FCF comprova o uso de vacina por via nasal que dispensa utilização de agulhas

Polímero de quitosana envolve antígeno da vacina, garantindo a sua absorção pelo organismo.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP comprovou a viabilidade do uso do polímero de quitosana na produção de vacinas que dispensam agulhas para sua aplicação. O polímero reveste o antígeno da vacina, garantindo sua absorção pelo organismo ao ser aplicada por via nasal. O método foi testado com êxito em camundongos e precisará de novos estudos para ser adotado em seres humanos.

A pesquisa desenvolveu uma nova forma de imunização a partir da vacina contra a hepatite B, disponível no Instituto Butantan. “A ideia era criar um modelo que pudesse ser adaptado para outras vacinas”, diz o biólogo  Jony Takao Yohsida, que realizou a pesquisa. O estudo é descrito em dissertação de mestrado apresentada em dezembro de 2012. O trabalho foi orientado pelo professor Marco Antônio Stephano, da FCF. Na produção da vacina foi empregada a quitosana, polímero produzido a partir da quitina. “Essa substância é encontrada em artrópodes, como o camarão e o caranguejo”, conta o biólogo. A quitosana envolve o antígeno da vacina, que pode ser uma proteína ou um vírus. “Quando é feita a vacinação, o polímero gruda nas vias nasais, o que permite a absorção do antígeno pelo organismo e o desenvolvimento de anticorpos”.

A quitosana impede que a vacina seja expelida pelo organismo por meio de espirros após a aplicação. “A vacina também não é engolida com a renovação do muco nasal, evitando que seja destruída pelos ácidos do estômago”, afirma Yoshida. “Testes realizados com camundongos mostraram que é possível imunizar por via nasal com o uso da quitosana”.

Aplicação

Os experimentos em animais também demonstraram que o polímero pode se unir a qualquer outro tipo de proteína. “Desse modo, podem ser usados antígenos de outras doenças”, diz o biólogo. “A vacina poderá ser aplicada por meio de spray ou nebulização”.

Segundo Yoshida, a principal vantagem da imunização por via nasal é dispensar o uso de agulhas para realizar a imunização. “Muitas pessoas têm medo de tomar injeção. O novo método aumentaria a adesão e a eficácia da vacinação junto à população”, ressalta. “A eliminação das agulhas também reduziria os riscos de contaminação entre os profissionais de saúde”.

Para que a vacina possa ser usada em seres humanos, serão necessários novos estudos. “A pesquisa comprovou que o método é viável. No entanto, é preciso realizar testes imunológicos e clínicos, primeiro em animais e depois em seres humanos, para verificar se não há efeitos colaterais”, observa o biólogo. “Apesar do baixo custo da matéria-prima do polímero, há necessidade de padronização e controle de qualidade para verificar a viabilidade da produção industrial”.

As novas pesquisas também definirão a dosagem e a quantidade de imunizações necessárias por via nasal. “Nos Estados Unidos foi aprovada uma vacina contra a influenza que utiliza-se do spray nasal como via de imunização e há muitas pesquisas sobre esse tipo de imunização”, diz o biólogo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 120.343 casos de hepatite B por ano entre 1999 e 2011, com uma média de 14.000 novos casos e 500 mortes por ano”.

Mais informações: email yoshida.takao@gmail.com, com Jony Takao Yoshida

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