Alunos estrangeiros dão nota alta para experiência acadêmica na USP

Vindos de 24 países, estudantes estrangeiros ouvidos pela Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais fazem boa avaliação da USP e de sua infraestrutura.

Paulo Hebmüller / Jornal da USP

Foto: Guilherme Andrade
Foto: Guilherme Andrade

Nota 8,12. Essa foi a avaliação geral que a USP recebeu dos alunos estrangeiros que terminaram seu intercâmbio na graduação no final do primeiro semestre deste ano. A nota geral da Universidade foi superior à que os entrevistados deram à cidade de São Paulo: 6,74. A pesquisa apurou as duas avaliações exatamente porque sua origem é interdisciplinar e utilizou visões complementares.

De um lado, a da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (VRERI) da USP, interessada em saber como os estudantes de fora do País vivem sua experiência acadêmica por aqui; de outro, a do Observatório do Turismo da Cidade de São Paulo – ligado à SPTuris, empresa oficial de turismo e eventos da cidade –, principal fonte de dados para planejamento estratégico, estruturação e promoção da atividade na capital. Não por acaso, o Observatório tem na coordenação geral Beatriz Lage, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

“Fizemos um trabalho conjunto misturando perguntas de interesses específicos da Universidade com o interesse da Prefeitura numa visão mais ampla de turismo. O resultado ficou muito rico, porque o profissional da área pensa em questões que na academia nós não pensaríamos”, diz Claudio Possani, assessor de Mobilidade da Vreri. Cerca de 400 alunos de cursos sediados no campus do Butantã receberam um questionário curto por e-mail, e 166 responderam, o que Possani considera uma amostra significativa.

As conclusões da pesquisa reforçam algumas percepções que a Universidade já possuía e trazem também informações novas. Entre elas, a surpresa de que a língua portuguesa ocupa apenas a quarta colocação entre as dificuldades citadas pelos estrangeiros – com 11% das respostas –, atrás dos problemas com documentação e burocracia (28%), transporte (25%) e custo de vida (21%).

O questionário não se dirigia somente à experiência acadêmica, mas à vida na cidade de maneira geral, o que, para Possani, permite duas conclusões: a USP está atraindo estudantes que se prepararam muito bem para vir ao Brasil e, ao mesmo tempo, é reforçada a ideia de que somos uma sociedade acolhedora. “Nem sempre entendemos tudo, mas os alunos e os professores brasileiros são muito disponíveis para ajudar”, testemunha o francês Simon Suire, que faz intercâmbio em Engenharia Química na Escola Politécnica da USP.

Ênfase nas Humanas

Os alunos que responderam à pesquisa representam 24 países e vêm de 79 cidades diferentes. O maior contingente é o de franceses, com 15% da amostra, seguidos pelos colombianos (13%). Os europeus são a maioria (além da França, aparecem, pela ordem, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal e Holanda), com 49%. Os latino-americanos (depois da Colômbia vêm Peru, Argentina, Chile e México) são 41%, enquanto 10% se originam de outros países.

Um dos dados que surpreenderam foi a alta concentração de alunos nas áreas de Ciências Humanas e Sociais (36%) e Artes e Linguística (17%), totalizando mais da metade (53%) dos que responderam à pesquisa. Claudio Possani levanta diversas possíveis explicações para o dado. Uma delas é que em áreas como física, química e biologia o que se aprende em qualquer país é basicamente a mesma coisa, enquanto que, em áreas como arquitetura, economia, sociologia e artes, por aqui se desenvolvem e se ensinam concepções diferenciadas.

“Para estudar a mesma matemática que teria em seu país de origem, mas enfrentando as dificuldades de um lugar que não se conhece e tendo que fazer disciplinas em português etc., talvez o aluno pense que não vale a pena. De outro lado, faz muito sentido ter contato com coisas diferentes e com o viés da América Latina nas áreas de humanidades”, diz o assessor. Outras hipóteses para explicar o fenômeno poderão ser avaliadas no futuro.

A USP também tem razões para se considerar satisfeita com a razão da escolha feita pelos entrevistados para o intercâmbio: 48% citaram o prestígio da Universidade como sua principal motivação. Para 19%, foi a localização em São Paulo, enquanto 16% apontaram uma sugestão feita por algum professor. Além da boa avaliação geral, a pesquisa mostra que a grande maioria dos alunos estrangeiros está satisfeita com a qualidade das atividades acadêmicas, do tempo dedicado ao estudo, das instalações e das bibliotecas da USP. Os restaurantes universitários, por exemplo, foram considerados excelentes ou bons por 85% dos alunos.

Boa parte dos problemas e dificuldades que a pesquisa apontou se relaciona com temas que vão alimentar muito mais o trabalho da SPTuris e do poder público do que a Universidade diretamente. O transporte público, por exemplo, foi considerado fraco ou ruim por 41% dos entrevistados, enquanto 46% deram as mesmas respostas em relação à sensação de segurança na cidade.

