Medição de material particulado precisa ser padronizada

Pesquisa feita em Cubatão mostrou a necessidade de uniformidade na medição do material suspenso na atmosfera

Paloma Rodrigues / Agência USP

No Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, a pesquisadora Simone Valarini analisou a composição e a distribuição de tamanho do material particulado (MP)  presente no ar em Cubatão (litoral de São Paulo). Além disso, ela propõe que a medição do MP seja padronizada, para que os resultados sejam melhor avaliados e comparações possam ser feitas. “O Brasil não segue um padrão na medição de partículas finas, nem de partículas grossas”. Sendo assim, não é possível fazer comparações entre cidades, por exemplo.

O material particulado (MP) é constituído por partículas sólidas ou líquidas em suspensão na atmosfera e afetam tanto o clima quanto a saúde. Sua composição e tamanho dependem das suas fontes de emissão e dos processos físico-químicos que ocorrem no ambiente. Segundo a pesquisadora, o Brasil não tem nenhum padrão para as partículas finas, que podem causar problemas de saúde, como a asma. “Para as partículas grossas,  a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, possui um padrão considerado muito alto, que precisa ser revisado”, aponta.

A pesquisa Caracterização do material particulado em Cubatão, orientada pela professora Rita Yuri Ynoue, se destaca porque o último estudo mais detalhado do material particulado (MP) nesta cidade do litoral paulista foi realizado em 1988.  O trabalho estava relacionado ao processo de licenciamento da Usina Termelétrica (UTE) Euzébio Rocha da Petrobrás na cidade de Cubatão e envolvia pesquisadores de diversas áreas, como biológicas e sociais. O intuito da série de pesquisas foi avaliar os impactos gerados na saúde da população devido às alterações na qualidade do ar, causadas pela implementação da usina.

No trabalho de Simone, foram usados dois amostradores para a coleta dos dados: o MOUDI e Mini-Vol. O MOUDI separa as partículas em dez tamanhos diferentes, as partículas maiores ficam nos estágios maiores e as menores nos estágios menores. O Mini-Vol funciona como um filtro, ele separa as partículas finas das partículas grossas.

Seguindo o padrão do Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama), o material particulado, com tamanho menor que 10 micrômetros (µm), está dentro do adequado. Já o material particulado fino  (abaixo de 2,5 µm) apresentou três variações que ultrapassaram o padrão do Conselho Nacional do Meio ambiente (Conama). Ambos estão associadas a ventos fracos, à alta subtropical do Atlântico Sul e a um anti-ciclone migratório, fenômenos climáticos que impediriam a suspensão dos poluentes.

Tempo

As amostragens de Simone ocorreram em 2009 e 2010. No total, foram realizadas oito campanhas de coleta de dados. Foi necessário um levantamento de dados meteorológicos, disponíveis no site da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), pois o ano de 2009 foi muito chuvoso, o que influenciou a amostragem.

“Quanto mais chove, mais limpa fica a atmosfera. Consequentemente, ela estava menos poluída naquele período”, explica. Esse fato também impossibilita comparações com outras cidades.

“Não podemos usar esses dados para comparar Cubatão com outras cidades, pois elas não representam de fato o estado de poluição da cidade”. Vários sistemas meteorológicos podem influenciar a qualidade do ar de Cubatão, dentre eles a brisa marítima e a circulação vale-montanha.

A pesquisadora sugere que novos trabalhos sejam desenvolvidos na região quando o tempo se apresentar estável. Além disso, seria interessante expandir a área analisada, indo para lugares mais afastados do entorno da Usina, como o Vale Mogi e Vila Parisi, ampliando a série de dados sobre o MP em Cubatão.

Mais informações: e-mail valarini@model.iag.usp.br

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