Pesquisa com participação do IB mostra que cultivo prolongado altera cromossomos de células-tronco

A pesquisa revelou que após longo período de cultivo em laboratório, células-tronco embrionárias humanas sofrem alterações cromossômicas.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Pesquisa internacional com células-tronco embrionárias humanas revela que alterações cromossômicas são observadas após longo tempo de cultivo em laboratório, fazendo que deixem de ter as condições ideais para terapia em seres humanos. O trabalho utilizou amostras da BR-1, primeira linhagem de células-tronco desenvolvida na América Latina, preparadas no Instituto de Biociências (IB) da USP. Os resultados do experimento foram divulgados em artigo da revista Nature Biotechnology, publicado em dezembro último.

A pesquisa foi coordenada pelo International Stem Cell Initiative (ISCI), uma organização internacional que direciona as pesquisas envolvendo células-tronco embrionárias. A BR-1 é uma das 125 linhagens de células desenvolvidas em todo o mundo analisadas no estudo. “O experimento procurou analisar o comportamento das células-tronco durante prolongado tempo de cultivo”, afirma a pesquisadora Ana Fraga, do IB, que participou da pesquisa. “Sabe-se que as células cultivadas apresentaram alguma instabilidade, o que pode comprometer seu uso futuro em terapia”.

O estudo verificou que com o passar do tempo e o envelhecimento das linhagens, as células em cultura apresentavam alterações em uma região do cromossomo 20. “Essa mudança faz com que as células deixem de ter o cariótipo (conjunto de cromossomos) considerado ideal para a continuidade das pesquisas”, aponta Ana. As células-tronco possuem grande capacidade de se dividir, e pelo processo de diferenciação celular, podem se converter em diversos tipos de tecidos do corpo humano.

Cultivo

Como nem todos os genes envolvidos nessa alteração cromôssomica são conhecidos, não se sabe que efeito as células-tronco teriam caso fossem injetadas no organismo. “Ou seja, seu uso para terapia não seria considerado seguro”, ressalta a pesquisadora. “É possível que as alterações sejam selecionadas pelas atuais condições de cultivo das células, o que deverá ser objeto de novos estudos”.

O estudo utilizou a BR-1, primeira linhagem de células-tronco embrionárias gerada na América Latina. “O DNA extraído de células da linhagem foi enviado para análises epigenéticas em Cingapura e um lote de células congeladas seguiu para o Reino Unido, para análise citogenética”.

A preparação da linhagem para utilização na pesquisa aconteceu na unidade do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias (LaNCE) sediada no Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências (IB) da USP. Coordenado pela professora Lygia da Veiga Pereira, do IB, o principal objetivo da unidade é produzir novas linhagens de células-tronco embrionárias humanas. O artigo da Nature Biotechnology , resultado de três anos de cooperação científica internacional, pode ser consultado aqui.

De acordo com Ana, os resultados do experimento mostram que os cientistas ainda estão distantes de obter soluções ideais para o cultivo de células-tronco embrionárias. “O maior mérito dessa iniciativa é apontar peculiaridades já verificadas isoladamente e que contribuirão para o desenvolvimento dos meios de cultura e das práticas de cultivo”, afirma.

Mais informações: email anitafraga@gmail.com

Scroll to top