Nano em grande escala: nanoarte colabora no ensino e divulgação da área

Arte, tecnologia e interação com estudantes estimulam disseminação de conceitos da nanociência ao público.
Arte: Ricardo TranquilinNanoarte
Arte: Ricardo Tranquilin/Nanoarte

Cientistas exploram o universo nanométrico buscando inovações na medicina, novas possibilidades para a tecnologia e aplicações em processos industriais. Mas a pesquisa na área também descobriu que as minúsculas partículas podem oferecer ainda um belíssimo espetáculo visual, atraindo a atenção para o mundo em escala nano. Por meio de imagens obtidas em microscópios eletrônicos de alta resolução, estudiosos ligados ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) e ao Instituto Nacional de Ciência dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN) perceberam que poderiam aliar arte e informação e criaram o Nanoarte.

Óxidos de vários tipos, polímeros e outras substâncias utilizadas nas pesquisas do grupo foram retratados com um toque artístico. Produzidas em branco e preto, as imagens selecionadas foram coloridas no computador e, algumas, escolhidas para compor vídeos, acompanhados de trilha sonora com música erudita. Em alguns casos, a aplicação da técnica acabou tornando as imagens parecidas com objetos do cotidiano – o óxido de prata, por exemplo, se parece com um amontoado de bolas de tênis; o óxido de cobre pode ser confundido com novelos de lã.

Desde 2008, quando teve início o projeto, os trabalhos do Nanoarte já foram expostos em eventos nos Estados Unidos e em Israel, e também em um dos encontros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O CMDMC e o INCTMN são formados por grupos de pesquisadores da USP, Unesp, UFSCar e Ipen (autarquia estadual associada à USP). Segundo o vice-coordenador do INCTMN e Pró-Reitor de Graduação da USP, Antonio Carlos Hernandes, no momento não estão sendo produzidos novos vídeos e fotos artísticas, mas a divulgação continua. “O projeto Nanoarte passou para a fase de aplicação de cursos e palestras em escolas com a disseminação de conceitos de física e química associados à questão da nanotecnologia”, afirma.

Outra iniciativa que alia arte e ciência é o Concurso de Imagens em Ciências da Vida, promovido pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP em parceria com a Carl Zeiss desde 2012. O concurso premia imagens produzidas por meio de microscopia eletrônica e o universo nano frequentemente é retratado nas imagens, que buscam despertar o interesse pela pesquisa. O prêmio Nobel de Química de 2014, inclusive, foi destinado a um trio de cientistas que conseguiram elevar a capacidade dos microscópios a um novo patamar, tornando possível observar com mais detalhes a realidade em escala nanométrica.

Arte: Ricardo Tranquilin e Rorivaldo Camargo
Arte: Ricardo Tranquilin e Rorivaldo Camargo/Nanoarte

Do laboratório para a sala de aula

Coordenador de difusão científica do CMDMC, Hernandes conta que o centro promove cursos de curta duração para alunos do ensino médio e ensino fundamental em diferentes temas de ciências. “Já para os professores, a lógica para divulgar o tema da nanociência e nanotecnologia é outra. Em 2014, apresentamos palestras e minicursos a professores do ensino médio das cidades de São Carlos e Mirassol, no interior de São Paulo, focando a História da Ciência e Meio Ambiente. Nos minicursos, tratamos a evolução da tecnologia e as demandas por energia com o respectivo impacto ao meio ambiente”, conta.

Para a docente Miriam Sannomiya, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, a formação dos professores é um dos principais desafios para a abordagem da nanotecnologia na escola. Pesquisadora na área de química orgânica, Miriam coordenou um projeto sobre materiais didáticos envolvendo o tema. Entre outras constatações, a pesquisa apontou a escassez de materiais, como sites e jogos interativos, que disseminassem conteúdos da área no Brasil. “No exterior existem vários, porém todos em alemão, japonês e inglês”, avalia.

Arte: Ricardo TranquilinNanoarte
Arte: Ricardo Tranquilin/Nanoarte

Assim, junto à professora Kathia Honório, também da EACH, Miriam criou um site, o Nanoeach, reunindo jogos, vídeos e conteúdos diversos que abordam as características, desafios e conceitos que envolvem o mundo nano. “Como vários produtos que usufruímos hoje em dia são oriundos da nanotecnologia, é imprescindível que as pessoas tenham um conhecimento mínimo do assunto”, comenta.

Para o professor Antonio Carlos Hernandes, é preciso estimular a abordagem da ciência envolvendo diversas temáticas, de forma ampla, levando o aluno a pensar de maneira aberta – e as aulas práticas, nesse sentido, são sempre motivantes. “O estudante deve ser estimulado a ver a natureza ao redor como um grande laboratório”, acredita. “A nanociência/nanotecnologia pode ser usada para trabalhar conceitos de escala, grandezas, potências de dez em matemática, e por aí vai”, completa. Segundo Hernandes, embora seja grande o desconhecimento dos alunos em temas de ciência e tecnologia, a experiência de apresentar palestras e cursos em escolas mostra que muitos se interessam pelo assunto e depois procuram a universidade, prova de que, assim como as nanopartículas podem fazer avançar muitos passos na ciência, tais iniciativas também podem ter grande impacto na formação dos estudantes.

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