Resíduo sólido de demolição tem resistência elevada e pode ganhar novos usos

Testes mostraram que esse tipo de material tem condições de ser usado na camada de base do pavimento viário.

Valéria Dias / Agência USP de Notícias

Testes realizados na Escola Politécnica (Poli) da USP mostraram que os resíduos sólidos (de concreto) provenientes de demolição e os resíduos de tijolos comuns da indústria cerâmica também podem ser usados na composição das camadas de base do pavimento viário. Atualmente, as recomendações técnicas do setor indicam que esse tipo de resíduo sólido somente pode ser aproveitado para camadas de sub-base e reforço do subleito.

Segundo o estudo da engenheira civil e pesquisadora Patrícia Barboza da Silva, os pavimentos viários apresentam cinco camadas: revestimento (que é camada mais superficial), base, sub-base, reforço do subleito, e subleito (terreno natural). “Nossos testes indicaram que esses resíduos sólidos podem ser considerados materiais nobres, que podem desenvolver resistências elevadas, e por isso apresentam possibilidades de utilização camadas de base para pavimentos de vias de volume de tráfego mais elevado do que o indicado nas recomendações normativas”, aponta a engenheira. Segundo ela, as atuais recomendações técnicas nacionais são datadas de 2004.

Os testes realizados com misturas dos resíduos sólidos indicaram resistência e rigidez elevadas. E os resultados dos ensaios se mostraram compatíveis com aqueles obtidos para outros materiais comumente usados para a camada de base dos pavimentos.

Os dados estão na tese de doutorado Estabilização de misturas de resíduos sólidos de demolição e da indústria cerâmica para uso em camadas de pavimentos viários, defendida no dia 3 de dezembro de 2013, sob a orientação da professora Liedi Legi Bariani Bernucci, do Departamento de Engenharia de Transportes da Poli.

Para realizar o estudo, Patrícia utilizou os resíduos de concreto provenientes da desconstrução dos edifícios Mercúrio e São Vito, e da Favela do Moinho, todos no centro de São Paulo. Já o resíduo de tijolos foi obtido em olarias da região de Cabreúva, no interior de São Paulo.

Os resíduos sólidos de concreto de demolição e de tijolos cerâmicos passaram por um processo de britagem para produção de agregados reciclados sendo que o agregado reciclado de resíduos de tijolos ficou com, aproximadamente 5 milímetros de dimensão máxima, e o de concreto de demolição com cerca de 25 milímetros de dimensão máxima.

Em seguida, a pesquisadora submeteu os materiais a ensaios de análise química. Foram propostas 5 misturas diferentes que utilizaram os agregados reciclados dos dois tipos de resíduos de forma individual, misturados entre si e com a adição de cal ou cimento Portland, com o objetivo de analisar o comportamento de cada mistura.

“O tijolo comum é feito de modo semelhante à pozolana, material que ao ser misturado com a cal promove a ocorrência de cimentação. Esse efeito é chamado de reação pozolânica. O aumento da resistência das misturas que empregaram o agregado reciclado do resíduo de tijolos com adição de cal pode ser decorrente desta reação”, explica.

Testes

No primeiro teste, foi analisada a mistura de resíduos de concreto e água, para verificar se havia resquícios de cimento virgem em quantidade suficiente para aumentar a resistência do pavimento. De acordo com a engenheira, durante o processo de produção do concreto, pode ocorrer de o cimento virgem não reagir totalmente com a água, fazendo com que algumas partículas não hidratem.

Deste modo, adicionando água aos resíduos de concreto após a britagem (agregado reciclado), a engenheira poderia verificar se na mistura havia ou não cimento virgem. “Se a resistência da mistura aumentasse era sinal de que havia cimento não hidratado nos resíduos”, diz. O teste comprovou que havia sim cimento virgem nos resíduos de concreto.

Na segunda análise, o teste foi realizado misturando os resíduos de concreto, o material fino do resíduo de tijolo e a água a fim de verificar se os resíduos de tijolos poderiam atuar como pozolana. “Como o tijolo comum é produzido de forma semelhante à pozolana, decidimos testar se o resíduos de tijolos poderiam substitui-la”, explica.

Na terceira análise, a pesquisadora utilizou resíduos de concreto no lugar da pedra e adicionou cimento portland à mistura.

Na quarta análise, Patrícia testou uma mistura de 70% de agregado reciclado de resíduos de concreto, 30% de agregado reciclado de resíduos de tijolo, água, além da adição de um pouco de cal (usada para reagir com os outros componentes). Neste teste foram realizadas análises para avaliar a melhora do comportamento da mistura ao longo do tempo.

A quinta análise testou uma mistura de agregado reciclado de tijolo, água e 18% de cal, a fim de verificar se haveria uma reação pozolânica e se essa reação seria capaz de gerar rigidez e resistência para este material tornando viável sua utilização como camada de base para pavimentos.

A resistência e a rigidez das misturas foram testadas aos 7, 28 e 91 dias. Em todos os resultados ficou constatado que os agregados reciclados de resíduos sólidos de demolição e de resíduos de tijolos podem ser utilizados não apenas na camada de sub-base e no reforço do subleito dos pavimentos, mas também na camada de base, desde que observadas as dosagens adequadas para estes materiais.

Mais informações: email pati.barboza@gmail.com, com Patricia Barboza

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