Novo método da FMUSP simplifica descoberta da apneia do sono

Sistema identifica intervalo de tempo entre roncos e períodos prolongados sem respiração, que indicam apneia

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Um novo método desenvolvido no Instituto de Física (IF) da USP simplifica o diagnóstico da apneia do sono, distúrbio que é caracterizado por paradas respiratórias durante o sono. A partir dos sons do paciente captados por um gravador, o sistema calcula o Índice de Intervalos Temporais de Ronco (STII), em que os períodos prolongados sem respiração indicam a apneia. A técnica, já utilizada em pesquisas de Fonoaudiologia e Odontologia que visam o controle do distúrbio, é descrita em artigo na revista científica Physica A disponível neste link.

A apneia obstrutiva se caracteriza por obstruções recorrentes da garganta durante o sono. “Se a passagem do ar é interrompida parcialmente, são emitidas vibrações sonoras durante o sono, ou seja, ocorre o ronco”, explica o professor Adriano Alencar, do IF, um dos idealizadores do projeto. “Hoje, a apneia é diagnosticada por meio do exame de polissonografia, que exige a presença do paciente no hospital, onde ele irá dormir ligado a equipamentos que monitoram o corpo inteiro, um processo de custo elevado e que limita a quantidade de exames”

O método foi testado em um grupo de 17 pacientes no Laboratório do Sono da disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), localizado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. Um gravador de áudio profissional era colocado ao lado da cama para registrar todo o período de sono (em média 7 horas). “A gravação de cada paciente foi enviada pela internet para ser processada em um servidor de computador no IF, que fornece a intensidade dos sons emitidos pelo paciente em decibéis”, conta o professor Alencar. “Em seguida, um algoritmo (fórmula matemática usada em computação) identifica as ocorrências de ronco e elabora um gráfico mostrando o intervalo de tempo em segundos de cada uma delas”.

Com base no gráfico, é feito o cálculo do STII e o diagnóstico da apneia do sono. “São considerados todos os intervalos entre roncos que sejam maiores do que 10 segundos e menores que 100 segundos, o que caracteriza parada total da respiração e a apneia”, aponta o professor. Se o intervalo for maior, é necessário verificar o que aconteceu, pois o paciente pode ter mudado de posição na cama ou acordado, voltando a respirar. “Os resultados do STII se correlacionam com os do Índice de Apneia e Hipopneia (IAH), obtido com o uso do polissonígrafo, o que indica a validade do novo método”.

Experimentos

O projeto foi idealizado por Alencar e pelo professor da FMUSP, Geraldo Lorenzi-Filho, coordenador do Laboratório do Sono. Os experimentos tiveram a participação dos alunos de Medicina Diego Greatti Vaz da Silva e Carolina Beatriz Oliveira, bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de André Vieira, professor do IF. Para aperfeiçoar o sistema, os pesquisadores pretendem realizar testes com 200 pacientes, o que será viabilizado com a compra de dois novos gravadores de áudio.

“Esses experimentos servirão para aprimorar a captação de sons do equipamento, além de adaptá-lo para utilização na própria residência do próprio paciente”, diz Alencar. “Os primeiros testes foram realizados no InCor, pois havia a necessidade de comparar os resultados das medições com os da polissonografia”. Um aparelho dedicado, que realiza a gravação e faz o pré-processamento das informações é desenvolvido por Henrique Moriya, do Laboratório de Engenharia Biomédica da Escola Politécnica (Poli) da USP, que supervisiona a parte de eletrônica do projeto.

O método de medição do ronco já é utilizado em outros estudos do Laboratório do Sono e também será adotado para avaliar o impacto de exercícios para a garganta e a língua, em estudo realizado pela fonoaudióloga Vanessa Ieto, na FMUSP, com apoio da Fapesp. Na Faculdade de Odontologia (FO) da USP, a pesquisadora Isabelle Trigueiro defendeu tese de doutorado em que utilizou o sistema para estudar o efeito da próteses de avanço mandibular na redução do ronco em paciente sem dentes. “É um trabalho direcionado para a terceira idade, realizado dentro do projeto Envelhecer Sorrindo, realizado na FO”.

Os resultados dos experimentos são descritos no artigo “Dynamics of Snoring Sounds ans Its Connection with Obstructive Sleep Apnea”, que será publicado na revista científica Physica A e já está disponível na internet. De acordo com pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a apneia do sono atinge 33% da população adulta na cidade de São Paulo. “No futuro, a nova tecnologia poderá ajudar a fazer o diagnóstico do problema na população de forma simples e barata”, conclui Alencar.

Mais informações: (11) 3091-6558, email aalencar@if.usp.br, com Adriano Alencar

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