FOB e Hospital Amaral Carvalho desenvolvem projeto sobre obesidade mórbida

Equipe realizou 2800 procedimentos odontológicos em cinco anos.

Um amplo projeto com atendimento odontológico e dezenas de estudos científicos com pacientes obesos mórbidos está sendo desenvolvido graças a uma parceria entre a área de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP e o Hospital Amaral Carvalho de Jaú.

Iniciado em 2010, o projeto integra profissionais, professores, pesquisadores e alunos da pós-graduação. A professora da FOB, Silvia Helena de Carvalho Sales Peres, líder do grupo de pesquisa Transtornos alimentares e obesidade- adulto, infantil e bariátrica, revela que os estudos têm apresentado “resultados encorajadores, despertando o interesse da comunidade científica nacional e internacional”.

O grupo de pesquisa desenvolveu sete teses e oito dissertações, quatro trabalhos de conclusão de curso e publicações em periódicos internacionais. Entre auxílios e bolsas foram 10 projetos com apoio Fapesp e mais quatro com apoio CNPq. Além das seis bolsas de Mestrado e quatro de Doutorado Capes, que suportaram a realização dos estudos.

Sales Peres conta também, que são oferecidos a esses pacientes, atendidos pelo SUS, cuidados em saúde bucal no pré e pós-cirurgia bariátrica, minimizando riscos e consequências. “Além de demonstrar por meio de estudos científicos, que boa condição bucal pode contribuir com o resultado final da cirurgia”. A Pós-graduação da FOB avalia, trata e acompanha pacientes candidatos à cirurgia bariátrica referenciados da DIR-6, para o Hospital Amaral Carvalho de Jaú.

Saúde Pública

A obesidade tornou-se um problema de Saúde Pública e segundo o estudo publicado na revista científica Lancet (2014), 2,1 bilhões de pessoas apresentam sobrepeso. No Brasil, pesquisa do Ministério da Saúde (Vigitel 2014) alertou que o excesso de peso já atinge 52,5% da população adulta. Essa taxa, em 2006, era de 43%, o que representa um crescimento de 23% no período. Também preocupa a proporção de pessoas com mais de 18 anos com obesidade, 17,9%, embora este percentual não tenha sofrido alteração nos últimos anos.

A professora lembra que esta doença leva a alteração nos fatores metabólicos e inflamatórios e induz ao aparecimento de problemas crônicos. Caracteriza-se pelo aumento do armazenamento de gordura, acúmulo anormal ou excessivo de gordura sob a forma de tecido adiposo. “Porém, é uma doença complexa, multifatorial, na qual ocorre uma sobreposição de fatores genéticos, comportamentais e ambientais e é de difícil manejo”.

Dentre as comorbidades relacionadas à obesidade, estão diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia, arteriosclerose, artrite, síndrome de apneia do sono, refluxo gastresofágico, infertilidade e incontinência urinária em mulheres, disfunções endócrinas, disfunção da vesícula biliar, problemas pulmonares, alguns tipos de câncer, doença periodontal, falta de habilidade para atividades diária, problemas psicossociais e econômicos.

O tratamento clínico da obesidade pode relacionar diretrizes terapêuticas, como a dieta de restrição calórica, a prática de exercícios físicos e uso de medicamentos. Entretanto, quando esses tratamentos não obtêm sucesso, torna-se necessária uma intervenção mais eficaz por meio do procedimento cirúrgico, denominado cirurgia bariátrica, que é realizado por mecanismo de restrição ou má-absorção dos alimentos ingeridos.

“O paciente submetido à cirurgia bariátrica passa por uma adaptação em suas funções e hábitos alimentares, uma vez que a redução do estomago reduz o espaço para o alimento ingerido e da passagem do alimento pelo trato gastrointestinal. A mastigação adequada favorece a recuperação do paciente minimizando os efeitos adversos do novo perfil alimentar, reduzindo a aspiração de alimentos que leva ao retorno do paciente a um procedimento cirúrgico”, explica.

