Pesquisa da FMVZ comprova que exercício físico é eficaz para tratar diabetes mellitus tipo 1

Em ratos testados no Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química, treinamento físico reverteu em 26% a perda de neurônios do gânglio celíaco, que inerva o pâncreas.

Valéria Dias / Agência USP

Pesquisa realizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP confirma que a prática de exercícios físicos proporciona diversos benefícios para os portadores de diabetes mellitus tipo 1. Ratos com a doença submetidos a treinamento físico apresentaram uma reversão de 26% na perda de neurônios do gânglio celíaco esquerdo, uma estrutura do sistema nervoso simpático localizada no início da cavidade abdominal. O gânglio é a principal fonte de inervação do pâncreas, órgão onde a insulina é produzida pelas células beta. No diabetes mellitus tipo 1, ocorre um comprometimento dessa produção de insulina e os pacientes ficam dependentes de injeções do hormônio.

Nos animais diabéticos sedentários, os cientistas constataram o oposto: houve uma redução de 26% no número de neurônios do gânglio celíaco. No grupo diabético treinado houve uma reversão dessa perda e os animais voltaram a ter o mesmo número de neurônios.

“Os neurônios do gânglio celíaco mandam fibras nervosas para o pâncreas”, explica o coordenador do estudo, o estereologista Antonio Augusto Coppi, do Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da FMVZ. De acordo com o professor, na literatura científica, não havia consenso sobre os benefícios do treinamento físico para o diabetes mellitus tipo 1.

Entre os problemas associados a doença estão: a hiperglicemia, a cardiomiopatia, a nefropatia, a retinopatia, a neuropatia e a hipotensão (pressão arterial baixa).

O estudo foi realizado com ratos Wistar com diabetes induzida por meio da substância estreptozotocina (STZ). O gânglio celíaco dos ratos foi analisado por meio da Estereologia e Bioimagem: Ciência que possibilita medir as células por meio de cálculos estatísticos e matemáticos que levam em conta a altura, a largura, a profundidade (3D), além da quarta dimensão, o tempo (4D). A vantagem em relação a morfometria (análise em duas dimensões, ou seja, altura e largura) é a grande acurácia e o fato de estimar o número e o volume total das células (entre outros). Já a morfometria mede apenas os contornos (perfis) dos materiais analisados.

Treinamento físico

A ideia dos pesquisadores era estudar qual seria o efeito isolado dos exercícios físicos na saúde dos animais, sem o uso de insulina. Foram estudados quatro grupos de ratos: saudável sedentário (sem diabetes); saudável treinado (sem diabetes); diabético sedentário, e diabético treinado. Cada grupo era formado por cinco animais com idade de quatro meses e meio de vida.

Os ratos foram submetidos a um treinamento em esteira ergométrica, de segunda a sexta-feira, durante dez semanas, em uma hora diária. A velocidade iniciava-se em 0,3 quilômetros (km) por hora (h) e ia aumentando gradativamente até o limite de 1 km/h. Antes da realização do treinamento físico, os animais passaram por um teste de esforço máximo, para verificar a carga máxima de treinamento.

“Queríamos submeter os ratos a um treinamento de 60% da carga máxima. Esse treino seria o equivalente a um exercício aeróbio de leve a moderado, semelhante ao realizado por uma pessoa que faz caminhada entre meia e uma hora diária, três vezes por semana”, explica Coppi. O teste de esforço físico foi repetido na quinta e na décima semana de treinamento a fim de analisar se houve evolução no desempenho físico dos animais. Antes dos treinos, foram realizados testes bioquímicos, de controle de frequência cardíaca e de pressão arterial.

Benefícios

Ao final do treinamento, os pesquisadores constataram que, além da reversão da perda de neurônios do gânglio celíaco em 26% nos animais diabéticos treinados, a pressão arterial foi normalizada, assim como a frequência cardíaca. Os ratos ganharam peso devido ao ganho de massa muscular e a hiperglicemia (excesso de glicose no sangue) foi controlada.

Constatou-se ainda que os animais treinados tiveram um desempenho melhor no teste de esforço físico em comparação aos dois grupos sedentários. A frequência cardíaca dos animais treinados foi menor quando comparado aos grupos sedentário saudável e sedentário diabético. Já as análises estereológicas do gânglio celíaco dos ratos diabéticos mostraram que não houve alterações significativas em relação ao volume do órgão.

“Não levamos em conta aspectos como dieta alimentar e uso de insulina. Mas acreditamos na hipótese de que os benefícios seriam ainda maiores caso tivéssemos utilizado insulina concomitantemente ao treinamento físico”, finaliza o pesquisador.

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