Programa da FSP confirma benefícios terapêuticos da meditação

A meditação, apesar da incipiente aceitação no meio acadêmico, angaria adeptos e se coloca como auxiliar em tratamentos convencionais.

“A prática da meditação no Brasil ainda é nova, desconhecida e comporta muitos preconceitos”. É dessa forma que o professor Rubens de Aguiar Maciel entende o contexto da prática foco do Programa de Redução do Estresse, que coordena no Centro de Saúde Geraldo de Paula Souza, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

O conhecimento da meditação chegou ao Ocidente após a invasão do Tibete pela China, o que gerou uma diáspora, levando à dispersão da prática. Os tibetanos praticantes, entretanto, possuem hábitos monásticos, e, dessa forma, há uma aculturação do conhecimento, de forma a tornar-se acessível ao indivíduo urbano, possibilitando que este execute os ensinamentos no seu cotidiano.

Maciel, que é psicólogo com prática em psicanálise, explica que a partir do momento em que começou a ver a abrangência, o alcance e a importância que a meditação pode ter para a saúde pública, resolveu seguir adiante e tentar associá-la às práticas terapêuticas tradicionais, buscando uma aceitação por parte da academia.

Atualmente, mesmo no Ocidente, a prática da meditação, no âmbito da saúde pública, é de grande importância, uma vez que restabelece a saúde de uma maneira rápida, barata e autoadministrável, explica Maciel. Ele aponta para os dados de que praticantes de meditação há quatro anos ou mais reduzem em mais de 70% a ida ao sistema de saúde e em mais de 80% a ida ao sistema de saúde mental.

Praticantes de meditação há quatro anos ou mais reduzem em mais de 70% a ida ao sistema de saúde.

O professor ressalta, entretanto, que a prática não funciona através de uma busca objetiva de resultados, em que uma pessoa inicia a meditação com um propósito de cura definido e alcança esse resultado como uma consequência lógica de ações.

Na meditação, uma das principais propostas é a de apresentar uma postura de curiosidade e de aceitação para com o mundo mental particular de cada um. Que seja possível olhar pra dentro de si sem receios, sem críticas, sem julgamentos e sem racionalizações. Nesse momento há um acesso direto ao mundo mental, sem intermediários, o que possibilita uma abertura e aceitação.

Assim, a meditação pode ser praticada por todas as pessoas, especialmente quando se tem que a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 90% da população ocidental vive em uma condição de estresse, sendo esta a condição normal dessas pessoas. Isso, conforme o professor, gera um desequilíbrio para a saúde e o bem-estar e, assim, a meditação poderia entrar como um meio de se promover o conhecimento de si diante dessas condições não ideais nas quais esses indivíduos se encontram. Questões como “quais os meus valores?”, “como eu estou vivendo?”, “quem sou eu?” e “como é que eu me identifico?” seriam mais bem trabalhadas e conduziriam o praticante a uma melhora na sua qualidade de vida.

Tatiana Aoki Cavalcanti, praticante há mais de cinco meses, apóia a fala do professor. Para ela, mesmo nesse pouco tempo, não há uma mudança muito clara igual a um remédio, que se toma e se obtém um resultado rápido, mas que, mesmo não imediatas, as mudanças acontecem. “Eu mudei muito”, sintetiza.

Já para Paulo Roberto Navarrette, praticante também há cinco meses, as mudanças foram ainda mais expressivas: “hoje tenho um controle maior, não sou explosivo, eu estourava muito. Eu me senti senti diferente, bem diferente, a partir do momento em que eu passei a praticar a meditação. Senti-me mais calmo e tenho um sono melhor.”

Para Rubens Maciel, a meditação pode ser entendida como uma prática de medicina complementar. Ele acredita que, assim como a medicina chinesa e a ayurvédica (milenar conhecimento médico indiano), que começaram a entrar no Brasil e no Ocidente há algumas décadas e hoje ganharam terreno e confiabilidade, as práticas meditativas caminham para a sua aceitação.

Além disso, considera importante o fato de a técnica ir de encontro ao sistema ancorado pela indústria farmacêutica, em que alguns desequilíbrios e disfunções (estresse, ansiedade, transtorno do déficit de atenção) levam à administração de inúmeros remédios. “É uma abordagem que interessa apenas ao sistema da indústria farmacêutica, com uma visão extremamente reduzida da pessoa”, conclui.

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