Física revela supresas escondidas em peças de arte e do patrimônio histórico

Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) de Física Aplicada ao Estudo do Patrimônio Artístico e Histórico (FAEPAH) usa métodos físicos para analisar obras e objetos dos museus. Pesquisa já proporcionou descobertas sobre o processo criativo dos artistas.
Foto: DivulgaçãoComposição | Mário Sironi - Óleo sobre papel sobre tela: 90,2 cm x 62,7cm
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Composição | Mário Sironi – Óleo sobre papel sobre tela: 90,2 cm x 62,7cm

Física e Arte aparentemente são áreas opostas que não se cruzam. Os estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) de Física Aplicada ao Estudo do Patrimônio Artístico e Histórico (FAEPAH) buscam provar o contrário.

Em colaboração entre o Instituto de Física (IF), a Escola Politécnica (Poli – Engenharia Química) e os museus da USP, o núcleo surge com o objetivo de usar os métodos físicos para analisar obras e objetos dos museus. A física dispõe de técnicas que permitem analisar materiais sem coletar amostras, sem precisar desmembrar o material. A peça é analisada por inteira e retorna ao acervo sem ser danificada.

“No caso de objetos de arte, isso é muito importante. A análise da obra pode ser feita sem interferir na integridade da peça”, afirma a coordenadora do grupo, Márcia Rizzutto. “Os pesquisadores utilizam nas obras técnicas de imageamento: radiografia, fotografia com luz visível, fotografia com luz ultravioleta, infravermelho, luz rasante; e de fluorescência de raio-x: excitação do material para que, em estado de desexcitação, ele emita raios característicos da substância utilizada, por exemplo, nos pigmentos.”

Estudos semelhantes já eram feitos pela professora anteriormente, em parceria com a Pinacoteca de São Paulo, analisando pinturas de artistas brasileiros e tentando identificar paletas, pinceladas e desenhos subjacentes. O projeto contava com apoio da Fapesp. O Núcleo foi a consolidação formal das parcerias. Atualmente participam das pesquisas o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu Paulista (MP), o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), todos da USP.

No MAC, a professora Ana Magalhães está estudando uma coleção italiana de obras entre guerras. Algumas pinturas, em particular, apresentam um diferencial: trazem imagens nos dois lados da obra. Segundo Márcia, “o museu reconhece apenas a parte da frente, pois comprou aquela obra, mas existem questionamentos sobre a autenticidade do outro lado da obra. Se é o mesmo artista, se não é. Identificar o pigmento, o processo de construção, maneira de produzir a obra da frente, pode ajudar a identificar relações de coautoria com a de trás.”

Surpresas

Este é o projeto mais avançado do núcleo e pode ser acessado via internet. Estão sendo feitas descobertas sobre o processo criativo dos artistas. Em uma das obras, por exemplo, havia representada uma marina na frente e um rosto atrás. Quando a pintura foi fotografada com infravermelho, por trás do rosto foi possível enxergar uma sequência da imagem da frente. O artista havia feito um estudo sob uma outra angulação de uma ilha de Veneza, que depois cobriu com a imagem de um rosto.

Cada técnica permite diferentes achados. Em uma outra tela, uma natureza morta com limões, não foi possível identificar nada com o infravermelho, mas quando foi feita a radiografia, havia um rosto por baixo. No quadro A “Adivinha de Achille Funi” é possível enxergar com o infravermelho todo o traçado feito pelo artista, inclusive colunas. Já com a radiografia digitalizada, nota-se um balcão que não aparece na arte final.

No MAE, o núcleo está começando a desenvolver um trabalho de estudo de cerâmicas de culturas da Amazônia. Junto ao IEB, o grupo vem analisando desenhos de Di Cavalcanti e obras de Anita Malfatti. No Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, os objetos alvo de pesquisa são fotografias e postais. As técnicas devem auxiliar a identificação de elementos que permitem diferenciar os processos de produção dos materiais.

Técnicas

Fotografia de Fluorescência Visível com Radiação Ultravioleta (UV)

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A radiação UV incidente tem a propriedade de excitar as moléculas das substâncias presentes. Por consequência, o material emite radiação diferente. Deste modo, é possível visualizar informações na superfície, revelando fungos, rasgos, craquelamento e áreas retocadas. As diferenças entre a pintura original e as áreas de retoque ficam evidenciadas pela fluorescência UV.

Radiografia digitalizada

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A radiografia, com imagem digitalizada, auxilia na observação do estado de conservação de uma determinada obra e pode revelar características peculiares como estrutura do objeto, pinturas subjacentes, alterações e danos, localização de pregos, cravos e em alguns casos identificação do processo de montagem da obra.

Fluorescência de Raios X

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Com essa técnica, é possível caracterizar os pigmentos presentes nas pinturas analisadas. A excitação dos elétrons das diferentes substâncias promove emissão de radiação específica de cada elemento na medida em que eles se movimentam.

Fotografia com luz visível

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As fotografias com luz visível permitem registrar as imagens reais da pintura com alta qualidade e incidência de luz.

Reflectografia de Infravermelho (IR)

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É uma técnica óptica não destrutiva na qual a imagem é obtida por meio de uma câmera digital com filtro IR acoplado à lente. As imagens observadas resultam da conjunção dos fenômenos de reflexão, absorção e transmissão da camada superficial, revelando peculiaridades escondidas.

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