O Brasil registrou em 2015 um aumento no índice que mede a concentração de renda. Pesquisadores da USP comentaram o dado
Os jornais destacaram que, em 2015, o Brasil teve a primeira alta da desigualdade registrada no País no século XXI. O aumento foi verificado pelo índice de Gini, que cresceu 0,008 ponto no quarto trimestre de 2015 em relação ao mesmo período de 2015, segundo o cálculo de Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas, ex-presidente do Ipea e ex-ministro da Secretaria de Assunto Estratégicos
A alta rompe com a sequência de resultados de queda do índice de Gini que marcou os últimos 15 anos. No entanto, para Marta Arretche, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole, o dado aponta mais para uma situação de estabilidade da desigualdade do que para um quadro de aumento significativo.
O índice de Gini é usado para medir a concentração de renda. A medida vai de zero a um – sendo um o equivalente a uma distribuição de renda totalmente igualitária, e o zero, uma situação hipotética na qual apenas uma pessoa, ou um grupo muito pequeno de pessoas, concentram toda a renda da sociedade em que vivem.
O cálculo é feito a partir do total da renda da sociedade que se pretende analisar, como explica Rogério Barbosa, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole e doutorando em Sociologia pela USP.
No Brasil, o índice de Gini é calculado a partir dos dados da PNAD – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. A pesquisa é realizada pelo IBGE desde a década de 1970.
Barbosa afirma que, devido às mudanças metodológicas pelas quais a PNAD passou ao longo dos anos – incluindo tanto a forma de coleta das informações quanto a população-alvo, é difícil estabelecer uma comparação histórica das oscilações do índice de Gini.
Os dados mais recentes da PNAD Contínua, divulgados na semana passada, indicam que, no trimestre que acabou em janeiro, houve aumento da taxa de desemprego, que chegou a 9,5%, e uma queda de 2,4% no rendimento médio dos trabalhadores brasileiros, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Marta Arretche destaca que é importante desagregar esses indicadores para entender quem mais perde na atual crise econômica.
Segundo a professora, políticas como o Bolsa Família e a correção do salário mínimo pela inflação protegem os mais pobres e menos escolarizados dos efeitos mais perversos da crise.
Silvana Salles / Núcleo de Divulgação Científica da USP