Projeto na EACH mapeia a rota da cachaça artesanal em Salinas – MG

O projeto enfatizou o desenvolvimento da cultura local através da interlocução com a gastronomia e o turismo regional.

O Brasil é reconhecido por diversas razões, entre elas sua gastronomia, fruto da diversidade cultural do país. Dos itens aqui produzidos muitos ganharam destaque também no mercado internacional – é o caso da cachaça, produto tipicamente brasileiro. A bebida tornou-se tema do projeto Empreendimento Criativo Brasileiro: Criação da Rota da Cachaça Artesanal em Minas Gerais, coordenado pela professora Cynthia Corrêa, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

O projeto, iniciado em março de 2014, tem como objetivo montar a história da rota da cachaça artesanal em Salinas, cidade referência na produção da bebida – localizada no estado responsável por 50% da produção da cachaça brasileira: Minas Gerais. A pesquisa enfatizou o desenvolvimento da cultura local através da interlocução com a gastronomia e o turismo regional. A intenção é oferecer mecanismos que promovam o empoderamento da comunidade. Por essa razão, foram criados o site Cachaça Tour e o aplicativo Cachaça para dispositivos móveis, que se destinam a divulgar a região e seu principal produto.

Empreendedorismo criativo

Foto: Cecília Bastos
Foto: Cecília Bastos

O programa partiu de um edital lançado pelo CNPq em parceria com o Ministério da Cultura e, ao contrário de pesquisas tradicionais, não tem como fim a entrega de um livro, tese ou similares, estando inserido em uma categoria mais específica da indústria criativa. Segundo a professora Cynthia Corrêa, o turismo criativo está relacionado à valorização dos serviços e mercadorias oferecidos, além da integração do visitante com o local.

“O turista, hoje em dia, procura por novas experiências. Desse modo, ele não quer chegar a um lugar novo e fazer os mesmo passeios que as demais pessoas ou se contentar em conhecer os pontos mais famosos, ele quer viver o momento. É do perfil do viajante moderno querer aproximar-se das pessoas que está conhecendo e participar do que elas fazem”, afirma a professora.

O turista hoje não quer chegar a um lugar novo e fazer os mesmo passeios que as demais pessoas ou se contentar em conhecer os pontos mais famosos, ele quer viver o momento.

Belas paisagens e construções dotadas de uma arquitetura arrebatadora podem atrair turistas para uma região – mas há aquelas que se fazem lembrar por seus produtos, sinônimos de qualidade e singularidade 
Foto: Divulgação

Pensando nesta demanda, a professora Cynthia e sua equipe definiram a rota de visitação turística com foco nas fazendas produtoras de cachaça. Os visitantes podem, então, aprender sobre o modo de produção artesanal da bebida, fazer a degustação e se relacionar com a comunidade local. O intuito é a implantação de um novo modelo de negócios, conta a professora: “a região já recebe muitos turistas e estas visitas guiadas já acontecem, mas de forma muito amadora e, por vezes, não geram nenhum retorno, pois não são cobradas”.

A proposta deste novo molde de negócios é apresentar a visitação turística como uma fonte oficial de renda e forma de lidar profissionalmente com os visitantes. “Em períodos em que não há safra e as vendas são menores, esta é uma excelente maneira  de captar recursos”, pontua a professora. O site Cachaça Tour visa contribuir para que a profissionalização aconteça. Nele estão listadas todas as fazendas que participam do projeto, bem como os dias e horários em que estão abertas para turistas.

Funcionando como uma espécie de manual, a página reúne as principais atrações de Salinas, as opções de hospedagem e alimentação e as instruções de localização, que contam com coordenadas geográficas mapeadas pelos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). “A capital mundial da cachaça, como é conhecida Salinas, é sinônimo de prestígio e qualidade entre os apreciadores do produto, e nós queremos ajudar a promover este crédito” diz a professora Cynthia.

A Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (Apacs) recebeu, em 2012, o selo de Identificação Geográfica (IG), modalidade Procedência, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O selo garante ao consumidor que a bebida é certificada e possui qualidade superior. De acordo com a professora, está é uma conquista muito importante, pois para chegar ao mercado exterior, sobretudo o norte-americano, há uma série de pré-requisitos que devem ser atendidos, e um registro desta natureza colabora com a boa reputação do produto.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Se o projeto obtiver os resultados desejados, acontecerão mudanças benéficas na estrutura de toda a cidade, acredita a professora Cynthia. Sabendo de todas as opções disponíveis de passeios, a tendência é que os visitantes acabem permanecendo por vários dias em Salinas, precisando de serviços de hospedagem, restaurante e guias turísticos, envolvendo vários segmentos da economia local que seria beneficiada. Ademais, esta é uma maneira de absorver a mão-de-obra de alunos formados no curso de tecnólogo em  cachaça, oferecido pelo Instituto Federal Campos Salinas.

Nos últimos dias 9 a 11 de outubro, Salinas promoveu a 14ª edição do Festival Mundial da Cachaça, evento que conta com exposições, degustações e vendas do produto. Para a professora, é necessário avaliar como será o movimento turístico na cidade de agora em diante, uma vez que, em razão do festival, a cidade já receberia grande número de visitantes. De todo modo, os turistas que foram ao festival já puderam agendar seus passeios através dos recursos disponíveis no site Cachaça Tour.

Mais informações: site http://cachacatours.com

 

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