Esalq desenvolve aplicativo para mapeamento da vegetação urbana

Caio Hamamura, autor da pesquisa, criou o aplicativo Kuwahara 0.4., que permite trabalhar com imagens grandes (com mais de 100 megapixels) de satélite, com ruído reduzido sem perder em definição de imagem.

Caio Albuquerque / Assessoria de Imprensa da Esalq

A arborização urbana é um dos critérios de avaliação de planos de ações ambientais inseridos no Programa Município VerdeAzul, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Entretanto, o mapeamento da vegetação urbana, tem se restringido às áreas públicas ou à área total, não deixando de forma evidente a contribuição dos quintais privados para a vegetação urbana”, avaliou o biólogo Caio Hamamura.

No Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, Hamamura testou diversos métodos para tentar mapear as áreas de quintais permeáveis com o intuito de desenvolver um método que pudesse auxiliar o planejamento urbano e a investigação da contribuição dessas áreas para a vegetação urbana.

“O trabalho conseguiu resultados com acurácia bastante elevada e apresentou técnicas inovadoras de filtragem e classificação, destacando-se o aplicativo desenvolvido para realizar a filtragem Kuwahara, que demonstrou melhorar bastante os resultados de classificações por abordagem de pixels”, explica o biólogo. Ele reforça que alguns trabalhos acadêmicos indicam que essas áreas teriam potencial para mitigar os impactos causados pela urbanização.

Com orientação do professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais (LCF) da Esalq, a pesquisa de Hamamura apontou que as classificações de abordagem por pixel levaram a resultados estatisticamente até melhores que a classificação orientada a objetos. No entanto, a apresentação visual dos resultados da classificação orientada a objetos é superior pela redução do ruído, ou melhor resolução.

“Existe uma quantidade considerável de trabalhos que estudam a vegetação urbana por mapeamento a partir do sensoriamento remoto, no entanto existem poucos que discriminam a vegetação correspondente à área de quintais privados”, afirma. O sensoriamento remoto é uma ferramenta para estudo da paisagem a partir de mapas, imagens e modelos georreferenciados. As imagens são adquiridas por fotos aéreas, videografia, sensores de satélites ou a partir da superfície.

Método para enxergar melhor

Para fins de interpretação da imagem, o trabalho considerou como quintal qualquer área permeável (com solo exposto, relvado ou copa de árvore) que esteja dentro de uma quadra tipicamente residencial. “Para tanto, reconhecemos inicialmente quais são as quadras residenciais, ou seja, aquelas que possuem predominância de telhas cerâmicas e aqueles, em casos de casas de baixa renda, que possuem predominância de telhas cinzas (de amianto)”, conta Hamamura.

No trabalho foram utilizadas imagens com as quatro bandas padrão (azul, verde, vermelho e infravermelho-próximo) obtidas pelo satélite da DigitalGlobe WorldView-2.  As imagens utilizadas retratam o município de Rio Claro (SP) e foram adquiridas para atender outro estudo desenvolvido também no Laboratório de Silvicultura Urbana da Esalq.

Na prática, o biólogo utilizou o programa Quantum GIS, um sistema de informação geográfica livre de desenvolvimento colaborativo que, a partir da pesquisa de Hamamura, passou a contar com o aplicativo Kuwahara 0.4. “Esse filtro já existe, mas era utilizado em trabalhos artísticos, na área médica ou na área publicitária, para tratamento de imagens ou inserção de efeitos de cores”, explica o biólogo. De acordo com o pesquisador, a diferença é que o filtro desenvolvido permite trabalhar com imagens grandes (com mais de 100 megapixels) normalmente utilizadas em estudos do tipo. O filtro Kuwahara uniformiza as imagens na medida em que preserva as bordas dos pixels. “Em outras palavras, reduzimos o ruído sem perder em definição de imagem, melhorando a qualidade da classificação dos objetos provenientes das imagens de satélite”, avalia.

A área dos quintais pode representar uma grande proporção da área urbana total. “Os quintais privados ou domésticos têm características muito distintas das áreas públicas. Por serem de domínio privado, eles variam muito conforme as necessidades e os recursos de cada proprietário. Por isso, o mapeamento dessas áreas, além de representar boa parte do uso do solo urbano, pode apresentar uma ferramenta importante para análise da ecologia urbana devido à grande variabilidade de hábitat. Conhecer qual a contribuição dos quintais privados para a vegetação total da área urbana pode fornecer bases para o planejamento urbano e para políticas públicas para essas áreas”, acredita Hamamura.

Mais informações: site www.esalq.usp.br

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