Pesquisa da Esalq mostra que extrato vindo do eucalipto apresenta atuação conservante

As substâncias presentes no extrato pirolenhoso poderia ser aplicado em cosméticos e saneantes.

Mariana Melo / Agência USP de Notícias

Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, detectou propriedades conservantes de uma composição obtida a partir do processamento do extrato pirolenhoso. O extrato pirolenhoso é um produto de base orgânica resultante da condensação da fumaça gerada na pirólise da madeira e, em especial, durante a produção de carvão vegetal. Segundo a pesquisadora Raquel Silveira Ramos Almeida, as substâncias presentes no extrato têm um potencial muito amplo para tais aplicações, como cosméticos e saneantes. Uma patente derivada da pesquisa, intitulada “Composição conservante antimicrobiana” foi depositada em janeiro deste ano.

O trabalho, descrito na tese Potencial do extrato pirolenhoso da madeira de eucalipto como agente conservante de cosméticos e saneantes, iniciado em 2009 e finalizado em 2012, contou com a orientação do professor José Otávio Brito, líder do Grupo de Pesquisa em Bioenergia e Bioprodutos de Base Florestal do Departamento de Ciências Florestais da Esalq . “A pesquisa partiu da hipótese de que o extrato pirolenhoso, por conter uma gama relevante de compostos, poderia incluir substâncias que apresentassem propriedades conservantes, com possibilidade de uso nas áreas cosméticas e saneantes” diz Raquel, e continua “desse modo, procuramos avaliar suas propriedades antimicrobianas”.

Processo de Obtenção

O extrato pirolenhoso, em geral, é constituído em sua maior parte por água, compostos fenólicos, aldeídos e ácidos orgânicos. No trabalho desenvolvido nos laboratórios da Esalq, Raquel simulou a pirólise da madeira de eucalipto, tal qual ela ocorreria em fornos convencionais de produção de carvão vegetal. Esta etapa foi desenvolvida em consonância com a pesquisa que estava sendo realizada, na época, por Marcel Taccini, em sua dissertação de mestrado, também na Esalq. O estudo envolvia a avaliação básica das implicações ambientais das emissões de gases da carbonização da madeira, no contexto dos protocolos internacionais de créditos de carbono.

Em seguida, foram realizadas por Raquel análises químicas e físico-químicas da composição do extrato e avaliações de suas propriedades antimicrobianas. O estudo da capacidade antifúngica foi realizado com o apoio do professor Eduardo Micotti da Gloria, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq. A equipe do professor Eduardo utilizou a técnica denominada bioautografia para identificar a fração antifúngica existente na composição, utilizando como modelo o fungo Aspergillus niger.

Com a separação da fração antifúngica da composição, Raquel pôde realizar análises mais específicas, empregando a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa, e identificar substâncias responsáveis na ação antifúngica. A ação antibacteriana também foi detectada pela autora da tese, que comprovou mais esta bioatividade para a composição estudada.

Valor agregado

Segundo os pesquisadores, o trabalho se enquadra na utilização de energia renovável no Brasil, pois está ligado ao carvão vegetal, intensamente usado como insumo na indústria siderúrgica nacional. Na forma como a produção de carvão vegetal é feita hoje, o produto final tem pouco valor agregado e, justamente por isso, os produtores não investem em melhorias estruturais da produção, o que tem trazido impactos ecológicos e sociais. Com a exploração de outros produtos, poderá haver maior ganho para o produtor e, desse modo, aumento de interesse pela modernização dos processos, tornando-os ambientalmente e socialmente mais adequados. “O carvão vegetal é uma commodity de baixo valor agregado. O extrato pirolenhoso aumentaria esse valor e inseriria a produção carvoeira num cenário mais sofisticado” diz Taccini.

Raquel diz que já existem referências sobre a utilização do extrato pirolenhoso de eucalipto na produção agrícola. No entanto, no Brasil, segundo ela, inexistem estudos específicos para a identificação precisa dos componentes do produto, no sentido de avaliar potenciais conservantes. A utilização em larga escala da composição depende de testes toxicológicos, que comprovem a segurança da aplicação, por exemplo, em cosméticos, para se adequar às exigências dos órgãos reguladores (como a Agência de Vigilância Sanitária, a Anvisa). “Além disso, certamente, a viabilização da utilização desta composição junto ao mercado somente ocorrerá mediante o interesse e integração com o setor produtivo” diz Raquel.

Finalmente, Brito comenta que os trabalhos desenvolvidos por Raquel e Taccini são exemplos de destaque dentre os que têm sido conduzidos pelo seu Grupo de Pesquisa em Bioenergia e Bioprodutos de Base Florestal, sobretudo, pelo potencial de contribuição que podem trazer para a sociedade, na visão do uso sustentado de recursos naturais. Segundo informações de Taccini, durante a produção do carvão, 70% do material da carbonização é emitido para a atmosfera. O Brasil é o maior produtor de carvão vegetal do mundo, e por essa razão, é importante se pensar neste potencial e otimizar a produção, mediante o aproveitamento dos gases do processo na forma de co-produtos.

Mais informações: email henraq@terra.com.br

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