Prótese criada na FMVZ em impressora 3D reabilita tucano com deformidade no bico

O procedimento foi realizado por uma equipe coordenada pelo doutorando do Departamento de Cirurgia, Roberto Fecchio.

Um tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolurus) apresentava uma deformidade no bico superior, o que dificultava a sua alimentação. No final de agosto, uma prótese desenvolvida em uma impressora 3D foi fixada com resina no bico afetado. O procedimento foi realizado por uma equipe coordenada pelo doutorando do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, Roberto Fecchio.

Poucas horas após o procedimento o animal já estava se alimentando normalmente. A ave foi apreendida pela Polícia Florestal no início de 2013 e encaminhada ao Centro de Pesquisa, Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (CPTRAS) da FMVZ.

Imagens da simulação da moldagem e a prótese desenvolvida em uma impressora 3D Foto: Divulgação/FMVZ
Imagens da simulação da moldagem e a prótese desenvolvida em uma impressora 3D
Foto: Divulgação/FMVZ

O processo todo envolveu a moldagem do bico com gesso dentário, confecção de réplica em 3D, a partir da qual foi feita a simulação da prótese e em seguida a sua “impressão” 3D. Segundo Fecchio, o material utilizado foi o ácido polilático (PLA), um polímero derivado do milho. Com a prótese pronta e o animal preparado, afirma, “realizei a cirurgia, fixando a prótese com resinas odontológicas especiais e o resultado foi satisfatório”, concluiu. Fecchio começou a utilizar esta técnica este ano e já comemora seu terceiro caso de sucesso.

Segundo o professor Ricardo José Garcia Pereira, coordenador do CPTRAS, “o tucano desperdiçava alimento, pois não conseguia manipular direito os diferentes itens de sua dieta e precisava ficar isolado para não ter de concorrer com outras aves em condições normais. A deformidade também era empecilho na sua destinação para outras instituições.” Com o bico reconstruído, continua ele, “a ave ainda está em fase de adaptação, mas já é possível observar melhora em seu comportamento alimentar. Outra grande vantagem é que isso melhora suas possibilidades de encaminhamento para zoológicos ou criadores legalizados”, enfatizou. Para Pereira, “a utilização das impressoras 3D para a confecção de próteses de bico oferece uma grande vantagem em relação ao modo artesanal, pois torna mais acessível a fabricação de moldes particularizados”, defendeu.

Segundo o professor Marco Antonio Gioso, orientador de Fecchio, a técnica de próteses de bico com o uso de resina é utilizada na FMVZ há 15 anos. Vários tipos delas vêm sendo utilizados na reconstrução também de carapaças de tartaruga, cascos de cavalo e em todas as partes dos animais que têm queratina. Ele explica que, “as próteses são presas na parte avariada com o uso de cola cirúrgica, ou mesmo cola instantânea. Também podem ser presas fisicamente com grampos ou fios de aço”. O resultado da junção da peça é um desafio, explica ele, “pois depende da adaptação do animal e da resistência da área reconstruída. A eficácia da utilização de impressora 3D na confecção de moldes ou peças é relativamente nova e os resultados precisam ser estudados”, ponderou.

O tucano em três momentos: na chegada, com deformidade no bico superior; após a cirurgia, com a prótese; e se alimentando normalmente Foto: Divulgação/FMVZ
O tucano em três momentos: na chegada, com deformidade no bico superior; após a cirurgia, com a prótese; e se alimentando normalmente
Foto: Divulgação/FMVZ

Atuação do CPTRAS

O CPTRAS foi vinculado à FMVZ em 2013 e está localizado em Cubatão/SP. No momento abriga 35 animais, entre araras, tucanos e passarinhos; a maioria provenientes de apreensões. Segundo Pereira, é comum os animais chegarem debilitados ou com algumas lesões. “Os que chegam por apreensão geralmente se encontram malnutridos, estressados, machucados e com plumagem danificada em decorrência da superlotação nos cativeiros clandestinos. Já os animais resgatados chegam com lesões graves como mutilações, fraturas e problemas neurológicos, devido a atropelamentos, ou com queimaduras causadas por acidentes na rede elétrica.

Ao chegar ao CPTRAS, os animais são avaliados quanto às suas condições físicas e chances de destinação para programas de reabilitação/reintrodução ou permanência. Também são vermifugados, recebem alimentação, tratamentos (quando necessários) e ficam em locais apropriados para auxiliar na sua recuperação. Os animais recuperados são destinados a instituições públicas, como zoológicos, ou privadas, como mantenedores de fauna licenciados. No caso de animais ameaçados de extinção, exemplares viáveis são encaminhados a projetos de reintrodução na natureza. O coordenador do Centro espera que agora o tucano recuperado seja destinado a algum zoológico ou criador.

Da Assessoria de Imprensa da FMVZ

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