Pesquisa da EERP mostra estratégias criadas por crianças com câncer para enfrentar quimioterapia

Paciente constrói vínculo positivo com equipe de saúde e mantêm desejo e disposição para realizar brincadeiras.

Camila Ruiz /Assessoria de Imprensa da EERP

Crianças diagnosticadas com câncer constroem vínculos positivos com equipes de saúde, e mantêm o desejo e a disposição para realizar brincadeiras, mesmo após a descoberta da doença e durante o tratamento quimioterápico, aponta pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. O trabalho da terapeuta ocupacional Amanda Mota Pacciulio, mostra que as crianças evidenciam aspectos saudáveis e desenvolvem estratégias para lidar com as adversidades do tratamento, como os efeitos da quimioterapia, por exemplo.

Amanda entrevistou dez crianças entre 7 e 12 anos, diagnosticadas com câncer, em tratamento de quimioterapia e hospitalizadas há pelo menos três meses no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. As entrevistas foram realizadas individualmente com as crianças, na própria enfermaria em que se encontravam internadas. Amanda utilizou fantoches de dedo, método que desperta interesse e curiosidade, incentivando a participação ativa na pesquisa, além de facilitar a expressão da criança.

Como método de estudo, a terapeuta procurou a perspectiva de cada criança acerca do processo de tratamento do câncer no hospital, e investigou os aspectos da hospitalização que consideravam como positivos e negativos para só então abordar o tratamento quimioterápico hospitalar e suas estratégias de enfrentamento, utilizando entrevistas semi-estruturadas. Entre os aspectos negativos do tratamento, as crianças citaram os efeitos colaterais da quimioterapia, como as náuseas e vômitos, além da perda do apetite, a fadiga, a queda dos cabelos e, ainda, a dor, essa causada principalmente pelos procedimentos invasivos.

A falta de apetite, diz Amanda, foi citada por apenas uma criança e, segundo esta, a inapetência desaparecia alguns dias após a infusão quimioterápica. “Para enfrentar esse problema, as crianças e seus familiares desenvolveram algumas estratégias como, comprar alimentos em lanchonetes e restaurantes localizados nas dependências do hospital ou levar de casa a comida que mais agrada a criança”, observa.

Brincar

A ociosidade imposta pela permanência no hospital foi outro fator negativo apontado pelas crianças. Nos depoimentos, elas dizem ficar cansadas por não ter o que fazer, mas valorizam a existência de brinquedos próprios do hospital. “Sobre as áreas de lazer disponibilizadas para as crianças, elas gostam do parquinho e do jardim, no pátio externo, e da sala da classe hospitalar, onde é oferecida recreação, sendo disponibilizados alguns jogos e atividades gráficas”, diz a pesquisadora. “Entretanto, as crianças lembram que o fato de ficarem grande parte do tempo conectadas à bomba de infusão de quimioterápicos, limita o acesso a estes locais, o que ressalta a importância da existência de brinquedotecas, adaptadas ao contexto hospitalar.”

Outro aspecto positivo, diz Amanda, são as atividades lúdicas, expressivas e artesanais oferecidas pela terapeuta ocupacional da equipe e suas estagiárias, consideradas como estratégia que favoreceu o enfrentamento da hospitalização. “O trabalho desenvolvido pelos ‘palhaços’ da Companhia do Riso também foi citado como diferencial do hospital”, conta a terapeuta ocupacional. “Elas entendem a importância do quimioterápico no tratamento do câncer, pareceram suportar com maior facilidade os seus efeitos colaterais e a necessidade das hospitalizações, por ter como objetivo final a cura”, afirma Amanda.

Para a pesquisadora, o vínculo positivo e afetivo, entre pacientes e equipe de saúde, também contribuiu para o enfrentamento do processo de tratamento, assim como o uso de bonés, lenços, chapéus e peruca auxiliou no enfrentamento da queda do cabelo e de seus impactos negativos na autoestima e autoimagem das crianças. A respeito da espiritualidade, Amanda relata que as crianças receberam influência religiosa de seus familiares e deles assimilaram o hábito de rezar.

“Independentemente do momento terapêutico no qual as crianças se encontrem ou de seu prognóstico, elas, em parte influenciadas pelos familiares que lhe transmitem suas crenças e valores, mantêm a esperança de cura como uma chama acesa, nutrida pela religião”, destaca. O mestrado Estratégias de enfrentamento do tratamento quimioterápico na perspectiva de crianças com câncer hospitalizadas foi apresentado no curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública, sob orientação da professora Lucila Castanheira Nascimento, em março de 2012.

Mais informações: (16) 3602-3435; email amanda.tousp@gmail.com, com Amanda Mota Pacciulio 

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