Quarta edição da revista aParte investiga o cômico

Quarta edição da revista teatral aParte, que teve seu primeiro número lançado em 1968, discutirá o cômico.

Após a retomada de sua publicação no ano passado, a revista de debates teatrais aParte, criada pelo Teatro da USP (Tusp), chega, na quarta-feira (28), à sua quarta edição. Neste número, os textos abordarão os diversos aspectos do cômico. Segundo Ferdinando Martins, vice-diretor do Teatro da USP (Tusp) e um dos coordenadores editorais da revista, a escolha do tema se dá “a partir de sua capacidade de tensionar o debate”.

A noite de lançamento contará, também, com a quarta edição da A (p)Arte da Vez, assembleia de manifestações artísticas promovida pelo Tusp.

A aParte tem seu início nos meses de março e abril de 1968. Criada pelo grupo Teatro dos Universitários de São Paulo, a publicação reunia ensaios, análises, colagens e textos teatrais abordando temas políticos e estéticos então contemporâneos. Como não poderia deixar de ser, seu conteúdo era experimental e de viés revolucionário. Em maio e junho do mesmo ano, seu segundo número foi lançado. Com o acirramento dos ânimos políticos, o terceiro número não pôde ser publicado e foi destruido. No final daquele ano viria o Ato Institucional Nº 5, o que impossibilitou de vez novas publicações da revista.

Mais de 40 anos depois, o Tusp, ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade, retomou a publicação da revista. Deise “Dedé” Abreu Pacheco, uma dos coordenadores editoriais da publicação, sintetiza a retomada: “a ideia é: o que a gente pode pegar desse gesto, desta atitude desta revista? E esse gesto, conforme a gente entende, é um gesto de tensionamento”. Publicada em dezembro de 2010, a edição 3 da revista aParte teve como fio condutor a análise dos últimos dez anos da produção teatral paulista a partir dos desdobramentos do movimento “Arte Contra a Barbárie” (veja mais à frente).

Entre os destaques estiveram a republicação do texto “Dez Teses sobre o Teatro Universitário”, de Martin Wiebel, publicado inicialmente no primeiro número da revista; “Sobre o Trabalho de Encenação com Artistas Não Profissionais”, de Manfred Wekwerth, e a peça “O Livro”, do dramaturgo e diretor Newton Moreno, que teve papel importante na cena teatral nacional durante na primeira década deste século. A terceira edição teve, ainda, ilustrações de Simone Mina: “uma artista jovem, uma atuante dentro do teatro paulista, inclusive como cenógrafa”, define Dedé.

Cômico

Para a quarta edição, o fio condutor é o cômico. Martins frisa: “não vamos restringir ao humor, ao humorístico, mas sim expandir o debate a tudo que tem de cômico”. Dedé também pontua que “não é o cômico de uma maneira evidente” e dá como exemplo o texto “Sobre o Riso no Teatro de Samuel Beckett”, de Rubens Rusche. Beckett foi um dramaturgo irlandês, conhecido por ter sido um dos criadores do teatro do absurdo.

Assim como na terceira edição, o tensionamento do debate está presente. Uma das questões postas é a da comédia stand up, gênero que vem ganhando popularidade no país nos últimos anos. Martins – que não considera o gênero uma forma de teatro – aponta para a busca que a revista faz em entender as relações entre a prática artística e a indústria cultural. “Porque [o stand up] atrai público, e formas de teatro não atraem?”, reflete.

Dedé aponta outra característica: a investigação das origens do stand up como um meio de expansão e aprofundamento do debate. “A gente quis trabalhar com a ideia de ‘de onde surgiram aquelas coisas que parecem que estão canibalizadas completamente [pelo mercado]?’. Por exemplo, o stand up. A gente foi construir uma relação crítica pra perceber o seguinte: o gênero stand up não é o problema, como gênero. Mas, de onde ele surgiu? Quando ele surgiu? Por que ele surgiu? Naquele momento em que ele surgiu, ele tinha um sentido dentro daquele contexto – e o sentido ali era um sentido de resistência”.

Entre os destaques da edição está “Vale a Pena Falar de Teatro Amador?”, texto inédito no Brasil do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Em “Pensar a Desdramatização a partir de uma Aliança (e alguns risos) com Sotigui Kouyaté: Um Texto-Fala em Sete Fragmentos”, Juliana Jardim aborda a comédia africana a partir de sua experiência com o ator malês. O ator Luis Miranda entrevista Marcelo Mansfield. No texto “Sobre Comédia Stand-Up”, Woody Allen investiga as origens do gênero. Por fim, a peça teatral da edição é “Não Contém Glúten”, de Sérgio Roveri. As ilustrações da edição ficam a cargo de Willian Hussar.

Para o lançamento, acontecerá a quarta edição do A (p)Arte da Vez, uma assembleia de manifestações artísticas realizada por universitários. Para esta edição, 11 grupos participarão do evento, que ano passado foi tido por críticos como a surpresa do ano.

Veja abaixo vídeo do lançamento da terceira edição da revista, produzido pelo Tusp:

http://www.youtube.com/watch?v=5LEXOvL818M

Serviço

O lançamento da quarta edição da revista aParte e o A (p)Arte da Vez acontecem dia 28, às 20 horas, no Tusp. A entrada no evento e e a revista são gratuitos. A instituição tem convênio com o estacionamento Miriauto.

O Tusp fica na Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque, São Paulo.

Para maiores informações: (11) 3123-5233, blog www.tusp.blogspot.com ou site www.usp.br/tusp.

O movimento Arte Contra a Barbárie surgiu em 1999 e ganhou força a partir 2000. À época, artistas, grupos de teatro e intelectuais paulistas se juntaram para discutir a mercantilização imposta à cultura e reivindicar mudanças nas leis de incentivo fiscal. Confira os manifestos do movimento Arte Contra a Barbárie e o Manifesto Pela Lei de Fomento, disponibilizados no site da Companhia do Latão.

O Arte Pela Barbárie conseguiu, em 2002, a promulgação da Lei de Fomento ao Teatro, que atualmente é utilizada como modelo e como referência nacional de políticas públicas para a cultura.

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