No Instituto de Radiologia, atendimento humanizado é parte do tratamento

Grupo de Humanização do Inrad se soma ao recém-criado Núcleo Técnico de Humanização do próprio Hospital das Clínicas da FMUSP.

Luciene Antunes, especial para o USP Online

Quando a psicóloga Gabriela Zemel teve a ideia de trazer um grupo de artistas para entreter os pacientes nas salas de espera do Instituto de Radiologia (InRad) em 2005, não sabia que sua sugestão era uma ação de humanização – conceito que tem merecido muita atenção em todos os institutos do Hospital das Clínicas (HC) da USP e no sistema de saúde pública no Brasil.

Pela ação criada por Gabriela, alguns artistas dançavam, outros faziam performance de palhaços, outros tocavam instrumentos ou ensinavam a fazer dobradura nas salas de espera do Inrad. “Até recentemente, os funcionários promoviam, de maneira espontânea e não organizada, ações com o objetivo de tornar mais amena e reconfortante a experiência de passar por uma unidade de atenção à saúde, seja como paciente ou como familiar de uma pessoa doente”, diz.

Gabriela é a coordenadora do Grupo de Humanização do Inrad,  e também passa a integrar o recém-criado Núcleo Técnico de Humanização do próprio Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que terá uma equipe exclusiva para elaborar e coordenar a política de humanização de todos os núcleos do hospital.

Conceito

O conceito de humanização vem sendo usado no sistema de saúde mundial desde a década de 70. No Brasil, ganhou força especialmente a partir de um movimento feminino, na década de 1980, pela humanização do parto. O termo “humanização” ilustra a crítica aos aspectos tecnicistas que passaram a predominar nas relações entre profissionais da saúde e pacientes, e também na gestão do sistema de saúde e na relação entre os próprios profissionais.

A crítica apontava que, com os desejáveis e importantes avanços tecnológicos na medicina, que vêm permitindo tratamentos e intervenções cada vez mais precisas e menos invasivas, houve também um afastamento entre as pessoas do médico e do paciente, tornando os procedimentos frios e distantes.

“Desenvolveu-se uma espécie de barreira entre as pessoas. De um lado, ficaram os detentores do conhecimento e dos meios de cura. Do outro, pacientes, com toda sua complexidade e história de vida influenciando a maneira como lidam com o momento da doença e compreendem o que está havendo”, diz a psiquiatra Izabel Rios, coordenadora do novo núcleo do HC, que inicia suas atividades em junho.

“Com o tempo, foi se perdendo a comunicação e o trabalho de desvendar e tratar o paciente em toda sua complexidade que, na verdade, nunca deixou de ser importante.”

Izabel também é professora da disciplina “Medicina e Humanidades”, coordenada pelo professor José Ricardo
Ayres, no curso de Medicina da USP – incorporada ao currículo em 2010. No Inrad, unidade onde também são realizados tratamentos como radioterapia para pacientes com câncer, há diversas ações regulares de humanização.

Ações

Um dos projetos é o Sala de Espera. Uma vez por mês, um dos profissionais do Instituto faz uma palestra sobre um tema que tenha afinidade e que seja de interesse do público. Em abril, por exemplo, a nutricionista da unidade falou sobre obesidade. Outra ação é a do Grupo de Orientação da Radioterapia.

Uma vez por mês, uma equipe do Inrad prepara uma espécie de seminário no anfiteatro da unidade para orientar os pacientes que irão enfrentar um tratamento por radioterapia. “O processo até o início do tratamento é longo e angustiante”, diz Gabriela. “O paciente com câncer passa pelo médico, que diz quantas sessões de radioterapia deverão ser realizadas. Depois o paciente aguarda por meses, devido à fila e à necessidade de construção de um molde de chumbo da parte do corpo que será tratada. Em média, aguarda três meses antes de começar o tratamento.”

Quando falta cerca de um mês, os pacientes e seus familiares são convidados para assistir às palestras do grupo de orientação. Os profissionais do Inrad falam sobre como será o tratamento e quais são os possíveis efeitos colaterais, orientando sobre como amenizá-los.

Além das ações voltadas para os pacientes e seus familiares, fazem parte dos projetos de humanização iniciativas direcionadas aos funcionários do HC. A cada quatro meses, há palestras para os funcionários com especialistas convidados para falar de diversos temas, desde moda e drogas até atendimento ao cliente. Uma vez por mês, os organizadores de ações como essas de todos os institutos do HC se reuniam para discutir novas ideias e ações conjuntas em uma comissão de humanização. Agora, todos passam a ter suas ações coordenadas pelo Núcleo Técnico de Humanização.

“Recentemente, tem havido esforços no Brasil para a humanização do sistema de saúde, especialmente a partir de 2003, quando foi criada a Política Nacional de Humanização, conhecida como Humaniza SUS. Os trabalhos que temos feito no HC e a inclusão de disciplinas voltadas às humanidades na formação médica da USP são algumas decorrências da política nacional”, diz Izabel.

“Com investimentos e pessoal especialmente voltados para a humanização, também damos início agora às pesquisas sobre os benefícios trazidos pela humanização no sistema de saúde”, ressalta. Uma das primeiras ações do núcleo será apresentar projetos de pesquisa, envolvendo alunos da Faculdade de Medicina, voltados à investigação dos efeitos da humanização no atendimento e na gestão do sistema de saúde. 

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