Estudo da FMZV usa membranas sintéticas para acelerar a reestruturação óssea

Testes em coelhos revelam que polímeros são capazes de acelerar o reparo em defeitos ósseos induzidos.

Rúvila Magalhães / Agência USP de Notícias

A aplicação de membranas sintéticas em falhas ósseas induzidas em tíbias de coelhos demonstraram formação de calo ósseo mais volumoso comparado aos animais que não receberam membranas. A formação do calo colabora com a aceleração da consolidação óssea, ou seja, os calos formados nas regiões de falha são responsáveis pelo fortalecimento do local. O método é parte de uma pesquisa conduzida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP e foi testado em coelhos, mas, dependendo de mais estudos,  poderá futuramente ser aplicado em cães, gatos e seres humanos, onde haja indicação formal para aceleração do reparo ósseo.

A tese de doutorado Interação biológica de membranas poliméricas bioativas em falhas ósseas induzidas em tíbias de coelhos foi conduzida pelo médico veterinário Olicies da Cunha, sob orientação do professor Cássio Ricardo Auada Ferrigno. As membranas foram produzidas pelo cirurgião dentista Walter Israel Rojas Cabrera, na empresa Bioactive, lotada no Instituto de Pesquisas Nucleares (IPEN) da USP.

O defeito ósseo que o trabalho se refere (falha óssea) não constitui exatamente uma fratura. Trata-se de um orifício circular de 2,8 mm de diâmetro, produzido com auxílio de uma broca cirúrgica, nas tíbias dos coelhos. O calo ósseo formado no local do defeito é um processo fisiológico que reestrutura o osso, como explica o pesquisador: “o calo ósseo refere-se ao novo osso formado no local da fratura. Ele passa por algumas fases até se tornar grande e forte o suficiente para sustentar o osso fraturado. Com o tempo, o calo vai se remodelando até o osso assumir novamente o aspecto de um osso normal”. É desta maneira que o osso retoma sua arquitetura natural.

Na pesquisa foi estudada a capacidade osteoindutora e osteocondutora, ou seja, a capacidade de estimular a consolidação óssea de três polímeros. Foram usados três tipos diferentes de combinação químicas com membranas poliméricas bioativas, nomeadas de m1, m2 e m3. Os testes foram feitos em coelhos, que passaram por procedimento cirúrgico para indução do defeito e implantação da membrana. Os 48 coelhos foram divididos em quatro grupos, cada um recebendo um tipo de membrana, e o quarto grupo não recebeu nenhum tratamento, servindo como controle.

As tíbias foram analisadas em quatro períodos de avaliação: 3, 7, 14 e 30 dias após a aplicação. A partir da análise dos dados, o pesquisador concluiu que “os grupos com membranas (1, 2 e 3) mostram maior formação de calo ósseo que o grupo controle aos 14 e 30 dias. Ainda aos 14 dias, o grupo com membrana 3, mostrou maior formação de calo que o grupo com membrana 2.” A grande formação de calo ósseo induzido, em comparação ao grupo de controle, surpreendeu o pesquisador.

Segundo Cunha ainda há muito que se estudar na área e muitos testes ainda a serem feitos para aperfeiçoar as técnicas e resultados. Existe a necessidade de testar em pacientes com falhas decorrentes de doenças, acidentes e em pacientes com saúde comprometida. No entanto, “os resultados são alentadores e acredito que futuramente as membranas possam ser usadas em pacientes clínicos”, conclui.

Situações clínicas

Defeitos ósseos são comuns em várias espécies e podem ser causados por acidentes, tumores ou outras doenças. Uma solução bastante usada em ortopedia é o enxerto ósseo autólogo, ou seja, colhido do próprio paciente, contudo, o leito doador é limitado e a colheita pode causar morbidade. Há também possibilidades de enxertos homólogos, ou seja, tecidos doados por indivíduos da mesma espécie do receptor.

O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) está preparado para a captação de ossos. Segundo dados divulgados no site, entre janeiro e agosto foram feitas 17 captações beneficiando 101 pacientes. O INTO classifica como potencial doador aqueles que evoluíram de morte encefálica ou parada cardíaca e pessoas entre 18 e 70 anos que não foram vítimas de câncer ósseo, osteoporose ou doenças infecciosas transmitidas pelo sangue. Não é permitida a doação de pessoas que fizeram tatuagens há menos de um ano, fizeram uso prolongado de corticóides, acupuntura ou receberam transfusão sanguínea. O doador deve ter expressado em vida, para a família, a sua vontade. Após o procedimento de captação, é feita reconstrução da região em que os ossos são retirados.

Mais informações: olicies@ufpr.br, com Olicies da Cunha

Scroll to top