FFCLRP testa nova tecnologia que transporta medicação para células

Nanoveículos carregam medicamentos utilizados no tratamento de doenças neurodegenerativas e câncer.

Breno Berlingeri Campos / Serviço de Comunicação Social da Prefeitura USP de Ribeirão Preto

Testes realizados no Centro de Nanotecnologia e Engenharia Tecidual da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) mostraram a eficácia de um nanocarreador coloidal — “veículo” microscópico — em penetrar as camadas da pele e transportar às células doentes o medicamento necessário para matá-las. O Centro de Nanotecnologia e Engenharia Tecidual da FFCLRP já trabalha há algum tempo desenvolvendo estes sistemas para o tratamento de várias doenças, entre elas o câncer de pele e outros tipos de câncer.

Nesse estudo, a farmacêutica Natalia Neto Pereira Cerize utilizou um composto, o ácido 5-aminolevulínico (5-ALA), que depois de metabolizado pelas células doentes produz outro composto (a Protoporfirinia IX que mata as células doentes) que só é ativado quando exposto à luz visível, num procedimento conhecido como Terapia Fotodinâmica (TFD). A tecnologia já é usada em tratamentos clínicos para o câncer de pele.

Estudos com essa técnica, conduzidos nos laboratórios do Centro de Nanotecnologia da FFCLRP já haviam demonstrado o poder desses radicais livres (Protoporfirina IX) liberados pela TFD, contra as células doentes. Contudo, a substância ativada pela luz e aplicada sobre lesões na pele apresentava pouca penetração na epiderme e derme (camadas da pele), o que limitava sua aplicação tópica sem o auxílio de um “veículo” adequado.

“O desenvolvimento de uma estrutura em escala nanométrica, específica para este tipo de tratamento fez toda a diferença”, explica o orientador da pesquisa e professor do Centro de Nanotecnologia da FFCLRP, Antonio Claudio Tedesco, que, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), conseguiu um novo sistema que encapsula a droga, aumenta o poder de penetração cutânea e atua especificamente, com liberação controlada do fármaco na célula cancerígena ou em lesões causadas por micro-organismos. “Este novo carreador veio abrir a possibilidade de seu uso em inúmeros outros estudos, voltados para muitas patologias diferentes”, garante Tedesco. É que, além do 5-ALA, estes nanocarreadores foram testados com outras drogas não permeáveis na pele, entre eles: um anti-inflamatório, uma vitamina e um antimicrobiano, com excelentes resultados.

Medicação exata

O sistema testado no trabalho de Natália utilizou Nanocarreadores Poliméricos Coloidais. Microscópicas partículas siliconadas que, como nanocápsulas, carregam uma droga o 5-ALA até a célula doente, que origina o tumor de pele, liberando a quantidade exata de medicação. O 5-ALA é considerado um pró-fármaco. Na forma de um creme (produzido nos laboratórios do próprio Centro de Nanotecnologia), ele é aplicado sobre a lesão e, em seguida, recebe luz para ativar a Protoporfirinia IX (substância ativa que mata a células doentes). Tedesco adianta que apenas a área com lesão recebe luz visível e tem ação positiva na morte das células. O medicamento e a luz, sozinhos, nada fazem; apenas os dois juntos atingem o objetivo de destruir as células com câncer.

Sobre os “novos veículos carreadores siliconizados”, o professor diz que ainda estão em fase de testes pré-clínicos. “Outros nanocarreadores vêm sendo utilizados com sucesso no tratamento de pacientes nos ambulatórios parceiros no desenvolvimento desta pesquisa envolvendo o câncer de pele”. Quanto à droga, o 5- ALA, e a ativação com luz visível, informa que são exatamente os mesmos já utilizados em tratamentos envolvendo Terapias Fotodinâmicas contra o câncer em vários países do mundo e no Brasil. A única mudança e novidade que a pesquisa atual desenvolveu foi introduzir o novo carreador (as microcápsulas de silicone). “Isto abre a possibilidade de se aplicar um creme contendo o 5-ALA nanoestruturado sobre a lesão, aplicar a luz, e induzir a morte das células doentes”.

O que estes nanocarreadores têm, em especial, é que permitem o desenvolvimento de uma nova família de medicamentos para uso tópico, utilizando uma nova plataforma de trabalho com os nanocarreadores siliconizados. Outros sistemas — poliméricos, proteicos e mistos, que, igualmente, liberam lentamente os conteúdos que encapsulam — estão em teste para tratar outras doenças, inclusive câncer. Existem ainda aqueles que comprovadamente permeiam a barreira que protege o Sistema Nervoso Central, usados em estudos para o tratamento de mal de Parkinson e Alzheimer.

O professor adianta que os estudos com esses carreadores que conseguem ultrapassar a proteção do Sistema Nervoso Central estão bem adiantados, abrindo “nova linha de estudos voltados para tratamento de doenças neurodegenerativas e, até mesmo, o câncer de cabeça, conhecido como glioma”. Já para o câncer visceral, Tedesco diz que “o correto é utilizar outros carreadores específicos que vão diferenciar a célula normal da com câncer”. Em um editorial recente escrito pelo pesquisador para a revista Nanomedicine, (uma das 17 mais importantes da área no mundo), Tesdesco descreve a potencialidade do uso combinado da Nanotecnologia, Engenharia de Tecidos e TFD em várias pesquisas desenvolvidas pelo grupo.

A patente do nanocarreador sliconizado já foi registrada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e depositada nos Estados Unidos. Com o sucesso dos resultados clínicos a serem desenvolvidos em breve, espera-se que a industrialização em larga escala também se torne realidade. A tese de doutorado de Estudo de sistemas nanocarreadores para o ácido 5-aminolevulínico com aplicação na terapia fotodinâmica foi defendida por Natalia em maio de 2012 na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

Mais informações: (16) 3602-3751

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