Ouriços-do-mar aumentam defesas em resposta ao aquecimento global

Pesquisa mostra que o habitat dos ouriços-do-mar interfere em sua resposta e capacidade de adaptação.

Juliana Brocanelli / Agência USP de Notícias

Foto: Wikimedia Commons
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O habitat é um dos fatores de influência na resposta dos ouriços-do-mar

Diante do fenômeno do aquecimento global e dos prejuízos que ele pode causar às diversas espécies, a pesquisadora Paola Branco investigou os efeitos do aumento de temperatura na resposta imune inata nos invertebrados marinhos. A pesquisa Avaliação da resposta imune inata de ouriços-do-mar antárticos Sterechinus neumayeri e tropicais Lytechinus variegatus e Echinometra lucunter frente ao aquecimento global é a tese de doutorado de Paola, defendida no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Uma das principais descobertas da pesquisa é a interferência do habitat na resposta imune dos ouriços-do-mar.

Para avaliar a resposta dos animais, foram escolhidas uma espécie antártica e duas espécies tropicais dos ouriços-do-mar (ouriços-do-mar verde e pindá). A escolha se justifica pela baixa capacidade de locomoção desses animais, o que significa que todas as alterações ambientais serão refletidas neles.

A influência do habitat é significativa nas reações dos ouriços-do-mar. A espécie antártica apresentou as maiores alterações no período agudo de exposição às altas temperaturas, sendo que seu mecanismo de defesa (fagocitose) aumentou. Já os animais tropicais mostraram respostas distintas: o ouriço-do-mar verde, que habita regiões com baixas variações térmicas, demonstrou-se mais sensível ao estresse térmico que o ouriço-do-mar pindá, que é encontrado em regiões constantemente submetidas às variações de maré.

Os animais foram coletados, já adultos, na natureza com a licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Em seguida, os ouriços-do-mar foram expostos a diferentes temperaturas (de 0ºC a 4ºC para a espécie antártica e de 20ºC a 30ºC para as espécies tropicais) em períodos específicos de dias (entre 24 horas e 14 dias). As constatações foram feitas ao analisar o líquido celomático — que seria correspondente ao sangue humano — desses animais, após determinado intervalo.

Resultados distintos

Foto: Wikimedia Commons
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Paola constatou que, de acordo com o período de exposição, a capacidade de fagocitose aumentava. Do mesmo modo, percebeu que os esferulócitos vermelhos, célula que contém em seu interior uma substância bactericida, estavam presentes em maior quantidade no líquido celomático. De acordo com a pesquisadora, o aumento deste tipo celular pode estar relacionado com uma tentativa do organismo de se defender contra infecções. As espécies, no entanto, apresentam resultados distintos entre si. No ouriço-do-mar antártico, foi observado aumento da capacidade de fagocitose durante curto período de exposição; já nos ouriços-do-mar tropicais, o aumento dos esferulócitos vermelhos aconteceu nos períodos mais longos de exposição.

Até o momento, não há pesquisas que correlacionem as reações apresentadas pelos ouriços-do-mar e provável mudança comportamental. Também não se sabe qual o impacto, a longo prazo, do aumento de esferulócitos vermelhos em período crônico. “Com os dados obtidos na pesquisa, não é possível dizer, por exemplo, que essas alterações levarão à extinção das espécies. Sabe-se, com dados da literatura, que alterações ambientais já provocaram altas taxas de mortalidade, mas é um passo muito grande prever a extinção”.

Para realizar o estudo, Paola esteve a campo tanto no Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da USP, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, quanto na Estação Antártica Comandante Ferraz, na Antártica. Para a expedição antártica, houve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por intermédio do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). O projeto foi liderado pelo professor José Roberto Machado, também orientador do mestrado, e uma parceria com o Instituto Antártico Chileno foi estabelecida.

Além da tese de doutorado, a pesquisa rendeu a publicação de três artigos científicos e um capítulo de livro sobre o tema.

Mais informações: email p.branco01@gmail.com

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