Implantar parque linear requer maior participação popular

O estudo feito pela FAU defende que os moradores participem do planejamento da implantação dos parques paulistas.

Pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP analisa o processo de implantação de parques lineares na cidade de São Paulo. O trabalho mostra os benefícios que os parques, associados à rede hídrica, trazem para a recuperação de áreas de fundo de vale de córregos e rios e na qualificação das regiões próximas, além de criar uma opção de lazer para a população. No entanto, o estudo da arquiteta Mariana Soares defende que os moradores do entorno tenham maior participação no planejamento dos parques, associada a um diagnóstico socioambiental mais aprofundado.

Segundo o Departamento de Parques e Áreas Verdes da Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) da Prefeitura Municipal de São Paulo, atualmente a cidade possui 18 parques lineares já implantados. “São parques urbanos associados à rede hídrica, áreas verdes com equipamentos de lazer, abertas ao público dia e noite”, relata a arquiteta, que analisou três parques na zona oeste de São Paulo. “No Parque Linear Nascentes do Jaguaré, a implantação iniciada em 2007 está estagnada, pois atualmente não é considerada prioritária em nenhuma instância, de modo que nada está sendo feito a não ser a manutenção dos trabalhos socioeducativos junto à comunidade”.

No córrego do Sapé, localizado no Rio Pequeno, a implantação do parque linear, iniciada em 2009 e prevista para duas etapas, incluiu a reurbanização da favela do Sapé. “Parte da população foi removida, porém algumas das construções originais (cerca de 130 famílias) foram mantidas, o que tornou hostil a relação dessa população com o processo de urbanização e implantação da fase 2 do Parque do Sapé, ainda não concluída”, afirma Mariana. “O problema evidencia a situação encontrada nos fundos de vale ocupados irregularmente por habitação precária. Embora os parques sejam uma oportunidade de revitalização, existe o desafio de se equacionar a urbanização com as funções ecológico-ambientais do parque”.

No caso do Córrego das Corujas, que percorre os bairros de Vila Madalena, Vila Beatriz, Pinheiros e Alto de Pinheiros, a mobilização dos moradores das proximidades obteve a revitalização da Praça Dolores Ibaurri, conhecida como Praça das Corujas, com área de 24.000 metros quadrados (m²), concluída em 2010. “A Praça ganhou elementos de infraestrutura verde e houve diminuição dos alagamentos. No local, além de atividades de lazer, é mantida uma horta comunitária e são realizadas ações de educação ambiental”, conta a arquiteta. “Em 2012, foi concebido o Parque das Corujas, numa área vizinha à Praça, onde o córrego permanecia a céu aberto. O caso mostra a força da mobilização popular como catalizadora da revitalização e valoriza a apropriação do espaço pela população do entorno na gestão e manutenção da área”. Embora o conjunto tenha características de parque linear, não é considerado parque por ser obra da Subprefeitura de Pinheiros, não da SVMA.

Avaliação Pós-Implantação

De modo geral, na avaliação pós-implantação dos parques lineares da cidade de São Paulo, eles são compreendidos como uma intervenção que qualifica o espaço público, com significativos reflexos na valorização do próprio bairro. “Além disso, em muitos casos, o parque linear surge para essa população como único local de lazer, com possibilidade de oferecer espaço para práticas recreativas, esportivas ou de contemplação e contato com uma área verde ou participação em eventos culturais”, destaca Mariana.

A população beneficiada com a criação do parque linear reconhece sua incompletude, no sentido de que questões fundamentais, entre as quais a despoluição do córrego, com frequência, não foram resolvidas. “Na maioria dos parques lineares, o mau cheiro, a coloração da água e a presença de lixo nas margens e no leito do córrego são queixas frequentes da população”, relata a arquiteta. “A falta de manutenção sistemática da infraestrutura também foi apontada como um problema, conferindo a percepção de abandono do lugar”.

Em nenhum dos casos avaliados houve um processo de participação pública na elaboração e desenvolvimento dos projetos. “Faltou uma estratégia que orientasse a participação pública ativa, além da simples consulta ou divulgação de informação, de modo a configurar um processo participativo”, aponta Mariana. “Também não houve uma caracterização ou um diagnóstico socioambiental prévio da área e de seu entorno, abordando aspectos demográficos locais, existência de equipamentos e serviços públicos, projetos ou programas com alguma interface com o parque”.

Segundo a arquiteta, a pesquisa considera de suma importância a realização de diagnósticos socioambientais que adotem a sub-bacia hidrográfica como unidade de análise e intervenção, no início do projeto dos parques lineares. “Sua implantação deve ter a participação da população em todo o processo, pois é uma forma de construir cidades mais humanas e democráticas”, conclui. O orientador da pesquisa foi o professor José Pedro de Oliveira Costa, da FAU.

Foto: Mariana Soares
Mais informações: email marisoarespaisagismo@gmail.com, com Mariana Soares

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