Pós-doutorandos de diferentes partes do mundo contam experiência no ICMC

O número de pós-doutorandos estrangeiros no ICMC aumentou 171% entre 2010 e 2015.
Foto: Denise Casatti Depois de um ano no ICMC, o paquistanês Noor decidiu que ficará no Brasil
Foto: Denise Casatti
Depois de um ano no ICMC, o paquistanês Noor decidiu que ficará no Brasil

Em sua busca pela liberdade e pela ciência, ele encontrou o Brasil. “Sem liberdade, não é possível ser criativo nem pesquisar”, declara o paquistanês Sahibzada Waleed Noor. Na jornada, já correu o mundo: fez pós-doutorado na França e na Itália. Mas depois de um ano de pós-doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, encontrou o que tanto buscava: um ambiente propício para fazer ciência e construir novas amizades em meio à natureza. Hoje, não restam dúvidas: é no Brasil que Noor quer ficar.

Ele é um dos 19 pós-doutorandos estrangeiros que estão no ICMC atualmente e escolheram estudar no Instituto atraídos por um ambiente científico acolhedor. A maioria deles encontrou, no meio da trajetória, muito mais do que esperavam. Não é à toa que o número de pós-doutorandos estrangeiros no ICMC aumentou 171% entre 2010 e 2015.

“Receber um pós-doutorando é um sinal do reconhecimento e da visibilidade das pesquisas e resultados que nós apresentamos”, explica o presidente da Comissão de Relações Internacionais (CRInt) do Instituto, José Carlos Maldonado. O objetivo para o futuro, segundo Maldonado, é que o Instituto atraía um número ainda maior de pós-doutorandos. “O ICMC está formando 50 doutores por ano em suas diversas áreas, então, esperamos alcançar aproximadamente esse número de pós-doutorandos a cada ano”, diz Maldonado.

Da ciência ao altar

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Foto: Paulo Arias
Pós-doutorado e paixão: a mexicana Haydée conheceu o italiano Fabio no ICMC

Haydée Cabrera, nascida em Xalapa, no México, chegou ao ICMC em 2013 para atuar na área de Topologia de Sigularidades. Quando desembarcou no Brasil não imaginava que, além de fazer o que ama, iria encontrar alguém para amar. Há pouco tempo no país, a pesquisadora, que é graduada em matemática, se entrosou rapidamente com seu grupo de pesquisadores e foi quando Fabio Ruffino entrou em sua vida. O italiano havia acabado de terminar seu pós-doutorado no ICMC, mas a relação com os ex-companheiros de pesquisa permaneceu.

O tempo foi passando, os dois se aproximaram, até que algo que nem a ciência consegue explicar aconteceu. Hoje eles estão noivos: “Eu nunca imaginei que meu futuro marido seria do outro lado do mundo e eu o encontraria aqui”, diz a mexicana. O casamento está marcado para o próximo mês de julho, na Itália, mas o casal pretende morar em São Carlos, pois hoje Fabio é professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Haydée escolheu o ICMC pela existência de um grupo de pesquisadores que atua no seu campo. Ela afirma que a área de matemática do Instituto é bastante conhecida no meio acadêmico mexicano. Sobre São Carlos, a pesquisadora parece já estar habituada ao município. “As pessoas são muito prestativas, simpáticas, gosto muito daqui, saímos bastante pela cidade”, finaliza.

A busca pela liberdade

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Foto: Henrique Fontes
O alemão Werner está há um mês no Instituto

Noor conta que a falta de liberdade foi um dos motivos que o levaram a deixar o Paquistão em busca de oportunidades em outros países. Ele explica que o país é dividido em quatro províncias e que, em cada uma, há o predomínio de uma etnia e de uma língua, além da língua nacional (urdu). Noor nasceu em Peshawar, capital da província Khyber Pakhtunkhwa, localizada no norte do país. “Eu amo o Brasil e a liberdade que existe aqui. No Paquistão, além da falta de liberdade religiosa, há a instabilidade política e social”, explica o pós-doutorando.

“Eu sempre fui fascinado pelo Brasil, desde que era criança. Adoro a geografia, a história, as belezas naturais, mas não ouvia falar muito sobre a capacidade do país no campo científico”, revela o pesquisador. Depois de completar sua graduação em matemática no COMSATS Institute of Information Technology, em Islamabade, a capital do Paquistão, Noor foi fazer doutorado em matemática em Lahore na Abdus Salam School of Mathematical Sciences. Foi lá que conheceu o francês Renaud Leplaideur, da Universidade de Brest, na França, que já mantinha uma parceria científica com o professor Ali Tahzibi, do ICMC.

Além disso, durante os dois pós-doutorados que fez na Europa, Noor ouviu diferentes pesquisadores falando muito bem sobre a área de pesquisa em matemática no Brasil e a relevância da USP nesse contexto. O paquistanês pesquisa a interação entre análise complexa, teoria dos operadores e análise funcional.

“Em toda a minha vida, eu nunca tinha feito tantos amigos quanto aqui no Brasil”, conta o pós-doutorando, que relata animado o quanto adora curtir a noite são-carlense em bares, casas noturnas e restaurantes da cidade. “Sou um fã das iguarias brasileiras. Tal como no Paquistão, os brasileiros adoram comidas oleosas, carnes e doces”, finaliza.

Primeiras impressões

Mapa mostra a origem dos pós-doutorandos que estão atualmente no ICMC

Werner Leyh, alemão da cidade de Tübingen, está apenas há um mês no ICMC como pós-doutorando na área de geoinformática aplicada à prevenção de desastres naturais, com foco em enchentes. Apesar do pouco tempo em São Carlos, a capital da tecnologia parece já ter convencido o pesquisador de que fez a escolha certa: “Eu adoro esse ambiente universitário e acadêmico que a cidade possui”.

No Brasil há mais de dez anos, Leyh é formado em automatização industrial, com mestrado e doutorado em robótica na Alemanha. Foi convidado a trabalhar no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, em São Paulo. Mais tarde, passou pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), pelo Ministério do Planejamento, em Brasília, e pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Foi durante o trabalho na capital nacional que teve início sua relação com a Universidade de Heidelberg a partir de uma conferência que organizou, em que estava presente um consórcio chamado Open Geospatial Consortium, composto por empresas, agências governamentais e universidades, que busca tornar a informação e os serviços espaciais úteis e acessíveis. A OGC sugeriu que o pesquisador estabelecesse uma parceira com a universidade alemã para atuarem na área de prevenção de catástrofes naturais.

Posteriormente, já trabalhando em São Paulo, Leyh conheceu o professor João Porto de Albuquerque, do ICMC, e hoje trabalham juntos no projeto ÁGORA. Coordenado por Albuquerque, o projeto busca desenvolver sistemas de informação colaborativos aplicados em desastres. “Escolhi o ICMC por causa desse trabalho na área de geoinformática e os estudos estão indo muito bem”, finaliza o alemão. Leyh não tem certeza de quanto tempo permanecerá no ICMC nem no Brasil. Mas talvez, ao longo de sua jornada no Instituto, também faça mais descobertas do que imaginava.

Denise Casatti e Henrique Fontes / Assessoria de Comunicação do ICMC

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