Os carrapatos foram encontrados em animais silvestres do zoológico de Sorocaba e de outros 20 municípios do interior de São Paulo
Uma das grandes preocupações dos zoológicos ao receberem animais silvestres da natureza é verificar a presença de carrapatos, realizando ações de inspeção e quarentena para evitar infestação. Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), estudo realizado pelo médico veterinário Thiago Fernandes Martins quantificou a ocorrência de carrapatos duros em animais silvestres recebidos e atendidos no Zoológico de Sorocaba (interior de São Paulo), durante os exames clínicos de rotina do Parque. O objetivo é aumentar o conhecimento sobre os carrapatos que parasitam a fauna silvestre brasileira.
A coleta dos carrapatos aconteceu no período entre setembro de 1999 a maio de 2015, e foi realizada em animais silvestres da região de Sorocaba e de outros 20 municípios do interior do estado de São Paulo, atendidos pelo Hospital Veterinário existente no Parque. Ao todo foram analisados dois répteis (cobra falsa coral e cágado pescoço de cobra), duas aves (sendo duas seriemas) e 99 mamíferos. “Entre eles estão 4 lobos guará, 2 onças parda, 1 mão pelada, 21 tamanduás bandeira, 8 tamanduás mirim, 4 preguiças comum, 1 bugio ruivo, 12 ouriços cacheiro, 1 anta, 17 veados catingueiro e 28 capivaras”, conta o pesquisador. “Os carrapatos foram coletados em todas as partes do corpo dos animais, inspecionados pelo doutor Rodrigo Teixeira, médico veterinário, e sua equipe no Setor Veterinário do Parque Zoológico”.
Todas as espécies de carrapatos identificadas no estudo já eram conhecidas no Brasil. “Entretanto, o estudo relata os primeiros registros (carrapato-hospedeiro) no território nacional de fêmeas de Amblyomma rotundatum parasitando cobra falsa coral e cágado pescoço de cobra”, ressalta Martins, “assim como ninfas de Amblyomma dubitatum e Haemaphysalis juxtakochi em lobo guará, ninfas de Amblyomma brasiliense em tamanduá bandeira e tamanduá mirim, além de ninfas de Amblyomma sculptum em ouriço cacheiro e no macaco bugio ruivo”.
De acordo com Martins, devido aos hábitos alimentares dos carrapatos, eles constituem o primeiro grupo em importância de vetores de agentes infecciosos para animais. “Entre os microrganismos transmitidos, incluem-se vírus, bactérias, protozoários e helmintos”, observa.
Inspeção
A coleta dos carrapatos foi realizada por inspeção. “Os carrapatos fixados aos animais silvestres foram detectados na pele e cuidadosamente removidos manualmente, sendo armazenados vivos em frascos tipo coletor universal”, aponta o pesquisador. “Os carrapatos coletados foram identificados por espécie e contados de acordo com os estágios de vida, larvas, ninfas e adultos ‘machos e fêmeas’, sendo 43 larvas, 637 ninfas e 1178 adultos, 631 machos e 547 fêmeas, totalizando 1.858 exemplares de 14 espécies distintas de carrapatos”.
O controle de carrapatos é feito habitualmente em zoológicos por veterinários para permitir a manutenção dos animais em cativeiro. “Em Sorocaba, por exemplo, o zoológico recebe cerca de 30 animais por mês, devido a ação humana que destrói seu habitat natural e provoca ferimentos e fraturas nas espécies”, aponta Martins. “Os animais são tratados e, sempre que possível, são reintroduzidos ao meio ambiente, ficando em cativeiro apenas os que não tem condições para voltar a natureza”.
De acordo com o pesquisador, o estudo demostrou a necessidade da inspeção dos animais silvestres recém-chegados da natureza aos zoológicos, assim como o período de quarentena. “Se os carrapatos não são controlados antes dos animais silvestres serem postos em cativeiro, principalmente aqueles oriundos de vida livre, os mesmos podem colonizar os recintos em que estes animais serão mantidos”, destaca, “e desta forma o controle de parasitas nestes locais pode se tornar árduo e custoso”.
O trabalho de pesquisa, desenvolvido desde 1999 pelo professor Marcelo Bahia Labruna, da FMVZ, em parceria com Martins e o médico veterinário Rodrigo Teixeira, deu origem ao artigo Ocorrência de carrapatos em animais silvestres recebidos e atendidos pelo Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, Sorocaba, São Paulo, Brasil, publicado no final do ano passado pelo Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science (BJVRAS).
Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias
Mais informações: email thiagodogo@hotmail.com, com Thiago Fernandes Martins