Livro de pesquisadores do LEA traz um novo olhar para a história da Ásia

"História Revisionista da Ásia e Outros Ensaios" apresenta pesquisas de membros do Laboratório de Estudos da Ásia (LEA), da FFLCH.

No dia 21 de março, acontece no Auditório do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP o lançamento do livro História Revisionista da Ásia e Outros Ensaios, com pesquisas de membros do Laboratório de Estudos da Ásia (LEA). A obra é composta por três ensaios de diferentes autores.

Estarão presentes no evento o professor Angelo Segrillo, autor do ensaio “História Revisionista da Ásia”; Diogo Farias, autor de “Chineses pelo mundo: uma análise da diáspora internacional chinesa”; e César Albuquerque, autor de “Evolução do Pensamento Econômico e Político de Gorbachev”.

Por que revisar?

Revisar um fato histórico, reinterpretando-o, é o principal fundamento da história revisionista. A busca por uma alternativa à narrativa tradicional – quase sempre eurocêntrica – da História dá espaço para a renovação de concepções acadêmicas que podem ter sido equivocadamente elaboradas no passado. “Por vezes, isso [a revisão histórica] é necessário, pois alguns antigos paradigmas podem, sob o manto de uma pretensa objetividade acadêmica, esconder posições ideológicas de dominação”, explica Segrillo.

Alguns antigos paradigmas podem, sob o manto de uma pretensa objetividade acadêmica, esconder posições ideológicas de dominação.

História Revisionista da Ásia e Outros Ensaios aborda os temas a partir do ângulo de que a visão eurocêntrica tradicional enxerga a história da Ásia como uma espécie de apêndice da história europeia, como se a Ásia não pudesse ter uma história própria e precisasse sempre reagir aos estímulos europeus. De modo que uma das principais críticas feitas por Segrillo é a de que “frequentemente ela [a visão eurocêntrica tradicional] coloca que a modernização só é possível nos moldes ocidentais, como se ‘modernização’ fosse sinônimo de ‘ocidentalização’, ou seja, para se modernizar é preciso imitar a Europa e o Ocidente”.

O historiador como produtor

Um requisito importante para quem estuda História é levar em consideração o papel do historiador quando esse atua na seleção e interpretação dos fatos.  O que se deve buscar principalmente entender são as motivações que o levaram a qualquer conclusão. “Todo historiador escreve história a partir de certo ponto de vista”, pontua Segrillo.  Então para uma análise coerente, deve-se considerar uma série de fatores como: o momento histórico (se o historiador viveu em períodos de guerra, em épocas de crise econômica); o modo como se caracterizavam as relações sociais de seu país (se monarquia, ditadura, democracia); sua condição social, econômica e política, dentre outros fatores.

E já que a produção acadêmica do historiador nunca é imparcial, pois não se pode negar a individualidade do mesmo, “o importante é [o historiador] deixar este ponto de vista explícito e tentar ser aberto para diferentes abordagens e visões de mundo”, ressalta o docente.

Ásia, Rússia e China

O livro se divide em três ensaios, com três análises históricas da Ásia. No primeiro, é oferecida uma visão alternativa, não eurocêntrica, da história da Ásia. Pois, como explica Segrillo, a Ásia era vista “como dependente de sua relação com as metrópoles europeias”. Desse modo, não havia a concepção de uma possível existência autônoma para a Ásia.

No segundo ensaio são analisadas as mudanças no pensamento de Gorbachev ao longo da Perestroika na URSS.  Esse estudo foi todo baseado em textos, discursos e documentos do próprio Gorbachev. Quanto à visão eurocêntrica sobre a Rússia, tem-se que “há uma tendência de se ver a Rússia dividida entre Europa e Ásia, sendo que suas tendências europeias seriam as progressistas enquanto que as tendências asiáticas seriam de atraso” afirma Segrillo. “A visão revisionista poderia argumentar que, em vez de registrar uma contradição entre as duas partes, poder-se-ia encarar a força do país como provinda exatamente do fato de ser uma síntese de Europa e Ásia”, complementa.

Por fim, o terceiro ensaio apresenta um panorama da emigração chinesa pelo mundo nos tempos antigos e atuais. A respeito do contraste entre as visões eurocêntrica e revisionista sobre a China, Segrilo destaca que “a visão eurocêntrica via a China como um país atrasado e estagnado há séculos, enquanto que os revisionistas asiocêntricos chamam a atenção para o fato de que, até o século XIX, a China tinha a maior economia entre os países do mundo e a economia mundial era muito mais asiocêntrica – em especial sinocêntrica – que eurocêntrica”.

Sobre o LEA

O Laboratório de Estudos da Ásia congrega professores, estudantes e pesquisadores com o objetivo de estudar países e temas desse continente. Para tal, o LEA tem duas atividade principais: promove grandes palestras, com especialistas em Ásia, abertas ao público em geral; e possui ainda três Grupos de Trabalhos (GT), que são dedicados a regiões específicas da Ásia. É a partir das pesquisas dos membros que, posteriormente, são elaborados livros como o que foi lançado agora.

Mais informações: site http://lea.vitis.uspnet.usp.br, email laboratoriodeestudosdaasia@usp.br

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