Quando o assunto é arte, as discussões podem não ser necessariamente sobre forma, estética e composição. Há também quem estude o impacto das obras e a recepção social dos trabalhos, assim como os fundamentos psicológicos do processo artístico. Esse é o caso do Laboratório de Estudos em Psicologia da Arte (Lapa), do Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Criado na década de 1980, o Laboratório teve início como um grupo de estudos promovido pelo professor João Frayze-Pereira, que foi coordenador do Lapa até 2006, ano em que o atual coordenador, o professor Arley Andriolo, assumiu o cargo. Segundo Andriolo, o Laboratório atua de duas formas principais: através de pesquisas, que envolvem tanto alunos da graduação quanto da pós, e da formação de grupos de estudo e eventos, como colóquios e seminários. “O nosso foco é no processo social da arte”, diz.
Arte e relações sociais
Apesar de pouco conhecida, a área da psicologia social que discute o tema da arte trata o assunto sob diversos aspectos. Andriolo conta que quando a biografia de um artista e os seus trabalhos são analisados, por exemplo, são consideradas questões como a relação com o público em exposições, com a crítica, e assim por diante. “A gente estuda essa obra em sua vida social”, afirma.
De acordo com ele, o trabalho do Laboratório é uma contribuição social ao conhecimento sobre arte. “A gente tenta trazer a discussão da arte para o cotidiano, para a vida das pessoas”. Em uma segunda vertente, o professor acredita que o Lapa colabora com o tema do que ele chama de “arte do processo social”, que investiga os modos como podemos realizar nossa potência artística nas relações sociais. “Estamos trabalhando um pouco nesse sentido também”, completa.
Pesquisa e extensão
O Lapa é dividido em duas principais linhas de pesquisa: “Arte e Psicanálise” e “Percepção e Experiência Estética na Vida Social”. A primeira vertente realiza estudos teóricos e pesquisas de questões estéticas a fim de interrogar os fundamentos psicológicos e sociais do processo artístico, o modo de simbolização envolvido nos fenômenos da criação e da recepção, e as possibilidades da psicanálise para crítica de arte. A segunda linha procura compreender a percepção do viajante, do artista e do habitante, sobretudo, nas localidades onde se encontram interações de práticas artísticas.
Para Andriolo, “todas as pesquisas trouxeram contribuições, mesmo as mais simples”. Entre as que ele orientou recentemente, destacou alguns trabalhos de mestrado, como o desenvolvido por um estudante de terapia ocupacional, que acompanhou exposições dos Centro de Atendimento Psicológico (CAPs). No estudo, o aluno analisou como as pessoas recebiam essas obras, que são criadas em um contexto terapêutico. “Ele conseguiu produzir um conhecimento muito interessante, que tem uma representatividade para os organizadores dessas exposições, e para os frequentadores também”, explica o professor.
A realização de eventos pelo Lapa visa promover o compartilhamento do conhecimento. Todos os anos são organizados diversos seminários e cursos sobre o tema da psicologia social da arte. Os mais importantes ocorreram em 1995 e 2007: foram os colóquios internacionais de psicologia da arte. A primeira edição teve como tema “Arte e dor” e envolveu inclusive a projeção de filmes. Apesar de menor, o segundo colóquio contou com uma boa participação. “Tivemos mais de 100 participantes com resumos e projetos”, diz Andriolo.
Experiências
Outra forma de atuação do Laboratório é através das disciplinas, ministradas em todos os níveis de formação. Na graduação, existe a optativa “Psicologia Social da Arte”, que procura divulgar as pesquisas e mostrar formas de se trabalhar o assunto. “Em grande parte, os alunos que vêm fazer iniciação científica, passaram por essa disciplina”. Na pós, há a tentativa de criar um quadro teórico em que se fundamente conceitos e teorias. “São cursos sobre as área de pesquisa que temos”, explica o professor.
Entre os integrantes do Laboratório, nem todos são da área da psicologia. Existem, ainda, alunos de biologia, geografia, além de uma médica e uma terapeuta, que são de fora da Universidade. De acordo com Andriolo, essa diversidade, que é muito enriquecedora, é um dos objetivos do grupo. “Eles trazem a experiência de diferentes profissionais, de outros lugares, e de fora da academia”, completa.