Escrita científica ainda é desafio no meio acadêmico brasileiro

A percepção da enorme demanda da comunidade acadêmica por formação e informação sobre a escrita científica, ou seja, técnicas e conceitos que auxiliem a redação de textos na linguagem científica, motivou pesquisadores da USP em São Carlos a desenvolver cursos, eventos e serviços na área. Segundo professores, inglês ainda é uma grande barreira na produção científica brasileira.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Para pesquisadores, inglês ainda representa uma grande barreira na produção científca brasileira

Quando se fala em produção científica, os primeiros critérios que vêm à cabeça são a quantidade e a qualidade de artigos produzidos. O conceito de qualidade, no entanto, geralmente leva em consideração apenas o fator de impacto dos trabalhos, ou seja, a quantidade de vezes que são citados por outros cientistas. Mas outro tipo de qualidade vem sendo buscado pelos pesquisadores, inclusive para conquistar o fator de impacto: a qualidade textual, principalmente na língua inglesa.

A percepção da enorme demanda da comunidade acadêmica por formação e informação sobre a escrita científica, ou seja, técnicas e conceitos que auxiliem a redação de textos na linguagem científica, motivou pesquisadores da USP em São Carlos a desenvolver cursos, eventos e serviços na área, que estão reunidos no Portal da Escrita Científica.

“Convenci-me que deveria trabalhar com escrita científica quando percebi que muito trabalho de qualidade acaba por não ser publicado, ou ser publicado em revistas menos prestigiosas, devido a dificuldades com o inglês”, afirma o professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, do Departamento de Física e Ciência dos Materiais do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, e um idealizadores do Portal.

Segundo o físico, a dificuldade com o inglês muitas vezes potencializa o desconhecimento dos pesquisadores sobre o discurso científico, independente do idioma, podendo levar até mesmo à prática de plágio, ainda que involuntariamente. “Noto, por exemplo, que muitos alunos não conseguem identificar onde estão suas limitações, pois acham que não sabem produzir um artigo por não saber inglês, quando na verdade teriam dificuldades mesmo em português”, relata.

Junto ao professor Valtencir Zucolotto, do mesmo Departamento, Osvaldo ministra a disciplina “Técnicas de Escrita Científica em Inglês” no IFSC, que orienta os alunos desde a concepção do artigo científico até a preparação e escrita. A disciplina é procurada, inclusive, por pesquisadores que já são doutores. Segundo Zucolotto, uma das grandes questões que envolvem o tema é que o pesquisador não sabe o que é o artigo científico – ainda que este represente um item fundamental da disseminação científica – e desconhece que tipo de informação deve constar em cada uma de suas seções.

A ciência fala inglês

Foto: Divulgação
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Professor Valtencir Zucolotto ministra curso na USP

Há vários anos Zucolotto trabalha com escrita científica, ministrando cursos e workshops. Procurado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, Zucolotto formatou um curso de oito módulos que vem sendo ministrado nos diversos campi da Universidade e também em várias outras instituições, atendendo à demanda por formação neste aspecto da atividade científica que geralmente não é abordado na pós-graduação.

“Há uma preocupação grande da USP e de todas as universidades, em geral, de conseguir publicações em revistas de alto fator de impacto”, afirma. Como o fator de impacto de uma revista científica depende da quantidade de vezes que os artigos nela publicados são citados em outros trabalhos, a publicação em inglês amplia o acesso de estudiosos de todo o mundo à pesquisa desenvolvida em cada país, ampliando também a possibilidade de ser utilizada como referência.

“Sem dúvida o inglês ainda é uma grande barreira na produção científca brasileira”, afirma o pesquisador. Zucolotto lembra, no entanto, que não basta conhecer a língua, mas saber utilizá-la no gênero da escrita científica, independente da área de estudos. “O gênero é o mesmo, mas nas ciências exatas e biomédicas, por exemplo, há uma preocupação muito grande em como mostrar os resultados na forma de gráficos, de figuras, e isso na área de humanas pode ser um pouco diferente, com maior foco no método, na análise”, conta.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Para o professor Osvaldo de Oliveira Junior, o inglês representa o maior obstáculo para uma produção científica de qualidade, embora não seja o único. “Digo que é o maior porque se aplica a todas as áreas do conhecimento, uma vez que o inglês é a língua franca da ciência e tecnologia”, considera. Segundo o pesquisador, mesmo o idioma sendo um dos requisitos para ingresso na pós-graduação, o nível de inglês exigido não é suficiente para um aluno se comunicar, nem escrever um texto com qualidade.

Os professores Valtencir Zucolotto e Osvaldo Novais de Oliveira Junior estarão presentes na 4ª Semana da Escrita Científica, que acontece nos dias 12 e 13 de novembro no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. O tema desta edição é “A Importância e os Efeitos das Métricas na Qualidade das Publicações Científicas de Alto Impacto”. Eles ministrarão um curso de Redação Científica. Mais informações pelo site: http://www.biblioteca.ifsc.usp.br/semanadaescrita/4.

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