Políticas de recebimento

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

O número de alunos em mobilidade internacional aumenta de forma consistente. No caso dos brasileiros enviados ao exterior, há muito mais bolsas à disposição – como as do programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal, e as de iniciativas próprias, como as bolsas Mérito Acadêmico e de Empreendedorismo da USP. O número de estudantes que a Universidade recebe de outros países tem crescido em torno de 20% anualmente nos últimos quatro anos. Em 2013, são cerca de 1.500 alunos estrangeiros na graduação.

Para Claudio Possani, além da maior visibilidade da USP proporcionada pela boa colocação nos rankings internacionais, outros fatores conjunturais colaboram para a procura da Universidade. O crescimento da economia, as oportunidades em várias áreas profissionais do País e o sucesso de programas sociais brasileiros são aspectos que repercutem bem no exterior, considera.

As pesquisas com os estrangeiros continuarão a ser feitas semestralmente em conjunto pela Vreri e pela SPTuris e devem incluir novas categorias. Alguns alunos de campi do interior, embora não fossem o público-alvo dessa primeira rodada, conseguiram acessar a enquete com o número USP. Eles serão ouvidos nas próximas edições. Para o órgão de turismo, é interessante saber, por exemplo, se esses estudantes visitam São Paulo durante seu intercâmbio; se vêm, o que fazem na cidade; se não vêm, como atraí-los. A ideia é que seja produzida, ao longo do tempo, uma base de dados partilhada entre a Universidade e a Prefeitura.

Para a USP, o interesse principal é melhorar suas políticas de recebimento e identificar áreas às quais deve dedicar maior atenção. Um dos pontos que a primeira pesquisa já demonstrou é que, como muitos alunos estrangeiros acabam utilizando a Cidade Universitária como espaço de lazer aos finais de semana, o debate sobre o “uso inteligente do campus” precisa ser intensificado. “Não podemos transformá-lo num parque, mas o campus também não pode ser fechado. Essa é uma questão na qual a administração tem trabalhado muito”, diz Possani. “O importante é que a USP teve uma nota geral alta e se saiu muito bem nessa primeira avaliação”, conclui.

Prestígio e cultura motivam estrangeiros

Foto: Cecília Bastos
Foto: Cecília Bastos

A boa reputação da USP foi a principal razão da escolha para os estudantes franceses Simon Suire, de 24 anos, e Clara Defranould, de 21, que fazem intercâmbio no curso de Engenharia Química da Escola Politécnica. “As aulas são interessantes, os professores sabem ensinar bem e temos suporte de materiais também pela internet”, diz Simon. Para Clara, uma diferença marcante está nas escalas: ela vem de Nancy, no nordeste do país, com uma população de pouco mais de 100 mil habitantes. “Minha faculdade tem 200 alunos”, compara. Já Simon no início estranhou a “bagunça” das ruas e dos transportes, mas no geral acha São Paulo bonita.

O Parque do Ibirapuera é citado pelos dois colegas como grande atrativo da cidade. O parque é o local turístico mais visitado pelos alunos, de acordo com a pesquisa da Vreri e da SPTuris , com 71% das respostas. Outros pontos que os alunos mencionaram são a avenida Paulista (41%), o Museu de Arte de São Paulo (Masp), com 31%, e a Vila Madalena (19%). No tempo livre, os alunos visitam museus (54%) e parques e áreas verdes (54%) e apreciam a gastronomia (49%) e a vida noturna (bares), com 48%. “As festas na FFLCH também são muito boas”, diz Simon.

O interesse em conhecer novas culturas também motivou a vinda de Clara. “Quando cheguei, não falava nada de português e era muito difícil entender o que as pessoas diziam”, conta. O sotaque permanece forte, mas a convivência diária com os colegas e as duas aulas semanais da língua fizeram com que a estudante alcançasse fluência rapidamente.

O interesse cultural é uma das razões citadas por Arielle Ngo, de 23 anos, também aluna da Engenharia Química. Ao contrário dos colegas, que ficam somente neste semestre e depois pretendem viajar algumas semanas pelo País antes de voltar à Europa, ela vai permanecer um ano e meio para fazer um programa de duplo diploma. Arielle é da Martinica, departamento ultramarino francês no Caribe, onde vivem seus pais. Ela estuda na França e já cursou dez anos de espanhol, o que ajudou a lidar com o português. Aguardando o almoço na fila do bandejão central, Arielle comenta que não coloca os restaurantes universitários da USP na categoria top da gastronomia – como 41% dos entrevistados na pesquisa, que os consideraram excelentes, mas não vê isso como um problema. “Na França, o bandejão não é bom, mas também não é caro”, compara.

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