Questões ligadas à aids ainda são um tabu na área da saúde

Estudo realizado na FFCLRP indicou que uitos profissionais estão despreparados para lidar com a temática da doença e com os pacientes.

Ana Paula Souza / Agência USP de Notícias

Estudo elaborado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) mostra que muitos profissionais da área da saúde não têm preparo suficiente para trabalhar com situações que envolvam a temática da aids. De autoria da pesquisadora Cíntia Yuri, a dissertação de mestrado mostra que as principais dificuldades estão no momento de comunicar o diagnóstico e de abordar assuntos como as possíveis formas de contágio por HIV. Além disso, a pesquisa revela também que crenças equivocadas acerca da doença ainda são persistentes entre a população e que o cuidado no âmbito doméstico também requer atenção.

Intitulado Sentidos atribuídos por adultos com HIV/AIDS à doença e ao cuidado que recebem de familiares, o estudo aponta que muitos médicos, enfermeiros, entre outros profissionais, têm grande dificuldade para abordar assuntos considerados polêmicos sobre a doença, como o contágio por relações sexuais. Isso acontece porque, muitas vezes, na formação acadêmica desses profissionais, há uma ênfase aos aspectos técnicos em detrimento dos elementos de ordem subjetiva, dificultando a incorporação de processos que digam respeito, por exemplo, à sexualidade. Para Cíntia, é importante incorporar temas dessa natureza no processo de formação e atuação dos profissionais de saúde, para que eles possam ter uma melhor convivência com seus medos e, inclusive, preconceitos.

Estratégias educativas

Outro problema apresentado pela pesquisa diz respeito ao fato de que, apesar da existência de programas específicos do governo brasileiro para a difusão de informações sobre a doença, ainda persistem as crenças de que o vírus pode ser transmitido por meio de objetos de uso pessoal — como sabonete, toalha, assento sanitário, copos e talheres —, do contato pessoal — como abraço e beijo — e até picadas de insetos. “Isso nos fez pensar que as estratégias educativas utilizadas para a conscientização e prevenção da doença precisam ser revistas e não devem visar somente ao diagnóstico precoce, mas também difundir o conhecimento sobre a doença e a desconstrução dos estigmas a ela atrelados, de modo que alcance todas as classes populares, e, em especial, as marginalizadas”, afirma Cíntia.

Em relação ao cuidado doméstico, a pesquisadora considera importante ponderar que a mudança no perfil sociodemográfico da população, caracterizando o envelhecimento da mesma, trará novas demandas de cuidado para esses pacientes e para a população em geral, sobrecarregando os serviços de saúde pública brasileira. Como consequência, existe uma tendência de aumento das funções assistenciais das famílias no cuidado de seus membros, ao mesmo tempo em que o Estado deve investir na elaboração de políticas públicas que considerem as famílias e suas necessidades.

Todo o estudo, incluindo a elaboração do material escrito, foi realizado entre agosto de 2011 e janeiro de 2014. Foi organizado um questionário para a realização de entrevistas individuais com pessoas soropositivas, por meio das quais procurou-se analisar os sentidos que elas atribuem às suas vivências e as vozes do coletivo, uma vez que a fala condensa representações socialmente partilhadas sobre a doença. Poderiam participar do estudo adultos com HIV/aids de ambos os sexos, acima de 18 anos, sintomáticos havia pelo menos seis meses, que eram usuários da rede pública de saúde e pertencentes às classes populares. “Buscando homogeneizar a amostra e minimizar as possíveis diferenças relativas ao sexo e à idade, distribuímos de forma igualitária os participantes por sexo e estabelecemos grupos etários para a seleção dos mesmos. Ao todo, a pesquisa envolveu entrevistas com 13 pessoas, e os depoimentos foram colhidos na Unidade Especial de Tratamento de Doenças Infectocontagiosas do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e uma ONG/aids tidos como referência regional para o tratamento de pessoas com HIV/aids”, conta a pesquisadora.

O estudo foi concebido dentro do grupo de pesquisa e extensão universitária do Programa de Atendimento Psicossocial (PAPSI), coordenado pelo professor Marco Antonio de Castro Figueiredo, do Departamento de Psicologia da FFCLRP.

Mais informações: email cintiacysb@yahoo.com.br

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