Prática de futsal tem efeito positivo em pessoas com deficiência intelectual

Práticas de treinos possibilitam melhora no desempenho individual de pessoas com DI em atividades coletivas.

Fernando Pivetti/Agência USP de Notícias

Um programa de incentivo à prática de futsal por pessoas com deficiência intelectual (DI), orientado pelo professor Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho Dantas, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, permitiu um significativo desenvolvimento das ações independentes dessas pessoas. No projeto, os participantes apresentaram evoluções nas ações de jogo, como comunicação, visão tática e trabalho em grupo.

Para a profissional em educação física Érica Roberta Joaquim Lago, autora do estudo, a proposta de verificação dos efeitos do programa de futsal para pessoas com DI partiu do interesse pela contraposição contida na perspectiva tática de ensino dos jogos coletivos e as características da pessoa com DI. “Essa perspectiva é muito utilizada em treinamentos de pessoas sem DI. O que sempre questionei era o por que não utilizá-la com pessoas com DI? Apesar das características que geralmente acompanham a pessoa com deficiência, ninguém sabe até que ponto essas pessoas podem se desenvolver.”

A amostra do estudo foi composta por 11 alunos com deficiência intelectual, com idade entre 18 e 40 anos, inscritos no programa denominado “Futebol Especial”, realizado no Centro de Práticas Esportivas (Cepeusp) da USP. As sessões de treinamento foram compostas por três fases: aquecimento com duração de 20 minutos, parte principal de treinos com duração de 40 minutos e exercícios de conclusão com duração de aproximadamente 20 minutos. “Na fase de aquecimento as atividades propostas consistiam de tarefas simplificadas, onde o principal foco eram as ações individuais, como domínio da bola, passes e posicionamento.”

A parte principal foi constituída por ações de jogo modificadas (regras, configuração das equipes, restrição de espaços) e que envolviam tarefas de cooperação e oposição. “Já a parte final das aulas era composta por jogos formais, nos quais os alunos foram frequentemente orientados e questionados quanto às ações de jogo, recebendo feedback positivo ao realizarem as ações adequadas às demandas”.

Para avaliação das ações do jogo, foram realizadas filmagens do jogo formal, com duração de 8 minutos, dos participantes antes do início das aulas e ao término do programa de 30 aulas. “As ações de jogo foram codificadas em eventos de forma manual sendo quantificada a frequência dos eventos executados”. Cada jogador foi avaliado individualmente e os registros foram realizados a partir da observação das ações de jogo de um jogador por vez.

Neste estudo a categorização e a seleção das ações avaliadas foram definidas com base em observações de jogos formais dessa população realizados antes do inicio da intervenção, com o auxílio de pesquisadores do grupo de estudos sobre o ensino dos jogos coletivos da EEFE. Esses pesquisadores, que também auxiliaram na avaliação do desempenho dos alunos, contribuíram com o a elaboração de uma representação das possíveis tomadas de decisão, identificando possíveis estratégias para efetivação das ações selecionadas para cada demanda, sendo essas informações utilizadas durante todo o programa de intervenção.

Dos 11 participantes do projeto, nove deles apresentaram melhora no desempenho das ações de jogo após o programa de ensino, e apenas dois mantiveram o desempenho semelhante ou tiveram uma pequena redução na quantidade de ações. “Com relação aos dois alunos que apresentaram desempenhos praticamente semelhantes em suas avaliações pré-intervenção e pós-intervenção, é relevante acentuar que ambos apresentaram o melhor desempenho do grupo na avaliação inicial, e que estes são normalmente os alunos que se destacam durante as aulas em função do seu melhor desempenho.”

A pesquisadora ressalta algumas alterações comportamentais significativas nos participantes durante o processo. Segundo ela, os jogadores passaram a se comunicar mais de forma gestual e verbal, bem como superaram algumas situações conflitantes de jogo, como superioridade numérica do time adversário. Érica chama a atenção para o destaque das potencialidades da pessoa com DI e não suas dificuldades. “Demonstramos que, potencialmente, essa abordagem de ensino que prima por aspectos cognitivos durante todo o processo de ensino pode possibilitar uma melhor apropriação do “fenômeno jogos esportivos coletivos”, culturalmente tão importante em nosso país, por pessoas com dificuldade de aprendizagem e compreensão como as pessoas com DI”.

Mais informações: email ericajoq@usp.br

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