Ambiente interfere no investimento estrangeiro direto, afirma estudo da Esalq

Burocracia, corrupção e falta de direitos de propriedade dificultam as relações bilaterais.

Caio Albuquerque / Assessoria de Comunicação da Esalq

O investimento estrangeiro direto (IED) é reconhecidamente um fluxo muito importante, não só por ser uma maneira saudável de financiar o balanço de pagamentos de países emergentes mas também por ser um elemento favorável ao desenvolvimento econômico dos países receptores por meio de transferências de tecnologias. “No Brasil, a importância desse tipo de investimento tem recebido maior importância devido a conjuntura da economia mundial em que existe escassez de financiamento externo ao déficit em conta corrente”, comenta o economista Daniel Valladares Weeks, autor de um estudo intitulado Determinantes do investimento estrangeiro direto bilateral: uma abordagem do ambiente de negócios.

Desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, o trabalho procurou aumentar a compreensão sobre os fatores determinantes dos fluxos de IED entre os países, trazendo à tona uma abordagem que foca no ambiente de negócios dos países receptores. A pesquisa, que teve orientação de Roberto Arruda de Souza Lima, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, foi realizada a partir de métodos econométricos utilizando dados do fluxo de IED bilateral entre 30 países de origem e 46 países de destino.

Os resultados mostram que, além do tamanho das economias, a distância entre elas e a presença de fatores culturais comuns (mesmo idioma, relação de ex-colônia), os fatores relacionados ao ambiente de negócios são fundamentais para a determinação dos investimentos diretos entre os países. “Exemplos desses fatores seriam a presença de burocracia, corrupção, falta de direitos de propriedade, restrição a investimentos estrangeiros”, conta Weeks.

O estudo utilizou o Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation como índice que mede a qualidade do ambiente de negócios e, entre os 46 países receptores de IED utilizados no trabalho, o Brasil encontrava-se na 39ª posição em 2012. “Entre os principais países da América Latina, o Brasil encontrava-se atrás de México, Peru, Chile e Colômbia, mas à frente de Argentina e Venezuela”, destaca o autor.

Melhora do ambiente

A pesquisa teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e aponta que a melhora desses indicadores passa pela diminuição tanto da burocracia como dos custos na condução dos negócios, e pelo aumento das garantias à liberdade de investimento e de negócios no país. “Essas ações resultariam em efeito positivo na atração de investimentos estrangeiros direto, além de outros benefícios diretos à economia. A atração de IED é desejável pelos seus efeitos sobre o desenvolvimento econômico a partir da transferência de tecnologia e aumento dos investimentos, assim como um financiamento mais estável do balanço de pagamentos.”

Weeks reforça ainda que, na comparação mundial desses aspectos relacionados ao ambiente de negócios, a economia brasileira encontra-se em situação de menor desenvolvimento relativo. “Uma vez que o país mantém-se como o um grande alvo de IED, é dada pouca importância em relação aos fatores relativos ao ambiente de negócios como propulsores desse tipo de investimento. Em outras palavras, existe o incentivo à complacência com as condições ruins do ambiente de negócios.”

Para o pesquisador, esta discussão torna-se mais relevante nas circunstâncias atuais, onde a busca de novos propulsores de crescimento econômico e fontes de financiamento para o desenvolvimento da economia doméstica frente a um cenário internacional mais desafiador assumem posição de destaque no debate econômico. “Para o cenário brasileiro, as reformas microeconômicas deveriam focar em melhorar seus indicadores relacionados ao ambiente de negócios, tendo um enorme potencial de aumentar os fluxos desse tipo de investimento internacional”.

Mais informações: email dvweeks@gmail.com, com Daniel Valladares Weeks

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