Estudo de oceanógrafa indica que variações ambientais afetam o desenvolvimento de ostras

Estudo analisou dados comerciais da criação de ostras em Florianópolis (SC), apontando que fenômenos climáticos, como El Niño e La Niña, intereferem nas características da água na área de cultivo

Vitor Francisco Ferreira / Agência USP

A produção de ostras em uma fazenda marinha depende das características genéticas do animal, mas também da água e dos processos de manejo utilizados. Por exemplo, dependendo da espécie criada, quando a temperatura da água é muito alta, a sobrevivência das ostras pode ser menor. Em um período de maior disponibilidade de alimento, porém, o tempo de cultivo pode ser menor e as ostras podem se desenvolver mais rapidamente, amenizando os efeitos negativos da alta temperatura. No entanto, as melhores épocas para a semeadura são meses de temperatura mais baixa da água. “Alguns fenômenos de larga escala, como El Niño e La Niña, modificam o regime de ventos da região, o que muda as características da água na área de cultivo, possivelmente influenciando os resultados das safras de ostras”, afirma a pesquisadora Darien Danielle Mizuta, autora de um estudo de mestrado realizado no Instituto Oceanográfico (IO) da USP.

A pesquisa foi realizado com base em dados de produção comercial da ostra Crassostrea gigas, conhecida como ostra-do-pacífico, na Fazenda Atlântico Sul, localizada em Florianópolis (SC). O trabalho teve como objetivo estudar como os dados de produção de uma fazenda comercial foram influenciados pelas características hidrológicas da região de cultivo. “O destaque para o fato de serem dados comerciais é importante porque a maioria das pesquisas são feitas com experimentos que não necessariamente levam em consideração a forma de manejo que está sendo feita em escala comercial, nem as necessidades e restrições da produção comercial. Estas necessidades são, muitas vezes, desconhecidas pelos pesquisadores. Isso faz com que os resultados das pesquisas sejam pouco utilizáveis pelo setor da maricultura [cultivo de ostras e mexilhões]”, explica Darien.

O período analisado foi de 2005 a 2009. O tempo médio de cultura na região foi de aproximadamente 16 meses e a taxa média de sobrevivência das ostras foi de 30%. As taxas de sobrevivência entre as ostras mais jovens eram mais baixas que em animais mais desenvolvidos devido à sua maior fragilidade, que as torna mais suscetíveis aos fatores do ambiente, como temperatura e quantidade de alimento disponível.

Escolhas

Segundo a pesquisadora, a escolha da Fazenda Atlântico Sul não foi por acaso. Ela é considerada a maior do Brasil no ramo. “Além de eu querer trabalhar com a maior do ramo, essa fazenda já havia colaborado com outros trabalhos científicos e também desenvolve sua própria pesquisa, o que demonstrava o interesse e colaboração científica”, conta Darien. Outro fator importante é que, diferente de pequenos produtores, a Atlântico Sul contabiliza os números de produção de cada safra. Esses foram os dados utilizados no trabalho.

A decisão de estudar o cultivo de bivalves se deve à maior sustentabilidade deste tipo de criação. Enquanto peixes e camarões são alimentados com ração, os bivalves (ostras, mexilhões) são animais filtradores. “Eles se alimentam por ingestão de plâncton e detritos na água do mar, sem requerer nenhum outro alimento. Assim, o cultivo de bivalves produz proteína animal de qualidade para alimentar a população humana de modo relativamente fácil. Ótima atividade de produção alimentar para a situação mundial atual e futura”, explica a pesquisadora.

Darien também conta que a espécie Crassostrea gigas foi escolhida por ser o bivalve mais cultivado no mundo e pelo bom desempenho em criação comercial. “A utilização principal é alimentação humana, mas como no Brasil o consumo deste pescado é ainda não é muito grande, a maioria das ostras é consumida localmente, em restaurantes e mercados da própria região costeira produtora”, afirma.

Pesquisa acadêmica e empresa

A pesquisadora, que atualmente cursa doutorado na Universidade de Kyoto (Japão), diz que seu trabalho, defendido em junho sob orientação do professor Daniel Lemos, do IO, contribuiu para aproximar a relação entre os estudos científicos e a produção comercial. “Acredito que por tentar entender o que influenciou os resultados de escala comercial, e por tentar utilizar as bases de dados de monitoramentos ambientais a que todos podem ter acesso, a pesquisa contribuiu de certa forma para a relação ainda pouco existente entre pesquisa acadêmica e empresa”, afirma.

Mais informações: email darien@kais.kyoto.-u.ac.jp, com Darien Danielle Mizuta, ou dellemos@usp.br, com o professor Daniel Lemos

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