – em geral rodoviárias, que necessitam de tal procedimento – utiliza-se o solo como material de construção, melhorando suas características. É possível, assim, ter um controle sobre esse solo, uma vez que ele não é mais “natural”, que foi compactado seguindo especificações.

Entretanto, como essas obras são realizadas ao ar livre, à medida em que ocorrem chuvas, tanto no local da obra, quanto no local de onde se retira o solo, a quantidade de água presente nesse material irá divergir da esperada para a compactação. Desse modo, surgem inúmeras preocupações, como a de se avaliar o comportamento desses solos de modo a se descartar seu uso, ou de se permitir a sua utilização sem receios. Um outra preocupação, não menos importante, é a a respeito da impossibilidade de se respeitar o cronograma da obra, o que poderá gerar problemas econômicos e políticos. Assim, o estudo busca formas de entender o comportamento do solo próximo à saturação, sempre tentando simplificar a metodologia, de modo que ela possa ser praticada por laboratórios comerciais.

Finalmente, o professor explica que “é muito útil ter essas primeiras observações, porque o solo não é que nem concreto, que ‘o daqui é igual ao dali’. O solo possui uma variabilidade muito grande, exige muitos dados e é preciso tratar esses dados. E há, ainda, aspectos não só na superfície ou próximos a ela, mas também em profundidade, pois algumas obras exigem grandes escavações, e o comportamento do solo ainda não foi estudado naquela profundidade.”

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