Atividades físicas de caráter lúdico e recreação reduzem fatores de riscos cardiovasculares em crianças obesas. A conclusão está no artigo Efeitos do exercício físico e da orientação nutricional no perfil de risco cardiovascular de crianças obesas, que acaba de ser publicado na primeira edição de 2013 da Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB), da Editora Elsevier, e está disponível neste link.
Os autores, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade do Porto (UP), em Portugal, apontam a eficácia da combinação de exercícios físicos e alimentação na redução do índice de massa corpórea das crianças obesas, dos índices de colesterol total e LDL, bem como da pressão arterial e do espessamento médio-intimal carotídeo (relacionadas à tireóide), um sinal precoce e indireto de aterosclerose.
A análise demonstrou a influência de um programa de intervenção lúdico nesta inflamação grave que afeta artérias do coração e do cérebro. O estudo passa a fazer parte, assim, das escassas análises nacionais sobre os programas interdisciplinares supervisionados em crianças obesas.
Segundo a pesquisa, programas de exercícios físicos e alimentação baseada são, no geral, menos efetivos com crianças do que com adolescentes obesos por causa da receptividade e adesão. A saída dos pesquisadores foi adotar atividades de recreação vislumbrando o prazer e a busca da manutenção da prática regular de atividade na adolescência e na idade adulta.
Lisiane Schilling Poeta, Maria de Fátima da Silva Duarte, Bruno Caramelli, Jorge Mota e Isabela de Carlos Back Giulliano, autores da análise, sublinham que a obesidade é uma doença crônica e epidêmica mundialmente, sobretudo nas décadas mais recentes, e relacionam a significativa associação entre a obesidade infantil e condições mórbidas da síndrome metabólica. Hoje, 40% das crianças obesas apresentam a síndrome, relacionada a riscos cardiovasculares oriundos da hipertensão arterial, deposição central de gordura corporal, dislipidemia (níveis anormais de lipídios no sangue) e resistência à insulina.
Os pesquisadores adotaram o PICOLLI (Programa de Intervenção Cardiometabólica em Crianças Obesas, Lúdico e Interdisciplinar) e recrutaram uma população entre 8 e 11 anos com IMC acima do percentual 95, respeitando os critérios do National Center for Health Statistics. As 44 crianças analisadas, de ambos os sexos, foram provenientes do Ambulatório de Cardiologia e Endocrinologia Pediátrica do Hospital Infantil João de Gusmão, de Florianópolis (SC) no primeiro semestre de 2009. Os participantes foram divididos em dois grupos: em um deles foi realizado apenas o controle e, no outro, as intervenções de exercícios e alimentação propostas pelo PICOLLI.
Concluíram o estudo 32 crianças, e as 16 do chamado “grupo de intervenção” tiveram redução dos níveis de colesterol, pressão e espessuras médio-intimal média e máxima (relacionadas à tireóide), entre elas quatro saíram da obesidade para o sobrepeso. Já o “grupo controle” apresentou aumento significativo no perímetro abdominal, glicemia, proteína reativa-C (do fígado), além de aumento das espessuras médio-intimal média e máxima.
O Programa de Intervenção PICOLLI durou 12 semanas consecutivas em um ginásio, em um campo e uma piscina da UFSC, três vezes por semana, uma hora por dia. Alongamento, aquecimento, atividades aeróbicas foram realizados através de caminhadas, corda, cama elástica e danças, com acompanhamento de frequência cardíaca e orientações repetitivas sobre a importância das atividades.
Mais informações: email ramb@amb.org.br