FCFRP desenvolve medicamento para os olhos que pode mudar tratamento da ceratite fúngica

Pesquisa da FCFRP mostra que formulação para os olhos possui propriedade mucoadesiva, o que favorece o contato com tecidos infectados.

Rosemeire Soares Talamone/Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto

Pesquisa da farmacêutica Taís Gratieri na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP abre caminho para um tratamento mais eficaz da ceratite fúngica, uma infecção na córnea causada por fungos e que pode levar à cegueira. Orientado pela professora Renata Fonseca Vianna Lopez, no programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, o estudo desenvolveu um antifúngico em formulação líquida que, após a aplicação, se geleifica. O material possui uma propriedade chamada de mucoadesiva que também favorece a retenção da fórmula no olho. Dessa forma, uma maior quantidade de antifúngico chegaria aos tecidos infectados.

Nos países em desenvolvimento, segundo o professor Eduardo Melani Rocha, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a ceratite fúngica atinge 9 pessoas por milhão de habitantes e está diretamente vinculada à atividade agrícola (ver abaixo). Segundo especialistas, não existe tratamento eficaz para a ceratite fúngica, uma vez que o próprio mecanismo de proteção dos olhos, como piscar e lacrimejar, elimina rapidamente os colírios convencionais, fazendo com que o medicamento não chegue aos tecidos infectados em quantidade suficiente.

Para o professor, o trabalho desenvolvido na FCFRP  pode abrir caminho para formulações específicas para o uso em infecção ocular e assim atender adequadamente as pessoas com infecção fúngica nos olhos, pois não existe produto desse tipo no mercado.

Os testes de permeação, ou seja, os testes realizados para se determinar o quanto de antifúngico chegaria aos tecidos infectados, foram feitos em córneas retiradas de porcos e em coelhos vivos. Já os testes de retenção feitos para se verificar quanto tempo a solução permanece no olho foi feito em humanos saudáveis, por isso, sem o antifúngico. A pesquisa com humanos teve a supervisão dos professores Eduardo Melani Rocha e Antonio Augusto Velasco Cruz, ambos da FMRP, e Whemberton Martins de Araújo, médico do Hospital das Clínicas da FMRP.  A tese de doutorado Sistemas de liberação ocular contendo fluconazol: obtenção, caracterização e liberação passiva e iontoforética in vitro e in vivo, foi defendida em 2010 na FCFRP e recebeu o prêmio CAPES de Teses, de melhor tese de doutorado daquele ano em sua área.

Ceratite fúngica no Brasil

Estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, revelou que a incidência da ceratite fúngica no Brasil é maior nos meses de seca, em homens com atividade agrícola, sugerindo que a doença está relacionada à atividade agrícola extensiva, ou seja, ao corte e colheita de cana de açúcar, laranja e café.

O objetivo do estudo, segundo o professor Eduardo Melani Rocha, do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia, foi chamar a atenção para o problema e ao identificar os fatores de risco, propor medidas preventivas. “A ceratite fúngica é uma doença grave, com alto risco de levar a cegueira do olho acometido e atinge principalmente pacientes de baixa renda, muitas vezes sem proteção adequada no exercício do trabalho. Além disso, não existem remédios específicos aprovados para o seu tratamento. São usados remédios aprovados para outras doenças fúngicas, adaptados para o uso ocular.”

Dados da literatura médica indicam que a doença atinge de 0,3 a 0,5 pessoas por milhão de habitantes em países desenvolvidos e 9 pessoas por milhão de habitantes, em países em desenvolvimento. “No Brasil a maioria dos pacientes é de trabalhadores que sofrem acidentes oculares superficiais, durante a atividade laboral, principalmente com vegetais. Em países com predomínio de agricultura de subsistência, a estação úmida, as monções na Ásia e África, por exemplo, também têm a maior incidência. Já nos países desenvolvidos ela é predominante naqueles que fazem mal uso de lentes de contato”, diz o professor.

A pesquisa, publicada em diferentes revistas científicas nos últimos quatros anos, foi coordenada pelo professor Rocha e teve colaboração do professor Sidney Julio de Faria e Sousa e dos médicos Wellington Martins, do HC-FMRP, Rosane Silvestre, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Acácio Souza Lima, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a participação de vários pós-graduandos, como Marlon Moraes Ibrahim e Leonardo Tannus Malki, da FMRP.

Mais informações: (16) 3602-4202, email rvianna@fcfrp.usp.br , com a professora Renata Fonseca Vianna Lopez; email tgratieri@gmail.com, com Taís Gratieri; (16) 3602-0593, email emrocha@fmrp.usp.br , com o professor Eduardo Melani Rocha 

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