A obesidade também predispõe o indivíduo a problemas bucais como a doença periodontal, erosão dentária relacionada ao refluxo gastresofágico, cárie dentária e xerostomia. A severidade de obesidade tem sido relacionada à prevalência de doença periodontal, apresentado valores alarmantes em pacientes obesos mórbidos indicados para cirurgia bariátrica. A elaboração de um protocolo de atenção à saúde, envolvendo a saúde bucal, dos pacientes obesos e bariátricos, é essencial para que os profissionais da saúde que tratam estes pacientes possam orientar e encaminhar ao cirurgião-dentista.

Questão global

Outra observação feita pela professora da FOB é que a doença periodontal já não é identificada apenas como um problema de saúde bucal, “mas também uma questão global, uma vez que está associada à saúde sistêmica. Desafio bacteriano contínua na periodontite e leva a infecção crônica de baixo grau que agrava a inflamação em curso em órgãos distantes. A doença periodontal é um processo patológico de caráter inflamatório que atinge os tecidos periodontais tais como a gengiva (gengivite) e ainda pode progredir com processos de destruição das estruturas que suportam os dentes (periodontite) sendo a principal causa de perda total ou parcial de dentes em adultos”.

Em indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica, se o tecido ósseo da maxila e mandíbula for afetado, poderá levar a perda dentária por comprometimento do periodonto de sustentação. Fato este, que “poderá comprometer o resultado da cirurgia, uma vez o paciente não terá capacidade mastigatória adequada, dificultando a sua digestão ou mesmo permitindo a deglutição de alimentos não triturados. Portanto, recomenda-se que o paciente obeso mórbido candidato à cirurgia bariátrica, seja submetido ao tratamento e acompanhamento odontológico, para que problemas bucais não possam prejudicar o resultado final da cirurgia”.

O sedentarismo e dietas pouco saudáveis também são fatores de risco para doenças cardiovasculares, cânceres e diabetes. “Deve-se considerar que a obesidade e alguns problemas bucais têm os mesmos fatores de risco, como os hábitos alimentares. A cárie dentária é uma doença que ocorre como resultado da exposição ao fator de risco dietético, exposição aos açúcares, ao longo da vida. Pequena redução no risco de cárie dentária durante a infância tem significado grande, mais tarde na vida adulta”.

Cárie dentária e doença periodontal são os principais fatores que levam a perda dentária, a qual interfere diretamente na função mastigatória do indivíduo obeso, enfatiza.

Procedimentos odontológicos

Durante o período de 2010-2015, pacientes obesos mórbidos ou obesos de grau II com comorbidades foram atendidos na Clínica da Pós-graduação da FOB, cerca de 850 indivíduos e foram realizados cerca de 2800 procedimentos odontológicos, sob a supervisão da professora Silvia Helena de Carvalho Sales Peres.

A parceria entre universidade e hospitais públicos oferece mais conhecimento aos discentes de mestrado e doutorado da FOB e proporciona mais alívio aos pacientes obesos melhorando a qualidade de vida deles. A professora ressalta que a integração entre ensino e serviço norteada pela atenção integral dos indivíduos é um grande diferencial e acrescenta que o atendimento multiprofissional oferecido aos pacientes concretiza os benefícios.

“Inicialmente muitos pacientes apresentam queixas de dificuldades de relacionamento, no trabalho e na rotina diária, além de problemas bucais. Após a reabilitação oral, de acordo com as necessidades de cada paciente, as funções estéticas, fonéticas e mastigatórias adequadas permitem que os pacientes sejam capazes de realizar as dietas de acordo com o período de pós-cirurgia”. A maior motivação destacada por Sales Peres é o retorno dos pacientes após a realização da cirurgia e a perda de peso, “momento que o paciente tem sua autoestima elevada, melhora na saúde geral e na qualidade de vida”.

Da Assessoria de Comunicação da PUSP-B

Mais informações: (14) 3235-8000, email fob@usp.br

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