Pesquisa da FMUSP traz alternativa para sedar crianças em tomografias

Nas últimas décadas, os postos de atendimento de hospitais presenciaram um forte crescimento da execução de exames de tomografia em crianças.

Fernando Pivetti / Agência USP de Notícias

Nas últimas décadas, os postos de atendimento de hospitais presenciaram um forte crescimento da execução de exames de tomografia em crianças. Buscando atingir uma eficácia maior do exame, que exige imobilidade total, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) desenvolveram um método de sedação para crianças, mais eficaz e menos invasivo. O trabalho foi publicado no Journal of Pediatrics, revista de terceiro maior fator de impacto em pediatria do mundo.

A alternativa para o processo de sedação foi encontrada na tese de doutorado do médico Eduardo Mekitarian Filho. “Atualmente o número de pedidos de tomografia é cada vez maior e crianças menores não cooperam para a realização do exame”, comenta o pesquisador. A tomografia é um exame que requer total imobilidade do paciente, “e como a quantidade de radiação emitida é muito alta, o equivalente a 150 raios-X em 2 segundos, o ideal é realizar o exame o mínimo de vezes possível”.

Tradicionalmente, o sedativo utilizado nos hospitais é uma substância que já tinha sido abandonada havia muitos anos em muitos lugares fora do Brasil, o hidrato de cloral. “Trata-se de um sedativo que possui efeitos colaterais e um tempo prolongado de recuperação”, descreve. “Há estudos que mostram, inclusive, efeitos colaterais mais graves, incluindo aspectos cancerígenos”, ressalta. A substância ainda apresentava um incômodo maior, pois era introduzida via anal, por intermédio de uma sonda.

A alternativa proposta no estudo seria a utilização de uma substância chamada Midazolam, injetada pelo nariz da criança, em um processo semelhante ao dos descongestionantes nasais. “É uma forma simples e rápida de aplicação e que até o momento não havia sido estudada”. Segundo Mekitarian, o Midazolam é um sedativo muito utilizado em prontos socorros pediátricos, e possui um tempo de ação mais curto e efeitos colaterais previsíveis.

Durante o período de estudos, 60 crianças menores de 3 anos foram submetidas ao método antes de realizar o exame de tomografia. “Durante o procedimento, eram anotados o horário em que a droga foi injetada, o tempo para a criança dormir, o tempo de realização da tomografia, e o tempo para acordar e ter condição de alta”. Enquanto isso, os sinais vitais, como frequência cardíaca e respiratória, oxigenação e pressão, eram monitorados.

Na introdução do sedativo, era utilizada uma seringa pequena acoplada a um dispositivo, que permite que o líquido injetado saia na forma de pequenas gotas, semelhante a um spray. “Esse modo de introdução é importante pois, quando injetamos no nariz o líquido inteiro, a criança acaba engolindo e não o absorve. E para eficácia do método, é necessário que a droga seja absorvida só no nariz, por isso a transformação em pequenas gotas” explica Mekitarian. A quantidade padrão de líquido inserido era de 0,4 miligramas por quilo (mg/kg) de peso da criança, uma dose maior do que a utilizada quando se insere pela veia, uma vez que a criança engole parte do líquido.

Resultados positivos

Os dados coletados durante a realização dos exames mostraram que o sedativo Midazolam apresenta muitos pontos positivos. Com relação à eficácia da substância, houve uma sedação adequada em 93% dos casos. Os outros 7% foram sedados por outros métodos. Para Mekitarian, essa “é uma taxa de falha de sedação muito aceitável em comparação com outros sedativos”.

No monitoramento da segurança, foi observada uma taxa de 5% de eventos adversos, considerados de risco mínimo. “Das crianças que apresentaram algum comportamento fora do esperado, 3 tiveram uma reação contrária, ou seja, ficaram mais agitados, 1 criança apresentou vômito e 1 criança demorou muito tempo para acordar, mais de 2 horas”. O pesquisador ressalta que, como nenhum evento mais grave, como problemas respiratórios ou cardíacos foram observados, é possível verificar que “é uma droga muito facilmente tolerável, eficaz e de poucos riscos à criança”.

Como o dispositivo acoplado às seringas possui um preço elevado, cerca de R$ 36,00 cada, e é descartável, o procedimento de sedação ainda não foi padronizado. A expectativa é que esse quadro seja revertido, tornando o novo método mais popular nos atendimentos dos hospitais. “Mostramos que existe uma via segura, eficaz, barata, com efeitos colaterais mínimos de sedação e de fácil acesso. O próximo passo é tentar viabilizar o preço do dispositivo”, conclui Mekitarian.

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