Diálogo ajuda a levar atividade física a serviço de saúde, revela pesquisa da FSP

Segundo a pesquisa, a atividade física não deve ser vista apenas como tratamento e prevenção de doenças.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, pesquisa aponta caminhos para superar as dificuldades que os profissionais de saúde encontram para promover atividade física na atenção básica, em geral associada apenas ao controle e prevenção de doenças. O educador físico Thiago Hérick de Sá desenvolveu uma estratégia de aprendizagem baseada no diálogo entre educadores e demais profissionais, para que atuem de acordo com o cotidiano do serviço de saúde e as necessidades dos usuários. O estudo também constatou a dificuldade dos próprios profissionais em praticar atividade física e recomenda a melhoria do cuidado dos trabalhadores, com a maior oferta de ações específicas de promoção de saúde.

A estratégia foi voltada para os trabalhadores da atenção básica em saúde, que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). “A elaboração aplicou a pedagogia freiriana (baseada nas ideias do educador Paulo Freire), por ser a que mais se aproxima do que está previsto na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS)”, diz Hérick de Sá. A pesquisa, baseada em dissertação de mestrado apresentada na FSP, foi orientada pelo professor Alex Antonio Florindo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

De acordo com o educador físico, a formação deve ser permanente, baseada em uma relação horizontal entre os profissionais de saúde, do agente comunitário ao médico. “Ela deve ser contextualizada em função dos problemas e necessidades de cada serviço de saúde, por meio do diálogo entre educadores, educandos e a comunidade atendida”, afirma. “Na pedagogia freiriana, todos aprendem e ensinam, desenvolvendo a chamada ‘ação-reflexão’, ou seja, pensar e fazer ao mesmo tempo, o que está de acordo com a PNEPS, em que o contexto da formação está associado a prática profissional.”

Embora a relação entre atividade física e saúde esteja estabelecida há muito tempo, somente em 1997 os educadores físicos começaram a ser considerados profissionais de saúde. “Apenas em 2008, com a criação dos NASF, eles foram incluídos entre os trabalhadores da atenção básica”, aponta Hérick de Sá. “Essa inclusão recente faz com a maior parte dos cursos de educação física não sejam pensados para a área de saúde, sendo mais voltados para a parte educacional e o treinamento esportivo.”

Programa educativo

O educador físico construiu um programa educativo em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da Zona Leste de São Paulo junto com os profissionais de saúde, para que pudessem dialogar sobre como superar as dificuldades para a prática de atividade física e seu aconselhamento junto aos usuários. “Antes do início do programa, houve uma reunião de pactuação que definiu a duração e a periodicidade dos encontros, com todos os envolvidos, incluive a supervisão e a coordenação de saúde da região, as Organizações Sociais de Saúde (OSSs) que administram a UBS e o NASF no local, além da gerência e trabalhadores da UBS”, conta. “As estratégias de formação foram definidas em visitas a unidade e em conversas com os profissionais. Os educadores não trouxeram nada pronto, definitivo, nem mesmo materiais didáticos.”

O curso foi realizado em encontros quinzenais. Nos dois primeiros, foram descobertos os chamados “temas geradores” para nortear a elaboração dos encontros seguintes. “Esses eixos foram a representação da prática da atividade física; noções de cuidar, ser cuidado e gestão do cotidiano; desafios e recomendações gerais sobre atividade física; e a descoberta de novas práticas e caminhos para o aconselhamento”, destaca Hérick de Sá. A maioria dos profissionais de saúde possuía uma visão biomédica sobre a atividade física, relacionando-a apenas à prevenção e tratamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.

“Muitos não tinham uma noção clara de que alguns grupos, como grávidas ou idosos acima de 90 anos, podem fazer atividade física e desconheciam as recomendações populacionais, de 150 minutos semanais de atividade moderada para adultos e 300 minutos para crianças e adolescentes”, observa o educador físico. “Após o estudo, eles passaram a ver atividade física também como um caminho para a promoção de saúde, melhoria da qualidade de vida, de socialização e do fortalecimento da relação com a comunidade e com o ambiente.”

Segundo Hérick de Sa, apesar de os profissionais de saúde cuidarem dos usuários e recomendarem a prática de atividade física, encontram uma série de dificuldades para incluírem-na em seu cotidiano. “Isso aponta para a necessidade de se incluir algum momento de atividade física específica na jornada de trabalho”, destaca. “No estudo, também se descobriu que as dificuldades dos usuários para praticarem atividades físicas eram muito semelhantes, sendo possível aproveitar esta realidade comum para melhorar a qualidade do aconselhamento e a estratégia usada no programa educativo desenvolvido na UBS, saindo de um discurso prescritivo para um diálogo horizontal entre morador e trabalhador.”

Mais informações: email thiagodesa@usp.br, com Thiago Hérick de Sá

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