Biodiversidade da Mata Atlântica beneficia produção de banana

Um amplo e inédito estudo sobre a variedade de banana nanicão foi realizado no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (Napan) e Food Research Center (FoRC), que é um Centro de Pesquisa e Difusão (CEPID) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ambos sediados na Faculdade de…

Um amplo e inédito estudo sobre a variedade de banana nanicão foi realizado no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (Napan) e Food Research Center (FoRC), que é um Centro de Pesquisa e Difusão (CEPID) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ambos sediados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Durante quatro anos de estudos em campo e em laboratório, os cientistas analisaram a influência da biodiversidade da Mata Atlântica na produção da fruta, na região do Vale do Ribeira, em São Paulo. Entre as constatações, a de que a biodiversidade nativa traz benefícios em diversos aspectos da produção, inclusive em relação à Sigatoka Negra, doença que atinge as plantações de banana.

banana5As análises foram realizadas em duas áreas de plantação, cada uma com meio hectare, em média. “Numa delas, havia um fragmento remanescente de Mata Atlântica no entorno”, conta a professora Beatriz Rosana Cordenunsi, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da FCF, que coordenou todo o trabalho. Esta área foi denominada pelos pesquisadores de Biodiversidade no Entorno (BE). A outra porção selecionada, cercada por outros pés de banana, foi descrita como Monocultivo no Entorno (ME).

Uma característica semelhante nas duas áreas estudadas é que os agricultores se utilizam da aplicação de agrotóxicos para combater a Sigatoka Negra, que tem como vetor o fungo Mycosphaerella fijiensis. “As aplicações são feitas por aviões, chegando a atingir locais em que são proibidas”, conta a engenheira agrônoma Florence Polegato Castelan, então doutoranda da FCF, que participou do projeto. Segundo ela, a doença ataca as folhas da bananeira, encurtando o ciclo de produção da fruta. “Pudemos observar que, na área de monocultivo, o índice da doença foi cerca de 40% maior em relação à parcela junto à biodiversidade”, destaca.

Amadurecimento

Outra constatação feita pelos cientistas foi em relação ao tempo médio de amadurecimento do fruto. Ainda nas observações em campo, foi constatado que as plantas da área de monocultura levaram, em média, sete dias para amadurecer. “Enquanto isso, as frutas próximas da biodiversidade tiveram um tempo médio de 12 a 15 dias”, conta Beatriz. Segundo ela, o amadurecimento rápido é um fator prejudicial ao agricultor porque gera perdas do produto. “Podemos concluir, enfim, que de um modo geral as plantas localizadas junto à biodiversidade são mais saudáveis em relação às da monocultura”, afirma a pesquisadora.

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Foto Aérea referente às parcelas Biodiversidade – B e Controle – C
Fonte: Base de dados do Incra

Além das constatações em campo, os cientistas também verificaram outras alterações e diferenças nos laboratórios do Napan. O farmacêutico Victor Castro Alves, então mestrando em Ciências dos Alimentos na FCF, destaca que a manutenção de um sistema que privilegia a biodiversidade na cultura exerce influência positiva no metabolismo da fruta. “Houve mudança no aroma e até mesmo no tamanho e na longevidade. No cultivo próximo a biodiversidade, os frutos duram mais e são mais homogêneos ”, descreve. Os cientistas também realizaram análises dos compostos fenólicos, metabolômica e proteômica dos frutos.

Os estudos sobre os diversos aspectos da cultura da banana nanicão analisaram frutos de oito colheitas, realizadas no período de dois anos. “Até hoje temos amostras em laboratório” conta Beatriz. A coordenadora do projeto avalia que não há no Brasil, ou mesmo no exterior, um projeto com esta dimensão. “Demonstramos, até aqui, que há vantagens na manutenção de fragmentos florestais na propriedade agrícola. Contudo, trata-se de uma condição a que os produtores da região ainda não puderam perceber”, aponta.

Além de Victor Castro Alves e Florence Polegato Castelan participam do projeto as pesquisadoras Talita Pimenta Nascimento, Lorenzo de Amorim Saraiva e Maria Fernanda dos Santos Nobre Calhau. “O projeto teve início em 2010, mas ainda há muito a caminhar”, conta a docente. O Brasil está entre o quarto e quinto maior produtor de banana do tipo nanicão do mundo. “Entres os maiores exportadores, estão o Equador e a Costa Rica. A produção brasileira é quase voltada toda para o consumo interno”, ressalta Florence.

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